Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Maldita Sorte

Quando você pensa já ter visto todo tipo de bobagens, chega às telas “Maldita Sorte”, um longa-metragem não só desnecessário, como de piadas pobremente escritas e personagens sem carisma. Um trabalho mal executado, beirando constantemente ao mau gosto.

O filme tem início na década de oitenta, mostrando Chuck (Dane Cook, de “Instinto Secreto”) ainda criança. Durante uma brincadeira chamada de “sete minutos no paraíso”, ele acaba amaldiçoado por uma garota a quem rejeita. Esta o sentencia a nunca encontrar o verdadeiro amor, pois toda garota com quem for para a cama, encontrará o amor depois dele, casando-se com o próximo homem com quem sair.

Anos se passam e o já crescido Chuck não consegue encontrar o par ideal. Ele tem problemas em se comprometer, não consegue dizer “eu te amo” para ninguém e teme acabar sozinho. Parece que a praga jogada quando ainda era criança está em vigor, pois, após presenciar o casamento da terceira namorada que teve, ele vira um ícone na cidade. Chuck é apelidado de “Amuleto do Amor”, já que todas as suas ex sempre encontram o homem de suas vidas logo após terminar com ele.

Agora todas as mulheres da cidade querem experimentar a tal formula secreta do rapaz: dormir com ele para, em seguida, dizer o “sim” no altar. Logo de cara Chuck não gosta de ser visto apenas como objeto sexual da mulherada. Algum tempo depois, ele diverte-se em seus excêntricos encontros casuais, dormindo com a maior quantidade de mulheres possíveis, e acredite: todas elas conseguem realizar seus sonhos. Já o conquistador está muito bem, obrigado. Isso é, até encontrar a desastrada Cam (Jessica Alba, da franquia “Quarteto Fantástico”), uma moça viciada em pingüins por quem ele se apaixona. O esquecido Chuck precisará agora quebrar a maldição, descobrindo como ela começou. Do contrário, ele acabará perdendo a única garota que já fez seu coração bater mais forte: aquela com quem ele quer passar o resto da vida junto.

De longe, a história parece simples e até gera expectativa de ser algo interessante para se passar o tempo. Uma daquelas comédias românticas gostosas de se assistir em uma sexta-feira à noite, e sonhar acordada – quem sabe. Mas só de longe. Tão logo você começa a assistir e se questionar qual a lógica dos vários detalhes jogados de maneira irresponsável no roteiro. Existe uma enorme diferença entre riqueza de detalhes e falta de bom senso. E aí você se pergunta onde estavam com a cabeça os roteiristas Josh Stolberg (do sem graça “A Volta do Todo Poderoso”) e o iniciante Steve Glenn, para rechear a trama com personagens pobres e piadas tão chulas.

Talvez se um outro elenco tivesse sido escolhido, a película conseguisse ter esperanças de ser salva. Já vimos vários casos como esse, onde atores fazem a história. Mas nem isso. Como se não bastassem os personagens não-carismáticos apresentados na trama, o elenco não poderia ser pior. Daqueles que conseguem deixar um filme já ruim ainda mais desinteressante – chega a ser constrangedor. Uma das coisas mais importantes quando se trata de uma comédia romântica é que exista a velha e falada química entre o par romântico, química essa completamente inexistente aqui.

Alba e Cook não poderiam ser mais entediantes juntos (ou em separado mesmo). Os dois nem sequer conseguem passar por um casal apaixonado, sendo irreal e não fazendo sentido. Realmente não entendi qual foi a de Jessica Alba em fazer parte desse trabalho, já que ultimamente ela tenta trilhar um caminho diferente na indústria, com suas participações na franquia “Sin City”, por exemplo. Fazer um trabalho como "Maldita Sorte" é um desses retrocessos que ator nenhum deveria arriscar.

Isso sem contar com os personagens “exóticos” que aparecem para complementar. Algumas situações simplesmente não fazem sentido algum, como por exemplo a presença do amigo tarado do personagem principal. A função dele na história é exagerada e degradante. Não que numa história de cartilha como essa a presença do amigo seja desnecessária, mas custava aprofundar pelo menos o mínimo o personagem? Quem sabe se tivesse sido um pouco menos óbvia a relação entre passado e presente de Stu Kaminsky (pobremente interpretado por Dan Floger, de “Escola de Idiotas”).

O estreante Mark Helfrich não chega exatamente a pisar na bola, seguindo o proposto bem ensaiado de alguém que ainda não aprendeu a andar com as próprias pernas como diretor. Peca na falta de criatividade e falta de bom humor em um trabalho onde a força está justamente na comédia, e no romance – outro fator pouco aproveitado. O que deveria ser seu pontapé inicial em Hollywood acabou transformando-se em uma chance não só mal aproveitada, como em uma quase mancha. Até então, Helfrich trilhava uma bem sucedida carreira como montador, assinando trabalhos como os elogiados “Um Homem de Família” e “X-Men: O Confronto Final”. Na sua tentativa de cineasta ele pisou feio na bola.

Fato é que sempre acho incrível como filmes desse tipo ainda conseguem orçamento para serem realizados. De baixo custo ou não, é muito dinheiro gasto de maneira totalmente irresponsável. Se vai atrair algum público, é uma incógnita. Para mim, foram quase cem minutos da minha vida jogados no lixo.

Beatriz Diogo
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