Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 12 de janeiro de 2008

Aliens vs. Predador 2

Jogando uma pá de cal naqueles que queriam assistir a um bom confronto entre estes verdadeiros "monstros" da sétima arte, a única conclusão a que se chega ao ver "Aliens Vs. Predador 2" é de que seria melhor ter alugado os filmes solos destas franquias e vê-los em DVD.

É incrível como Hollywood consegue acabar com franquias de sucesso rapidamente. Mas simplesmente assassinar duas das maiores séries do cinema sci-fi em uma tacada… Deve ser um novo recorde. Após o fraco "Alien Vs. Predador", dirigido pelo dublê de cineasta Paul Anderson que, apesar de seus (vários) deméritos, ainda tinha um pingo de coerência, a 20th Century Fox nos lança esta verdadeira bomba nuclear chamada "Aliens Vs. Predador 2". O filme praticamente liquida a chance de vermos um embate decente entre algumas das criaturas mais temidas da história da sétima arte.

Não dá para se dizer que a culpa desse desastre seja totalmente dos irmãos Greg e Colin Strause. Vindos do mundo dos efeitos especiais, esta foi a primeira investida dos dois como diretores e, claramente, eles deviam ter ficado cuidando das criaturas mesmo. Apesar deles terem cumprido a promessa de um filme bem mais violento que o anterior, eles falharam em perceber que mais violência não significa maior qualidade.

O que fez dos dois primeiros "Alien" e do "Predador" original (os melhores exemplares da cada franquia) clássicos da ficção foram o temor que aquelas criaturas nos colocava. Tal medo vinha do fato de que as figuras humanas com quem os alienígenas lutavam – a valente Ripley e o brutamontes Dutch, respectivamente – eram figuras fortes e cativantes, o que nos fazia perceber que se eles estavam em situações difíceis e adversas, para reles mortais a sobrevivência em tais circunstâncias seria impossível. Já a galeria de personagens criada para este "AvP-2" é simplesmente ridícula, tratando-se de figuras caricatas, unidimensionais, estúpidas e, pecado maior, fracas!

Decidindo ambientar o confronto de Aliens e Predadores em uma cidadezinha dos EUA, a intenção do "roteirista" Shane Salerno era criar personagens com quem o público pudesse se relacionar. Porém, ao colocar velhos estereótipos como o bad boy em busca de redenção, a gostosa com namorado violento, o mocinho apaixonado por ela e – pasmem – uma Ripley genérica, idiota e sem sal, com direito a uma versão cover da menininha Newt de "Aliens 2 – O Resgate", o que Salerno fez foi montar uma galeria de tiro ao alvo onde o espectador reza que aquelas caricaturas de gente morram o mais rápido e dolorosamente possível.

Assim, o público fica na improvável situação de torcer pelo único personagem com motivação definida no filme: o predador Wolf que, mesmo não sendo o membro mais brilhante de sua raça, ainda é a criatura mais inteligente em cena. Ele estava sentado em sua casa, no planeta natal dos predadores, quando recebe a notícia de um desastre ocorrido na Terra: a queda de uma nave de seu povo na Terra, carregada de embriões aliens e de um híbrido "predalien". Rapidamente ele se arma e parte para o atrasado mundo azul para resolver a situação.

Enquanto Wolf não chega, temos de acompanhar vários e excruciantes minutos vendo a soldado Kelly (Reiko Aylesworth) voltando da guerra para sua família – trazendo óculos de visão noturna de presente para sua filha (!); o retorno do ex-presidiário bonzinho Dallas (Steven Pasquale) para a cidade e encontrando seu irmão Ricky (Johnny Lewis) sofrendo nas mãos do valentão local, Dale (David Paetkau), por estar apaixonado pela namorada deste último, a bela e burra Jesse (Kristen Hager). Enquanto isso, o xerife Morales (John Ortiz) comanda as buscas por dois moradores locais que sumiram enquanto caçavam.

Finalmente, ao começar a matança na cidade, parece que as coisas vão esquentar. Longe disso. Por uma decisão técnica daquelas que nem Freud explica, todas as cenas de luta entre Wolf, os aliens e o Predalien acontecem no mais completo breu. Palmas para o diretor de fotografia do longa, Daniel Pearl, que pensa que ainda estamos nos anos 1980 e que não conhecemos os personagens, precisando fazer mistério em relação a aparência destes. Ou então as criaturas ficaram tão mal-feitas que precisavam ser escondidas, já que é um absurdo tornar impossível para o expectador enxergar com clareza a luta entre aliens e o Predador em um filme que se chama justamente "Aliens Vs. Predador"!

Quem acompanha meus textos sabe que gosto de avaliar cada membro do elenco principal dos filmes que analiso. É impossível fazer isso com este longa, pois cada um dos atores em cena têm uma performace homogênea: todos atuam como se estivessem em uma produção para a televisão, e daquelas que parodiam filmes de sucesso. Independentemente do fato de que o elenco é egresso de produções televisivas e do ritmo destas serem completamente diferente daquele adotado em obras para o cinema, isso não explica o péssimo trabalho dos ditos "profissionais" na tela. Chega a ser risível a maneira com que vários dos diálogos são pronunciados em cena, o que ilustra também a inépcia dos irmãos Strause como diretores de atores.

Contando com uma trilha sonora genérica e com um dos desfechos mais idiotas já vistos na longa história da sétima arte, pelo menos "Aliens Vs. Predador 2" possui uma edição decente, realizada pelo montador Dan Zimmerman, o que já gera um diferencial em relação aos atuais filmes deste gênero. Em grande parte desses longas, você não entende o que está acontecendo em cena por conta da edição hiper-ativa. Já aqui, as cenas movimentadas se tornam ininteligíveis por conta da falta de sentido do roteiro e porque a produção esqueceu de pagar a conta de luz do estúdio. Fuja deste filme como se tivesse um Predalien em seu encalço!

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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