Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 26 de janeiro de 2008

Lenda do Tesouro Perdido – O Livro dos Segredos, A

A rentável produção de 2004 do primeiro filme da franquia “A Lenda do Tesouro Perdido” gerou uma segunda aventura de Ben Gates e seus companheiros. Bem mais eficaz do que o longa anterior, este acaba sendo superior, mas não livre dos erros constantes de roteiro. Uma boa diversão tamanho família que talvez ainda renda mais continuações.

“A Lenda do Tesouro Perdido” arrecadou cerca de US$ 300 milhões no mundo todo, mais ou menos três vezes do que a Disney gastou para a produção do blockbuster. O carisma aventureiro de Nicolas Cage fez com que uma continuação fosse praticamente certa, e demorou três anos para ficar pronta. No Brasil, “A Lenda do Tesouro Perdido – O Livro dos Segredos” chega no período de férias escolares e está claro que será mais um sucesso em bilheteria. Diga-se de passagem um sucesso louvável, já que este filme é bem melhor realizado do que o primeiro e conserta alguns erros, mesmo que não todos.

Dessa vez, Ben Gates (Nicolas Cage) aparece brigado com sua namorada Abigail Chase (Diane Kruger). Seu assistente, Riley Poole (Justin Bartha), tenta ganhar notabilidade com o lançamento de um livro aparentemente fracassado. Em uma de suas palestras universitárias, Ben acaba sendo posto em xeque quanto ao passado de sua família, mais precisamente de Thomas Gates, seu tataravô que viveu na época em que o presidente Lincoln foi assassinado. Mitch Wilkinson (Ed Harris) acusa o ancestral de Ben de ter participado da organização deste inesquecível marco para a história americana e dá motivos para que o caçador de tesouros mais famoso do mundo prove que isso é apenas especulação. Tendo que viajar o mundo, se reencontrar com a mãe e ainda ser perseguido por vilões, Ben muda até a vida do Presidente.

A primeira observação é que Nicolas Cage está com uma aparência muito mais saudável e agradável em relação ao longa anterior. Desta vez, Ben ficou famoso por suas descobertas e nem imaginava que teria uma nova missão importante pela frente. Uma coisa que incomoda bastante no filme de 2004 é a tentativa frustrada de organizar uma história inteligente que entre em harmonia com ação, drama e comédia. “A Lenda do Tesouro Perdido” apenas tentou fazer isso, mas deixou furos em todas as vertentes. O roteiro conseguia criar estratégias nobres, porém não era tinha uma realização decente. O melhor ficava mesmo com ação se dando muito bem com a trilha sonora, já que o humor não funcionava como devia.

Desta vez, os roteiristas Cormac e Marianne Wibberley conseguiram amarrar melhor o conteúdo histórico da trama. Eles geraram um interesse bem maior neste longa, apesar de alguns momentos forçar a barra acerca do conhecimento dos protagonistas ou impor um fato histórico de supetão para que tenha um motivo para continuar seguindo a trama. Outro ponto positivo para o casal é que eles conseguiram um roteiro com passagens realmente cômicas, dadas por gestos, olhares ou frases secas, coisa que não funcionou de forma alguma na outra película. A aposta no atrapalhado Riley foi fundamental para criar para a trama um clima de aventura perigosa, porém divertida. Como se não bastasse, as cenas de ação ganharam um upgrade, com destaque para a perseguição pelas ruas de Paris ou o ato final em busca da Cidade do Ouro.

Mesmo com o sucesso, os Wibberleys continuam com o péssimo hábito de furar a trama. No início do filme, Ben e Abigail estão brigados, com ela chegando até a sair com outros homens. O público fica esperando um motivo para aquela situação, já que de um filme para outro se passou algum tempo, e dar essa justificativa é o mínimo que poderiam fazer. Além disso, outro problema que reside em Abigail é o contato inicial que ela tem com Mitch, sendo mal justificado e não argumentado quando a caça pelo novo tesouro realmente começa. O público fica na difícil situação de julgar se a presença da moça está relacionada com Mitch ou com Ben. Se com Abigail os problemas imperam, os roteiristas criam uma relação curiosíssima entre Patrick Gates (Jon Voight) e Emily Appleton (Helen Mirren), que cativam o público já na primeira cena juntos. No caso deles, nem é preciso um esclarecimento do passado que viveram, já que a principal mensagem transmitida é que muito amor acumulado ainda reside em cada um.

A realidade é o que o elenco em geral está muito familiarizado com a história e é possível ver que os atores acreditaram no projeto. Em cena, todos parecem veteranos de guerra cujo interesse é logo despertado pelo público. Cage empina seu personagem de uma forma mais intelectual do que já possuía e ganha um toque de humor positivo. Diane Kruger, apesar de seus problemas de roteiro, continua embelezando e dando o toque feminino ao filme, com direito a cenas de heroísmo e amor eterno. Justin Bartha é sem dúvidas o mais carismático, se esvaindo de diálogos e citações frustrantes para diálogos realmente divertidos. Por mais gags que sejam investidas nele, Bartha nunca parece estar fazendo a cena a força, dando naturalidade até a mais boba das ações.

As novidades no elenco ficaram com Ed Harris, que veste a camisa de canastrão, e Helen Mirren, a atriz premiada com um senso de humor impagável. Jon Voight muda o temor de Patrick Gates e acredita na nova aventura, ajudando o filho na busca por mais um tesouro. É interessante citar uma montagem paralela que acontece no ato final do filme, quando Patrick e Emily estão longe dos outros e eles são colocados em situações pesadas em que precisam mostrar vigor físico para vivenciá-las. O roteiro expõe seus personagens a uma situação ousada e logo percebemos que a intenção mesmo foi registrar não a aventura em que estavam, mas o momento que o casal estava vivendo junto.

O diretor Jon Turteltaub também foi responsável pela melhora deste segundo longa. Mais familiarizado com o que podia arrancar tanto dos atores quanto dos efeitos especiais, Turteltaub registra cenas impecáveis de ação, contando com uma direção de arte e efeitos especiais competentes. Além disso, destaca bem os momentos dramáticos e sabe usar o humor a seu favor. Isso acaba causando um excesso na duração da película, outro problema do primeiro filme. Por esticar a trama, acaba causando problemas temporais de entendimento e lógica. Em alguns momentos, não é possível nem perceber que o que eles estão procurando não é só um tesouro, mas um motivo para honrar a família. Mesmo com essas faltas convencionais de blockbusters, “A Lenda do Tesouro Perdido – O Livro dos Segredos” é um entretenimento que diverte com boas intenções.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

Compartilhe

Saiba mais sobre