Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 19 de outubro de 2008

Corrida Mortal

Baseado em um filme do rei supremo do trash Roger Corman e comandado pelo tecnicamente suportável Paul W.S. Anderson, "Corrida Mortal" desaponta por não ser "B" o suficiente, sendo apenas mais um exemplar de filme de ação no mercado.

Ao subirem os créditos deste "Corrida Mortal", minha grande dúvida era o que diabos Jason Statham e Joan Allen estavam fazendo neste filme. Sim, pois, fora a presença dos dois ali, não havia nada que justificasse que um filme tão fraco fosse exibido nos cinemas. Esta refilmagem de "Corrida da Morte – Ano 2000", clássico trash de Roger Corman, não tem o charme kitsch do original, nem as performaces divertidamente exageradas e marcantes de David Carradine e Sylvester Stallone, sendo apenas um filme de ação abaixo da média que desperdiça alguns bons atores em seu elenco.

O filme começa mostrando os EUA em um futuro próximo, durante uma recessão econômica (mera coincidência). Em uma cidade comum, tentando sobreviver, está o pai de família Jensen Ames (Statham), um ex-piloto que vive financeiramente aos trancos e barrancos, mas que encontra a felicidade junto a sua esposa e filha. No entanto, tal felicidade chega ao fim quando sua mulher é morta e ele é incriminado pelo assassinato. Preso e condenado, Ames é jogado na prisão Terminal, comandada com mão-de-ferro pela diretora Hennessey (Allen).

Lá, é oferecido ao pobre diabo um acordo para correr na tal "Corrida Mortal", assumindo a identidade do falecido e carismático piloto Frankenstein, cujas deformidades o obrigavam a usar uma máscara. As regras são simples na competição: matar ou morrer. Em sua equipe, Ames conta com a ajuda da navegadora Case (Natalie Martinez) e dos seus mecânicos, liderados pelo homem conhecido apenas como Treinador (Ian McShane). Correndo contra diversos e perigosos adversários, nosso protagonista poderá ganhar sua merecida liberdade, se sobreviver.

Existem vários problemas em "Corrida Mortal", tanto de estilo, quanto de narrativa. Embora o diretor Paul W.S. Anderson seja um grande adepto do "arroz com feijão", ele parece ter errado a receita aqui. Em um filme como esse, quanto mais, melhor. Ou seja, sangue, violência e sexo, devidamente dosados, devem aparecer para anestesiar o espectador dos furos do roteiro, sempre com atuações sobrecarregadas, com os atores e o diretor sabendo levar o filme na brincadeira. O que temos na tela é Anderson acreditando realmente que um remake de um filme do rei da bagaceira Roger Corman deve ser conduzido de maneira séria, não colocando nojeira nem mulheres o suficiente para classificar o filme como um bom trash.

Só isso explica o pano-de-fundo excessivamente sentimentalista do nosso protagonista e a seriedade com que Statham encarna o personagem. Em contrapartida, o carisma natural do ator acaba sobressaindo na maioria das cenas (como geralmente acontece nos filmes em que ele participa). No entanto, a grande inimiga do herói, personificada por Joan Allen, é um acerto. Allen cria a sua gélida Hennessey como uma ótima e perfeita vilã, parecendo uma versão exagerada e botoxada de uma personagem da série de TV "Oz", sempre com um capanga sádico do lado – o que é extremamente adequado para o longa. Cabe aqui um pequeno comentário sobre a aparência da atriz. Se em "O Ultimato Bourne" ela exalava uma beleza madura bastante atraente, aqui ela aparece exageradamente esticada!

Continuando no lado negro da força, os outros detentos são pouco explorados, não sobrando tempo para que o público os odeie como devemos odiar os bons vilões. Assim, não sentimos nada com suas mortes (que, aliás, não são muito divertidas). Além disso, os carros dos competidores são todos muito parecidos, o que dificulta uma identificação maior durante as três provas que acontecem no filme. Aliás, as corridas são todas muito rápidas e sem emoção. Várias idéias bacanas, como os pontos de ativação das armas (saídos diretamente do game "Mario Kart") são desperdiçadas, o que é uma pena.

Anderson ainda mostra que não sabe como conduzir bem uma história. Em determinado ponto, o frágil Listas é surrado violentamente por um grupo de detentos, aparecendo pouco tempo depois sem nenhum arranhão. Além disso, em outro trecho da fita, é dito que o herói e sua equipe têm 14 horas para consertar o seu acabado carro, um prazo curtíssimo. No entanto, o filme esquece tal urgência, colocando diálogos banais entre o grupo neste meio-tempo.

Do elenco de apoio, os únicos que se salvam são o eficiente Ian McShane, como o experiente Treinador, e Frederick Koehler, como o meio ausente Listas. Tyrese Gibson como Joe Metralhadora, o maior rival do falecido Frankenstein, simplesmente não convence. Apesar de seu personagem ter uma característica interessante, se cortando a cada morte que provoca nas pistas, Gibson não possui uma presença de cena forte o bastante para impor respeito, principalmente com Joe sendo tão pobremente desenvolvido.

Já Natalie Martinez como Case tem apenas uma função em cena: ser gostosa. E até que consegue, mas acho que o diretor podia ter arrumado uma atriz/modelo um pouco mais interessante e com menos cara de pôster – ou fazer com que Martinez aparecesse com menos roupa. O restante do elenco, por sua vez, pouco têm a fazer na tela a não ser morrer.

Contando com uma fotografia até interessante, mas com uma edição extremamente confusa, "Corrida Mortal" pode ser classificado como o típico filme de ação que mais parece um clipe de rap da MTV, devendo decepcionar e muito os fãs do original.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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