Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 18 de outubro de 2008

Amigos, Amigos, Mulheres à Parte

“Amigos, Amigos, Mulheres à Parte” chega aos cinemas sem maiores expectativas. A comédia romântica estrelada por Kate Hudson, Dane Cook e Jason Biggs foge de alguns melindres do gênero e deve agradar aos que procuram uma comédia despretensiosa.

Tank (Dane Cook) é um verdadeiro cafajeste daqueles que tratam as mulheres com desprezo e como objetos tanto para conseguirem uma transa quanto para afastá-las. Trabalhando durante o dia para um serviço de atendimento ao cliente, nas horas vagas ele se torna uma espécie de Hitch às avessas. O objetivo continua sendo juntar duas almas apaixonadas, mas, ao invés de dar dicas amorosas ao conquistador, ele prefere usar toda a sua capacidade de ser um babaca. Ex-namorados o contratam para sair em encontros com suas garotas e ele faz de tudo para elas perceberem que não há homem melhor no mundo que aquele que elas deixaram.

A trama do longa tem início quando o amigo e colega de apartamento de Tank, Dustin (Jason Biggs), o contrata para trazer de volta a garota de seus sonhos: sua colega de trabalho Alexis (Kate Hudson). Os problemas começam quando ela vê no anticupido sua chance de aproveitar mais a vida, o que inclui muito sexo e nenhum compromisso.

“Amigos, Amigos, Mulheres à Parte” é um caso raro nas comédias que chegaram aos cinemas nos últimos anos. Ao contrário da grande maioria das produções em que os trailers vinham recheados com as melhores piadas do longa, este guardou as suas para a sessão propriamente dita. O trailer exibido dublado nas salas brasileiras anunciava uma bomba. O espectador se surpreenderá ao perceber que as gags previamente exibidas são melhores e realmente engraçadas em seu contexto.

É bom avisar aos menos atentos que, apesar dos disfarces, este exemplar ainda é uma comédia romântica, ou seja, ele utilizará de todos os artifícios já conhecidos para narrar uma história contada trilhões de vezes apenas com personagens diferentes. Os amantes do gênero apreciarão. Vamos aos disfarces: em primeiro lugar, a comédia prevalece sobre o romance. Estamos acostumados a ver mocinhas chorosas desesperadas pelo príncipe encantado. Em “Amigos, Amigos, Mulheres à Parte”, vemos Kate Hudson sendo alvo de desejo de um panaca do escritório (Biggs no seu eterno papel) que sonha com a mulher da sua vida, mas não consegue mais ação do que uma caixa de vídeos eróticos.

Aí entra outro ponto: os diálogos são muitas vezes chulos e carregados de sacanagem aproximando-se mais das comédias adolescentes. É certo que, ao contrário de filmes como “American Pie”, não há apelação e cenas como a do stripclub não são sentidas graças ao trabalho dos atores e ao roteiro. Momentos constrangedores de lado, impossível não dar boas risadas.

O último artifício usado para mascarar a fórmula está no roteiro. Até determinado momento do filme fica difícil saber quem é realmente o mocinho do filme e quem vai ganhar o coração da bela Alexis. Mesmo o espectador deve ficar dividido na torcida. Independente disso, Cook brilha como Tank. Dos momentos mais cafajestes aos mais românticos (vide a cena em que chora assistindo a “Ghost – Do Outro Lado da Vida”), ele não perde o compasso e é sem dúvidas o personagem mais engraçado.

Biggs não faz nada de diferente e Hudson, apesar da química com Cook, é outra que já esteve melhor ao lado de outros pares. No elenco, ainda temos a pequena, porém grandiosa, participação de Alec Baldwin que vem se mostrando um excelente comediante consagrado pela série “30 Rock”.

O diretor de “Meu Vizinho Mafioso” imprime um bom ritmo com a ajuda da edição de Seth Flaum e a canção tema da banda americana The Cars, sucesso nos anos 70 e 80, “My Best Friend’s Girl” (nome também da produção no título original) que acompanha algumas cenas. Sem maiores pretensões, “Amigos, Amigos, Mulheres à Parte” pode acabar conquistando aqueles que forem ao cinema para uma diversão leve e sem compromisso.

Igor Vieira
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