Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 11 de maio de 2008

Speed Racer

Completamente divertido e bem produzido, “Speed Racer” é uma adaptação decente de um desenho animado que trouxe adrenalina para muitos jovens. O talento dos irmãos Wachowski cria conceitos artísticos incomparáveis e que certamente começarão a ser copiados, como aconteceu com a trilogia “Matrix”.

Sempre fui um aluno muito estudioso e meu tempo vago era assistindo desenho animado. De Pica-Pau a Dragon Ball, me sentia satisfeito com histórias que, mesmo se repetindo, me prendiam na televisão. Speed Racer era um dos meus preferidos e me sentia instigado a esperar por cada episódio. Por mais que as corridas e tramas sempre seguissem a mesma linha, algo me fez um fiel espectador daquele menino que tinha um Chimpanzé impagável. Com o filme dos irmãos Wachowski, me veio o esclarecimento que o que mais me atraía no desenho animado era justamente o fato de oferecer tramas de fácil digestão sem esquecer do divertimento.

Assim como no desenho, “Speed Racer” dos Wachowski transporta todos os achismos que eu tinha acerca do animado. As corridas pareciam sempre as mesmas, mas cada uma tinha um significado diferente e importante para a trama. No longa, as corridas acontecem em muito tempo de projeção, com manobras radicais e ferramentas de trapaça chocantes. O maior acerto dos Wachowski é fazer com que todos os momentos de disputa nas pistas, por mais longos que sejam, não fiquem cansativos. Os diretores têm ciência do que podem proporcionar ao público a cada curva, sempre adicionando elementos que gerem curiosidade e adrenalina em quem conseguir se entregar à história.

A única pretensão dos Wachowski foi recontar, com a cabeça de mestre que eles tem, uma história que sempre prezou por ser agradável de ver. Em um filme em que a família é o principal gancho da história, nada mais óbvio do que fazer famílias de espectadores assistirem ao longa e saírem entretidos. O roteiro de Larry Wachowski em momento algum fica bobo e investe, desde o princípio, na variação de emoções que conquista o público. A história emociona, faz rir e gera frio na barriga a cada disputa de carros. Por mais que o visual distancie a realidade e se aproxime de uma estrutura semelhante das vistas em games, cada carro e seus efeitos dentro de um cenário em ‘fundo verde’ tira o fôlego. Talvez se tivesse sido utilizado cenário real, metade da emoção do filme seria aniquilada. Psicodélico e eletrizante refletem diretamente na idéia principal do longa.

Aliás, é o visual dos Wachowski que traz mais um novo conceito artístico e faz o filme ser imperdível. Neste quesito, é impossível não comparar ao que os cineastas trouxeram de novidade ao cinema em “Matrix”. Até hoje, as cenas de luta e a narrativa são sempre remodeladas em outros filmes, que tentam atingir o sucesso que Neo e sua equipe tiveram. Entretanto, “Speed Racer” não foi feito para manter o sucesso de “Matrix”. Speed e sua família se sustentam sozinhos, já que foram alvo de fórmulas novas trabalhadas na película que, certamente, serão os próximos detalhes a serem copiados em outros filmes. Os Wachowski representam a visão do desenho animado de acordo com o que ele proporcionava. Eles praticamente misturam animação com live action, com uma montagem semelhante ao desenho original, mas com um caráter mais moderno.

As cenas que se fundem, os planos que se confundem e a incrível habilidade de inserir momentos em flashback sem cair na melancolia exacerbada que esse recurso promove em diversos filmes, tudo isso constrói uma arte nova dos Irmãos. Entretanto, um visual incomparável não funcionaria se o roteiro fosse fraco. Quando Larry opta em usar muitos personagens como estímulo narrativo, o risco é de esquecer o aprofundamento de algum deles. E acontece, mas acontece por haver uma compensação no que é importante para a história principal. Speed e sua família são os principais catalisadores da trama, fazendo com que os outros núcleos, inclusive os vilões, não precisem de tanta motivação assim para o conhecimento do público. Então as dosagens que Larry usou para seu roteiro foram mais do que eficazes como forma de ter um produto final que seja “pipocão”, mas que divirta do começo ao fim.

Como se não bastasse a parte técnica praticamente perfeita, os Wachoswki têm em mãos um elenco imperdível. Em atual ascensão, o ator Emile Hirsch dá a Speed a simpatia controlada do desenho animado. Speed não foi feito para ser o garotão da história ou o favorito dela, mas sim para ser o motivador das coisas que acontecem ao seu redor. Nisso, Hirsch faz uma boa leitura, sem cair no exagero ou na caricatura. Todas as suas ações são coerentes e o público compactua com elas. Christina Ricci como Trixie já cai na caricatura, principalmente pelo visual que adota. Mesmo assim, a moça tem bons momentos em cena, exceto pelo excesso de açúcar em um diálogo amoroso dentro do Mach 5 de Speed. Susan Sarandon é uma monstra do cinema. Ela é fantástica em tudo que faz e como a mãe dedicada de Speed está praticamente perfeita, apesar da interação com John Goodman, na pele do patriarca, ser pouca em cena.

Ainda destacam-se Paulie Litt como Gorducho e seus esquetes acompanhados do macaco Zequinha. Eles formam uma das duplas mais bem humoradas já vistas nos últimos tempos e até quando caem no besteirol são engraçados. Aliás, o treinamento de Zequinha para as cenas em conjunto devem ter rendido muita dor de cabeça, já que ele é impecável em cena. Ji Hoon Jung como Taejo, Matthew Fox como Corredor X e Scott Porter como Rex Racer formam o núcleo de grandes ídolos do mundo automobilístico e suas funções na trama são bem definidas. Roger Allam vive o vilão Royalton, que exige o básico de um personagem maligno repudiável à primeira vista.

Mais do que a experimentação de novos conceitos visuais e uma narrativa deliciosa de ver, “Speed Racer” é um entretenimento imperdível, seja você fã de corridas ou não. O longa investe na idéia da família como força motora para tudo na vida sem cair no piegas, além de divertir absolutamente o tempo todo. Certamente se o sucesso já estiver garantido entre o público, uma continuação será super bem vinda!

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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