Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 03 de março de 2008

Espartalhões

A fórmula cansada das sátiras de filmes que fizeram sucesso volta mais uma vez com “Espartalhões”. Tirando sarro de “300”, programas de tevê e celebridades, o longa é previsível em sua pouca qualidade, mas ainda assim gera alguns momentos cômicos, da mesma forma como apela para o grotesco.

O sucesso de Zack Snyder não escaparia de forma alguma de uma paródia. “Espartalhões” foi produzido pelos mesmos responsáveis pela franquia “Todo Mundo em Pânico” e pelo péssimo "Deu a Louca em Hollywood". Como forma de aproveitar o que aconteceu nos últimos meses na indústria e na vida pessoal de muitos astros, este novo filme reúne um bolo de perfis distorcidos e histórias recontadas, na maioria das vezes de mau gosto.

O fato é que quando uma trama assim é anunciada, já vem embutida nela a provável bomba que se tornará, servindo apenas como caça-níquel e desgraça para os fãs dos parodiados. “Espartalhões” não esconde que é um filme ruim, que abusa dos erros e se preocupa em criticar e recriar. Como sátira, até consegue funcionar, mas está longe de ser um bom exemplar do gênero e "imperdível", como tem no pôster de divulgação.

Sean Maguire vive o Rei Leonidas, de "300". Enquanto adolescente, usa aparelho e luta com um pingüim dançante. Quando conhece a Rainha Margo (Carmen Electra), se apaixona pelos seios fartos e consegue o número que destranca o cadeado de virgindade da moça. Assim, os dois têm um filho, o qual Leonidas trata de forma violenta para torná-lo um grande guerreiro. Meio a isso, antes de decidirem ir à luta com seu exército de menos de treze homens, Leonidas ainda se depara com os jurados do American Idol e com Britney Spears raspando o cabelo enquanto dá de mamar. Quando parte para a batalha, os guerreiros encontram o rei Xerxes (Ken Davitian) e travam uma verdadeira disputa de dança.

Dirigido e roteirizado pela dupla Jason Friedberg e Aaron Seltzer, o filme não tem uma trama em si, e nem é isso a que se propõe. Ele se apossa de outras histórias que vão se envolvendo e criando alguma coisa insignificante. O trabalho de Friedberg e Seltzer foi apenas de concluir como abordar também “Shrek Terceiro”, “Transformers”, “Motoqueiro Fantasma” e “Homem-Aranha 3”, por exemplo, de uma forma linear, junto das aparições de estrelas como Paris Hilton (claro!), Lindsay Lohan, Angelina Jolie e Brad Pitt.

Não posso deixar de citar a aparição válida de Tyra Banks (Jenny Costa) e de Chris Crocker, que ficou conhecido no YouTube pelo vídeo de apelo "Leave Britney Alone!" (Deixem Britney em paz!). O resultado é que “Espartalhões” não vai a lugar algum, se resumindo a fazer gracinha com as desgraças alheias, as polêmicas conhecidas pelo público e a essência dos filmes. Nisso, os roteiristas não decepcionam, mas deviam pensar duas vezes antes de escrever uma produção chula.

É fato que dá para rir algumas poucas vezes durante a projeção, sinônimo de muito besteirol desnecessário, não de comédia interessante. Como não rir de Britney Spears cantando ao pé do ouvido do filho enquanto raspa o cabelo? Ou de Paris Hilton com uma corcunda e uma pata, ou de Betty, a Feia sendo o Oráculo de “300”? Mas essas pitadas de humor inútil acabam se cansando do meio para o fim do filme, quando o que já não era tão interessante vai a zero. O ato final demora a chegar e a vontade de ir embora cresce. Quando o filme termina, sentimos a cabeça vazia de idéias e cheia de bobagem descartável. Afinal, é isso que um filme desse naipe pretende, sendo assim uma produção “eficaz”.

O elenco, em sua maioria desconhecido, traz Carmen Electra com uma das personagens principais. Figurinha carimbada em sátiras, a atriz esbanja muita beleza e um talento questionável, já que ela poderia tentar se sustentar fazendo filmes diferentes. De qualquer forma, sua beleza é explorada juntamente com o teor erótico do filme, com direito a óbvias tendências homossexuais de alguns personagens. Sean Maguire faz uma leitura cômica de Leonidas, com a ajuda de uma caracterização fiel e a gritos semelhantes aos de Gerard Butler na obra original. Ainda se destaca a atriz Nicole Parker, que vive vários personagens em cena, como Britney, Paris, Paula Abdul com comicidade inigualável. Para o restante do elenco, o filme serve como ganho financeiro e quem sabe abra portas para novas oportunidades em futuras produções.

Sem compromisso técnico, “Espartalhões” é tudo que o público espera: um filme bobo, com algumas risadas e inútil, ótimo para um dia vazio ou muito dinheiro sobrando na carteira. Insistindo em um estilo que veio com “Todo Mundo em Pânico” em 2000 e gerou seqüências deste, além de novos filmes semelhantes, “Espartalhões” não é um longa para se assistir com muita exigência, já que não foi feito para ser exigido.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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