Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 19 de julho de 2008

Ilha da Imaginação, A

Tendo a infelicidade de estrear junto com "Batman - O Cavaleiro das Trevas", "A Ilha da Imaginação" aparece de forma mais modesta nos cinemas, mas não com menos mérito. O longa traz um elenco competente e uma história que se destaca pela simplicidade. É um filme agradável e uma ótima opção para a família toda.

Na trama, Nim (Abigail Breslin) é uma garotinha de 11 anos que mora em uma ilha secreta com o pai Jack (Gerard Butler), um biólogo marinho. A mãe de Nim, segundo consta na narração inicial do longa, foi engolida por uma baleia enquanto averiguava o que esse animal possuía no interior da boca. Mesmo isolados, Nim e Jack têm uma vida pacata, sempre recebendo suprimentos que vêm acompanhados de livros e jornais. Além disso, eles também usam a internet como forma de comunicação, já que Jack é um especialista famoso e vive sendo contactado por e-mail.

Nim passa boa parte de seu tempo brincando com seus animais de estimação – dentre eles uma foca incrivelmente simpática – e lendo grandes aventuras, como do herói Alex Rover (também vivido por Butler), escrito pela agorafóbica Alexandra Rover (Jodie Foster). Em constante dificuldade criativa, Alexandra contacta Jack por e-mail, mas quem responde é Nim, já que o pai saiu em busca de um novo tipo de espécie marinha. Enquanto espera o retorno do pai, Nim passa por algumas aventuras para proteger a ilha onde vive e terá que contar com o apoio da escritora, já que Jack parece não retornar mais.

A história roteirizada por Jennifer Flackett, Joseph Kwong, Mark Levin e Paula Mazur fica prejudicada inicialmente pela tradução nacional. "Nim's Island" (A Ilha de Nim), no original, virou "A Ilha da Imaginação". O nome não bate diretamente com o propósito da trama. A imaginação do título se refere aos constantes diálogos imaginários de Alexandra com o herói Alex Rover, mas que se passam, em sua maior parte, antes da escritora chegar à ilha de Nim. Enquanto está sozinha, a garotinha defende o território de magnatas que se utilizam da praia para passar férias e poluir o ambiente, enquanto vê seu pai não retornar de uma viagem após uma terrível tempestade.

Mesmo com os problemas de sempre das traduções de título indevidas, o longa agrada. O trio de protagonistas se completa dentro da trama. Nim é uma guerreira, que ama a natureza e aprende com ela. Ela está em crescimento e precisa aprender a ter coragem, principalmente na ausência do pai. Jack é a força motriz da filha, visto que a cria sozinho em uma ilha, sendo aparentemente mais fácil do que em uma cidade civilizada, porém depois verificamos que não é.

A escritora Alexandra é uma agorafóbica, que tem aversão a tudo que é externo à sua casa. Ela escreve sobre um herói que vive aventuras incríveis como forma de compensar seu medo de viver. E o mais interessante: ela acredita mais do que ninguém no personagem que escreve, dando o gancho para ela travar diálogos imaginários com a representação de Alex Rover. A relação entre eles é um dos trunfos do roteiro. Os dois compartilham diálogos deliciosos e divertidos e acabam fazendo com que Alexandra abra mão de seus temores para ajudar Nim.

Cada personagem tem a contribuição magnífica de seus intérpretes. Abigail Breslin praticamente carrega a maior parte do filme sozinha. Ela possui uma grande interação com a natureza, principalmente com seus amigos-bichos. A foca, que em alguns momentos é o porto-seguro da garota e, talvez, um segundo pai ou mãe, dá um show de graciosidade, seja dançando na fogueira ou irritando os invasores. Breslin tem grande talento para medir o psicológico de seus personagens, como já foi visto em "Pequena Miss Sunshine" e "Três Vezes Amor". O mais importante na interpretação da garota é como ela acredita nas motivações de sua personagem, em momento algum se abstendo disso e impulsionando suas emoções. É tanto que as cenas mais dramáticas sempre funcionam, bem como aquelas mais leves.

Gerard Butler adquire o carisma e a sensibilidade inexistente em "300" e já presente em "P.S. Eu Te Amo". Seja como Jack ou como Alex, Butler tem facilidade em proporcionar dimensões fantasiosas ao projeto, mostrando sua versatilidade. Suas cenas em alto mar são críveis, a não ser quando a intenção da produção é se distanciar do realismo e aguçar a fantasia. Já a atriz Jodie Foster impressiona pela facilidade com que trabalha com o humor. Beirando a um ataque de nervos, seus tiques e temores são bem desenvolvidos e, por mais caricatos que possam ser, ganham credibilidade pelo talento da atriz. Butler e Foster dividem momentos imaginários que soam com naturalidade e diversão, sem agredir a inteligência do espectador.

A direção de Jennifer Flackett e Mark Levin tem grande liberdade criativa. Ao mesmo tempo em que eles não inovam muito em uma linguagem de fantasia/aventura, eles são criativos e versáteis desde o início. Logo na primeira seqüência, os diretores se utilizam de efeitos visuais e gráficos que dão um diferencial ao longa, sendo bem empregados. Quando trabalham com o elenco, eles exploram o potencial de cada ator, sem nunca deixar a história perder a motivação. Eles ainda conseguem ter êxito para criar personagens secundários e simpáticos, como a já citada foca e o lagarto Fred, bem como o pelicano Galileu.

A completa visão do resultado final da produção facilitou aos realizadores a criar uma história simples, porém carismática. No começo da projeção até me importei com o fato de o filme ter chegado somente dublado no Brasil, mas o longa tem seus vários méritos e se enquadra entre as produções nem infantis ou adultas demais, agradando qualquer um que se entregue à leveza desta história. Recomendado!

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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