Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 29 de março de 2008

Jumper

Diversão rápida e descompromissada, “Jumper” entretém durante sua curta duração. No entanto, o filme escorrega feio ao investir mais em ganchos para continuações do quem em resoluções para suas tramas, minando o que poderia ser um filme de ação único.

É interessante notar a nada sutil mania de Hollywood por continuações. Atualmente, é difícil ver um blockbuster que contenha uma história fechada, já que seus produtores sempre pedem que sejam inseridos aqui e acolá "ganchos" cada vez mais descarados para continuações, com este sendo o principal defeito de "Jumper".

Dirigido por um Doug Liman mais descontraído que na maioria de seus filmes anteriores (com exceção do apenas razoável "Sr. e Sra. Smith"), o filme em sua curta duração – apenas 88 minutos – propõe uma série de conceitos fascinantes. Porém, ao invés de aprofundá-los, prefere transformá-los em perguntas a serem respondidas em uma possível seqüência, o que tira muito da força que sua história promissora poderia ter.

"Jumper" nos apresenta ao boa-vida David Rice, um jovem milionário com um pequeno segredo: ele pode se teleportar para onde quiser. Ele descobriu seu dom após um potencialmente trágico acidente no gelo envolvendo um bully e sua paixão de colégio, Millie. Após uma discussão com seu pai, David resolve fazer que nem sua mãe e abandonar sua casa, utilizando os poderes para roubar bancos e adotar um estilo de vida que daria inveja aos ricos e famosos. Além disso, David viaja ao redor do mundo diariamente, tomando café da manhã em Nova York, passeando em Tóquio, surfando em Fiji, vendo o pôr do sol nas pirâmides e voltando para os EUA a tempo para ver o jogo dos Lakers em um lugar ao lado da quadra.

No entanto, sua vida perfeita começa a ir pelo ralo quando os misteriosos Paladinos, membros de uma organização destinada a matar aqueles "Jumpers" (saltadores) como David, começa a rastreá-lo. O misterioso e estiloso Roland tem especial interesse na perseguição do rapaz, pois crê que ele sozinho jamais teria durado tanto, com alguém estando por trás disso. No entanto, o protagonista terá a relutante ajuda de outro jumper, o irlandês rebelde Griffin, que já perdeu muito em sua vida graças aos Paladinos e tem contas muito altas a acertar com Roland.

Novamente como um problemático protagonista, Hayden Christensen ainda sofre de um grave problema de falta de expressão. Porém, como "Jumper" está mais para um passeio divertido de montanha-russa do que para uma narrativa sci-fi mais profunda, as limitações do ator não incomodam muito. Já sua companheira de cena, Rachel Bilson, sofre um pouco com as características de sua personagem, já que Millie é uma mocinha típica em perigo e que se questiona sobre a natureza de seu par, não tendo muito a fazer em cena a não ser discutir com David e correr dos vilões (sem saber disso, na maioria das vezes).

Samuel L. Jackson parece apenas estar se divertindo em cena, interpretando um tipo durão, algo que já virou sua especialidade. Sua primeira cena junto à Christensen vai ser uma cartase para os fãs de "Star Wars" após o último encontro dos dois atores no derradeiro episódio da citada saga espacial. Já Diane Lane é desperdiçada em cena. A despeito de sua personagem ter o conflito mais dramático dentro da história, ela aparece apenas em duas curtíssimas cenas, com a já citada mania dos produtores em criar suspense para os "próximos capítulos".

Ainda temos o jovem Max Thieriot e a promissora atriz já-nem-tão-mirim AnnaSophia Robb como as versões high school de David e Millie, estando bem mais expressivos em cena que Christensen e Bilson, diga-se de passagem. Aliás, o que falta de presença no casal principal, sobra em Jamie Bell, que vive o impetuoso jumper Griffin. Toda vez que o ator aparece em cena, podemos ver que seu personagem já passou por desventuras bem mais perigosas – e interessantes – que David, sendo uma pena que ele saia de cena tão subitamente.

Ao contrário dos filmes anteriores de Liman, onde eram os atores que comandavam o show (vide os excelentes "A Identidade Bourne" e "Vamos Nessa"), o que chama mais atenção em "Jumper" é o belíssimo visual da fita, com as mais diversas locações sendo exploradas ao máximo graças à competente direção de fotografia de Barry Peterson. Os efeitos especiais nos "saltos" e nas cenas de ação também dão um toque todo especial ao longa, sem falar na direção de arte que compõe os cenários altamente diversificados da fita. Na edição, os montadores Saar Klein, Dean Zimmerman e Don Zimmerman impõem um ritmo muito bom à produção, fora suas óbvias contribuições aos efeitos do filme.

A curta duração do filme e o excesso de pontas soltas deixadas ao redor da produção podem irritar o espectador médio. Neste sentido, "Jumper" seria um ótimo episódio piloto para uma série. No entanto, trata-se de um filme para cinema e, com uma continuação ainda pendendo de confirmação, sua trama corre sério risco de não ser explicada nem resolvida, o que significa um fracasso para qualquer cineasta. Ainda assim, o filme é leve e divertido o suficiente para entreter.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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