Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 25 de maio de 2008

Crônicas de Nárnia: Príncipe Caspian, As

Apesar de superior ao primeiro filme da série, "As Crônicas de Nárnia - Príncipe Caspian" não faz mais do que o esperado e, por isso mesmo, não agrada por completo. É comum demais.

O primeiro filme da série "As Crônicas de Nárnia" deixou claro que a Disney não foi feita para realizar filmes de guerra. A história dos irmãos Pevensie já começa de maneira trágica, com as quatro crianças sendo obrigadas a fugir da Inglaterra devido à Segunda Guerra Mundial. Ao entrar no fantástico mundo de Nárnia, eles aprendem que estão destinados a salvar um povo inteiro da maldição gelada de uma feiticeira cruel e assim o fazem, em uma batalha amenizada.

"As Crônicas de Nárnia – Príncipe Caspian" é mais maduro. Lúcia, Edmundo, Pedro e Susana cresceram, voltaram para a Inglaterra e sofrem para deixar no passado os anos que passaram governando Nárnia. O país também mudou. Após a saída das crianças, Nárnia foi dominada por telmarinos, um povo de origens piratas. Os habitantes da terra encantada, como animais falantes, anões e minotauros, tornaram-se lendas e os bosques temidos.

É no cenário de tirania que os Pevensie retornam. Com o nascimento de um novo herdeiro telmarino, a vida do Príncipe Caspian está em perigo. Ameaçado, o jovem sopra a trompa mágica que era de Susana e convoca os antigos reis e rainhas de Nárnia. Juntos eles precisam libertar o povo narniano da tirania telmarina e garantir a ascensão de Caspian ao trono.

A Disney, sem dúvida, mudou. Não há mais receios em mostrar personagens morrendo em batalhas e em explorar a escuridão de um conto medieval. "As Crônicas de Nárnia – Príncipe Caspian" é mais ousado, mas ainda não alcança o patamar de produções semelhantes. Preocupados em responder às críticas de que o primeiro filme não trabalhava as cenas de batalhas com competência, a seqüência abusa dos golpes de espada, tiros com flechas e catapultas, mas deixou de lado a construção dos personagens.

Após décadas comandando um país, há uma certa dificuldade em retornar à Londres e se tornarem crianças. Pedro e Susana até chegam a demonstrar essa relutância, mas não há muito espaço para aprofundamentos. É o caso também do Príncipe do título, com a personalidade apenas pincelada pelo roteiro.

Ainda longe da qualidade de "O Senhor dos Anéis", "As Crônicas de Nárnia" de fato tem cenas caprichadas para demonstrar a guerra entre narnianos e talmarinos. Visualmente as seqüências agradam, mas não impressionam. Falta um trabalho de iluminação mais eficiente para transformar uma guerra em um pesadelo para o espectador e a vitória ou a derrota em momentos únicos. Peter Jackson conseguiu transmitir a sensação de destruição plena com o uso de cores e sombras, falta ao diretor Andrew Adamson essa visão.

Os livros, escritos por C.S. Lewis, são itens importantes da literatura de fantasia. O autor conseguiu explorar metáforas religiosas com a delicadeza de um verdadeiro contador de histórias. Sob o comando dos estúdios Disney, é engraçado notar que o efeito não é o mesmo. A história de reis e rainhas, de animais fantásticos e batalhas incríveis perde o brilho e é apagada por problemas técnicos, por uma ligeira falta de visão.

Tudo em "Príncipe Caspian" é satisfatório, mas pouco impressionante. Apesar de ousar um pouco mais do que no primeiro filme, ainda falta, e muito, para que a série "As Crônicas de Nárnia" entre para a lista de grandes épicos e se torne parte memorável da história do cinema.

Lais Cattassini
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