Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 12 de abril de 2008

Imagens do Além

O enlatado americano de mais um terror oriental é vítima da própria ganância. A tentativa de recriar a história tailandesa de forma assustadora se resume ao péssimo contorno de uma trama cuja maior vitória seria o desfecho do filme, que em “Imagens do Além” não provoca as mesmas reações que o original.

Em 2006, o Brasil recebeu nas salas de projeção o tailandês "Espíritos – A Morte Está ao Seu Lado". Aproveitando-se dos fatos paranormais que se manifestavam em fotografias em imagens distorcidas ou descoloridas, o longa conseguiu ser mediano por surpreender em seus momentos finais, quando todas as justificativas apresentam-se coerentes e criativas. A mania americana de transformar histórias de sucesso em versões comerciais não demoraria a atacar.

Foi aí que os produtores dos também remakes “O Grito” e “O Chamado” decidiram comprar os direitos de “Shutter” (nome original de "Espíritos") e dar o título de “Imagens do Além” no Brasil. Criatividade zero. Como era de se esperar, o filme segue a mesma linha do original, com suas eventuais divergências narrativas e tecnológicas que deixam a produção americana “melhor visível”. O que, particularmente, é um fator negativo, visto que os filmes de terror orientais arrepiam justamente pela falta de requinte, aproximando-se do trash que muita gente gosta.

Na trama, Benjamin Shaw (Joshua Jackson) é um fotógrafo que acabou de se casar com Jane (Rachel Taylor). Como presente para os pombinhos, eles se mudam para o Japão (!), já que lá Ben teria mais chances na profissão (tá!). Enquanto estavam na estrada, Jane acaba atropelando uma garota, cujo corpo some misteriosamente. Inicialmente preocupados, os dois tentam esquecer o acidente com a nova casa e o país maravilhoso que é o Japão, mas eventos sobrenaturais passam a rondar a vida deles. Imagens distorcidas começam a aparecer em fotos, aparições físicas e barulhos perturbam a vida pacífica que queriam levar. É tentando descobrir o motivo disso tudo que Jane investiga a vida dos amigos de Ben e a relação deles no passado.

A história é a mesma, trocando o colégio e o laboratório de biologia do original. Tudo bem que é compreensível, visto que é um remake. Mas entendam: a versão americana de “O Chamado” é tão horripilante quanto a normal, isso por ter conseguido uma linha dramática e de terror eficazes para causar reações no público. “O Grito”, por exemplo, passa de terror que assusta para o que faz rir, caindo no mal gosto. O recente “O Olho do Mal” mantém-se mediano, da mesma forma que sua história se apresenta desde o início. Então por que a particularidade de “Imagens do Além” ser um terrível exemplo de refilmagem? Justamente pela maior graça do filme original se mostrar no final. Lembro-me que quando assisti a “Espíritos”, achei a história meia-boca, até que o desfecho justificou tudo que eu precisava para gostar do filme.

Quando entrei na sala para ver “Imagens do Além”, fui pedindo para o roteirista e o diretor conseguirem inserir na trama novos elementos que causassem essa sensação de satisfação ao fim da sessão. Resultado: o filme se mantém fiel aos acontecimentos do original, ou seja, sem criar uma relação de curiosidade pelo público que já assistiu ao filme anterior. Já sabemos quais serão os fatos a desenrolarem e como a história termina, o que é fatal para um filme que pretende assustar com o tema sobrenatural. Os protagonistas acabam vítimas de ridicularização, justamente por serem os únicos patetas a não saberem o que está acontecendo. Prevendo isso, o roteiro ainda cria cenas de “revelações” rápidas e tão patéticas quanto.

Até com uma história interessantíssima quanto a original, a versão americana se revela ineficaz. Em momento algum há uma atmosfera de suspense, e os sustos não passam de meras gags. Destacando a pior cena do filme, quando o espírito levanta o vestido e mostra um corpo bem parecido com o da Mística, dos X-Men, o constrangimento vem à tona. Acho que substituíram a péssima cena do banheiro que o original possui por essa tão tosca quanto. Falando em substituições, um dos elementos da parte final, quando os protagonistas visitam a casa da garota-problema, foi retirado. A mãe que preservava o corpo da filha como se ela ainda estivesse viva era mais um elemento bizarro de “Espíritos” que causava arrepios, e neste longa americano é substituído por uma desvalorização da vida sem graça.

Muitos riam da forma de falar e atuar dos tailandeses no filme original, mas “Imagens do Além” consegue ser inferior. Joshua Jackson não passa credibilidade em cena, sempre encarnando o estilo “quero ser galã”. Durante uma cena em que é assombrado, dá pena das expressões faciais que ele faz. Já a belíssima Rachel Taylor está no filme errado. A carga dramática está em excesso, demonstrando que em qualquer outro filme ela poderia se sair mais natural e seu talento seria registrado. O elenco oriental passa a vitalidade de um povo alegre e supersticioso, o que ainda é delicioso de ver em cena.

O diretor Masayuki Ochiai se resume a copiar boa parte das tomadas do filme original, não usando a criatividade para novos planos. O máximo que o cineasta consegue é movimentar sua câmera com mais dinamicidade em alguns momentos, porém não é algo que um filme de terror necessite ter. Algumas cenas ainda são bem confusas, como Ben revelando uma fotografia e sendo atacada pelo espírito, além do momento em que Ben é arrastado no escuro enquanto flashes são disparados no estúdio. O que era para dar medo fica confuso e não causa reação, a não ser a de arrependimento de ter ido assistir ao filme. Simplesmente inútil.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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