Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 19 de abril de 2008

Super-Herói: O Filme

"Super-Herói - O Filme" pode até ser 300 vezes melhor que "Espartalhões" (trocadilho infame proposital). Isso, apesar de não significar muito em termos de qualidade, pelo menos faz com que o longa escape de ser uma ofensa de 90 minutos a inteligência do espectador, sendo só... fraco (e ofendendo apenas ocasionalmente).

Quem acompanha meus textos aqui no CCR, sabe que sou fã de quadrinhos. Por isso, não foi sem certo medo que fui conferir este "Super-Herói – O Filme", afinal eu já fiquei traumatizado o suficiente por aquela bomba chamada "Espartalhões", que tentou fazer graça com "300". No entanto, a presente paródia do boom de adaptações de obras da arte seqüencial não causou grandes reações adversas. Porém, também não atingiu o sucesso pleno de uma comédia, que seria causar gargalhadas.

O roteirista e diretor da fita, Craig Mazin, focou seu alvo nos dois primeiros "Homem-Aranha". A trama nos apresenta ao jovem órfão Rick Riker (Drake Bell), um nerd com um único amigo, além de ser apaixonado pela menina mais popular da escola. Ele é picado por um inseto geneticamente modificado (aqui, uma libélula) e ganha poderes especiais.

Após um trágico acontecimento, ele se torna O Libélula (que original!), super-herói que combate um milionário psicopata que ameaça a cidade como um supervilão de armadura… Espere, alguém já viu esse filme? Pois é, a premissa básica é a mesma do primeiro "Homem-Aranha", mas os realizadores da película deram um jeito de inserir paródias de alguns outros filmes de heróis recentes, quase sempre com resultados desastrosos.

Por exemplo, o filme perde um bom tempo para mostrar uma visita completamente inútil à escola do Professor Xavier para Super Dotados Não-Asiáticos (!). O Professor X é vivido por um deslocado Tracy Morgan, que ainda possui um diálogo absolutamente idiota com a irritante Regina Hall. Ah, quem pelo pôster esperava uma presença maior da siliconada-mor Pamela Anderson, pode esquecer. A eterna C.J. de "SOS Malibu" aparece por 30 segundos em cena – e sua personagem ainda fica invisível boa parte desse tempo!

"Quarteto Fantástico" ainda é citado outra vez, com um Tocha-Humana fajuto (Simon Rex). Pelo menos a cena entre o esquentadinho paraguaio e o Libélula será o mais próximo que chegaremos a ver o Tocha e o Aranha juntos nos cinemas. Fãs de "Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu" vão gostar de ver o sumido Robert Hays (o piloto Stryker do filme de 1980) como o pai de Rick, em uma cena que parodia "Batman Begins".

A fita ainda aproveita para tentar fazer piadas as custas de figuras reais, sendo a mais explorada o Dr. Stephen Hawking (Robert Joy). Aliás, as gags em cima do Dr. Hawking são as únicas que me causaram desconforto, já que fazem pouco deste brilhante homem e a superação de sua doença, demonstrando uma incrível falta de tato por parte de Craig Mazin.

Boa parte do elenco apenas mimetiza os trejeitos dos personagens das fitas originais. Drake Bell certamente não funciona como protagonista. Apagado e sem carisma, o ator não possui timing cômico para segurar uma produção destas. O veterano Leslie Nielsen ainda provoca gargalhadas apenas com a sua presença, mais pelo peso do ator que por sua performace.

A mocinha da produção Jill Johnson é vivida por Sara Paxton que, além de sua beleza, não acrescenta nada à comédia. Só é uma pena ver atores que gosto muito como Keith David, Jeffrey Tambor e Brent Spiner rebaixados a pontas ridículas (e não no bom sentido) nesta produção insossa. Bem, ao menos eles conseguiram dinheiro pra pagar o aluguel do mês. Participam ainda da produção os atores Kevin Hart e Ryan Hansen, que interpretam, respectivamente, o melhor amigo e o bully pessoal de Rick. No entanto, poderiam colocar dois macacos no lugar deles e ninguém iria notar a diferença.

Nos aspectos técnicos, pouco é notável. Os efeitos especiais, como se poderia esperar, são toscos, de fazer inveja à novela "Caminhos do Coração". O trabalho de edição – feito por três profissionais diferentes, vale ressaltar – ao menos não deixa o filme perder ritmo, embora a qualidade do que se vê em cena seja abaixo da média. Já a trilha sonora de James L. Venable se limita a copiar (mal) a de "Homem-Aranha".

Com algumas poucas piadas engraçadas, este "Super-Herói – O Filme" não é das melhores diversões, principalmente se você for fã de quadrinhos. No entanto, em comparação com os exemplares mais recentes de sátiras e comédias "pastelão", há de se dizer que se trata de um primor de filme…

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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