Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 05 de maio de 2008

Speed Racer

Um adjetivo descreve com precisão “Speed Racer”, novo longa-metragem de Andy e Larry Wachowski: exagerado. A versão em “live action” da série animada dos anos 60 abusa das cores e das atuações para construir uma obra tão surreal que justifica qualquer comparação a um jogo de vídeo game.

É necessário, antes de tudo, definir o público alvo de “Speed Racer”. Claro que o filme irá atrair os fãs de “Matrix”, que esperam assistir a uma nova obra prima dos irmãos Wachowski. Claro também que fãs de corrida ficarão interessados na história de um campeão das pistas. O público majoritário, entretanto, deve ser os daqueles que cresceram acompanhando as aventuras de Speed e seu Mach 5.

A criação japonesa, popularizada nos Estados Unidos e inspirada em Elvis Presley e James Bond, acompanha as aventuras de Speed Racer, um garoto de 18 anos que pilota o carro criado por seu pai, Pops Racer. O carro é equipado com macaco automático para saltar por obstáculos, controle da tração e capacidade de mudar pneus para uso em terrenos irregulares. Além disso, ainda possui serras que cortam o que estiver à frente, pára-brisa à prova de balas, faróis super brilhantes, equipamento para direção aquática, um robô mensageiro localizado na dianteira do carro e um joystick para controlar o robô. O longa-metragem tem tudo isso. E mais.

Para os que conhecem pouco da série animada aprendemos um pouco sobre a família Racer. Rex, irmão mais velho de Speed, carrega o nome de sua família para as pistas de corrida, se tornando recordista nas pistas. Rex é o ídolo do irmão mais novo e seu talento é motivo de inveja e ameaças por parte das outras equipes. Logo a perseguição se torna um motivo para que o piloto abandone a cobertura da família e trabalhe sozinho, missão que provoca sua morte.

Anos mais tarde é o ainda mais talentoso e ambicioso Speed que assume o papel de astro da família e coloca novamente o nome Racer na lista de grandes momentos do esporte. Suas façanhas com o Mach 5 chamam a atenção de uma grande companhia, que o convida a correr com o nome das Indústrias Royalton. Por acreditar em um negócio familiar, Speed recusa a oferta e descobre que todas as corridas são armadas para garantir o maior lucro para as empresas envolvidas.

Desacreditado, o jovem recebe a ajuda do misterioso Corredor X, responsável pela perseguição dos maiores traidores do esporte. Juntos, os dois precisam manter a justiça nas pistas e desmascarar os grandes nomes por trás das trapaças.

Enquanto correm em circuitos que vão além do psicodélico, não faltam piadinhas infantis e caras e bocas por parte dos coadjuvantes. Emile Hirsch, no papel principal, é competente e fiel ao personagem animado. Susan Sarandon e John Goodman, como Mom e Pops, não fazem nada além do extraordinário, o que não compromete o núcleo principal da história. O problema está em Roger Allam, no papel de Royalton, Benno Fürmann, como Inspector Detector e muitos outros corredores com roupas mais do que cafonas e diálogos vergonhosos.

“Speed Racer” é um grande clichê do começo ao fim. Não irá agradar aos mais velhos, fãs da série, por exagerar no visual colorido e nas imagens vertiginosas, muito menos agradará aos mais novos, que acharão difícil acompanhar as competições e, definitivamente, não agradará aos que esperam algo como “Matrix”.

Os irmãos Wachowski exageraram. Exageraram nas cores, nas atuações, nos figurinos e, principalmente, no chroma key (fundo verde ou azul para inserir imagens geradas por computador). Há um limite para a quantidade de vezes em que se pode usar um personagem despejando suas falas enquanto seu rosto percorre a tela para mudar a cena ao fundo. Há um limite também para a quantidade de vezes em que o beijo entre Trixie e Speed é interrompido. Todos os limites foram ultrapassados.

O jogo de corrida “Speed Racer” parece ser extremamente interessante e o personagem é, de fato, cativante, mas a qualidade do filme pára por aí. Um longa-metragem tão indefinido prejudica qualquer inovação que tenha sido sugerida. Realizar filmagens de atores reais em um cenário gráfico, gerado por computador, já foi feito em filmes como “Sin City”, “300”, “Capitão Sky”, a moderna trilogia “Star Wars” e muitas outras produções. Não há inovação aí.

“Speed Racer” é esquecível, é enjoativo, é besta. O que incomoda é a pretensão com a qual o filme chega aos cinemas. Se as expectativas estiverem baixas, a conclusão é de que o longa é tão mediano que não merece um exagero de crítica, por mais exagerada que seja a produção.

Lais Cattassini
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