Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 28 de junho de 2008

Jogo de Amor em Las Vegas

Hollywood vive o constante cansaço de comédias românticas iguais. Elas estão sempre destaque nas bilheterias e geralmente agradam o público que busca apenas entretenimento. "Jogo de Amor em Las Vegas" se encaixa nessa lista de filmes clichês, mas se destaca pelo alto carisma dos protagonistas e por causar diversos momentos realmente divertidos.

Assim como eu, muitos devem achar que a maioria das piadas de "Jogo de Amor em Las Vegas" está no trailer que foi exibido incansavelmente durante as sessões de praticamente todos os filmes em cartaz. O fato é que isso não ocorre. Desde o início, já sabemos como o casal em crise vai terminar, mas o que diferencia o longa de outros do gênero é justamente o teor cômico de Ashton Kutcher e Cameron Diaz, seja juntos ou separados. Eles são os responsáveis por transformar a escatologia de diversos momentos do filme em motivo de graça, coisa que a maioria das comédias românticas se utiliza sem sucesso. Se é para exagerar na história, pois que o roteirista saiba como trabalhar o exagero, para que ele não provoque reações contrárias às suas intenções.

Na trama, Jack (Kutcher) trabalha com o pai e nas horas vagas aproveita o que há de bom da vida mundana. Porém, a vida dele muda quando é demitido e fica sem arrasado. Joy (Diaz) é uma mulher hiper-ativa que adora agradar os outros. Enquanto ela prepara o aniversário surpresa de seu namorado, ele simplesmente decide terminar o relacionamento. Para curar as mágoas, Joy e sua amiga Tipper (Lake Bell) decidem ir a Las Vegas; mesmo destino escolhido por Jack e seu amigo Hater (Rob Corddry).

Então, por ironia ou não do destino, os dois casais se encontram no hotel onde se hospedam, e logo decidem ir curtir a noite. Depois de tomarem um porre juntos, Jack e Joy se casam e acordam preocupados com as atitudes da noite anterior. Com suas personalidades diferentes, eles se desentendem e optam pelo cancelamento do casório. O que agrava a disputa é quando eles ganham três milhões de dólares em uma máquina de jogo e pretendem fazer de tudo para ficar com o dinheiro. Ao irem ao tribunal, o juiz sentencia o casal a seis meses de convivência matrimonial forçada e só assim o dinheiro será liberado para eles decidirem o que fazer.

O casal se odeia no começo por terem serem diferentes negam até o final que se sentem atraídos um pelo outro. A guerra dos sexos começa e eles passam por muitas situações inusitadas até que finalmente se entendem. Não é nenhum spoiler do filme, já que o trailer deixa isso claro. O que realmente dá a “Jogo de Amor em Las Vegas” o crédito de ser uma bom entretenimento é a facilidade com que Diaz e Kutcher tem em causar o riso. A loira conquistou a simpatia de muitos espectadores com várias comédias no currículo, como “As Panteras”, “O Casamento do Meu Melhor Amigo” e o ótimo “O Amor Não Tira Férias”, enquanto Kutcher continua sendo um daqueles atores não tão adorados pelos críticos, mas que enlouquecem as fãs. De qualquer maneira, fato é que neste filme os dois estão em ótima forma (não só física, diga-se de passagem) e fica impossível não se divertir com a trama.

O roteiro de Dana Fox é simples e investe em protagonistas sem escrúpulos. O escracho de Jack e Joy permite qualquer aceitação, até mesmo quando eles correm léguas batendo um no outro para chegar à reunião da terapia de casal, por exemplo. O que em qualquer outro filme seria mais fácil de ficar ridículo, ganha um teor mais descontraído do que estético. Aliás, o diretor Tom Vaughan acerta ao não deixar o ritmo do filme cair, sempre trazendo mais situações curiosas de ver em tela. Quem nunca passou por perrengues semelhantes que atire a primeira pedra! Jack e Joy são duas pessoas palpáveis, esquecendo aquele mito de que o príncipe encantado sempre casa com a princesa no final. Não, neste filme um homem e uma mulher que não se conhecem têm a oportunidade de se conhecer, passam por loucuras e uma terrível guerra dos sexos.

O diretor também acerta no timing que deveria tirar de seus atores, principalmente do elenco secundário. A maravilhosa Queen Latifah não tem muito a fazer, restringindo-se a uma participação curta, mas ainda assim é sempre bom ver seu talento em cena. Quem realmente tem o destaque merecido são Lake Bell e Rob Corddry como os amigos dos protagonistas. Bell na pele de Tipper compensa com o Hater de Corddy outra fatia da comédia. Os personagens estão em constante conflito e aparentemente sem motivos, rendendo ótimos momentos, principalmente quando descobrimos o porquê de tanta desavença. A atuação do casal foge do convencional onde os coadjuvantes estão apenas para preencher espaço na película.

“Jogo de Amor em Las Vegas” desmistifica a idéia de que “o que acontece em Las Vegas, permanece em Las Vegas” e transporta o público à vida de personagens desajustados que, por isso mesmo, dão certo. É impossível não rir de suas peripécias ou se divertir torcendo para que os dois acabem bem no final. Sem destaque para apuro técnico, o longa compensa pela graciosidade. Vale a pena conferir!

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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