Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 29 de setembro de 2007

Vidente, O

"O Vidente" é um filme que carece de aspectos envolventes em seu desenvolvimento, fazendo com que o seu maior apelo seja somente os nomes de peso existentes no elenco.

“O Vidente” acompanha a história de Cris Johnson (Nicolas Cage), um mágico de Las Vegas que possui a habilidade de prever dois minutos do seu futuro próximo. Ele usufrui desse dom para obter auxílio em seu trabalho e em jogos de blackjack nos cassinos da cidade. Ao supostamente cometer um crime, Johnson passa a ser fiscalizado por seguranças de um cassino, e a agente do FBI Callie Ferris (Julianne Moore) começa a permanecer em seu encalço, uma vez que precisa da ajuda do sujeito para impedir um ataque terrorista. O real desejo de Cris, na verdade, é encontrar Elizabeth Cooper (Jessica Biel), mulher a qual consegue ver em suas previsões. Todavia, à medida que o tempo passa, a ameaça de explosão nuclear advinda do terrorismo se aproxima, tornando possível que o mágico seja a peça-chave para desvendar o mistério.

Seria bastante difícil escolher apenas um problema do filme para ser ressaltado de início, visto que fatos mal aproveitados no decorrer do longa-metragem são diversos. O diretor Lee Tamahori ("O Preço da Traição"), ao não conseguir adotar uma postura firme perante as câmeras, fez com que o projeto cinematográfico sofresse, de certa forma, por falta de identidade. Embora seja classificada como uma ficção-científica, a produção, muitas vezes, não parece ter um gênero definido. Prioriza elementos de romance, drama, ficção e até mesmo ação. Se houvesse um aproveitamento melhor das situações, talvez esse fato passasse despercebido, como não foi o caso, apenas possibilitou que o filme se transformasse em um exemplar entediante. Em algumas seqüências, como a de perseguição ao protagonista em um cassino, o diretor realmente sabe explorar o potencial envolvente da trama, criando um maior interesse do espectador para com a história. Todavia, esse fato é desmerecido adiante, quando engloba ocasiões que nada ajudam para o decorrer da produção, o que parece fazer com que o filme rode sempre em círculos sem nenhum intuito.

O roteiro escrito a seis mãos por Gary Goldman ("Os Aventureiros do Bairro Proibido"), Jonathan Hensleigh ("Jumanji") e Paul Bernbaum ("Hollywoodland – Bastidores da Fama") mostrou-se mal trabalhado, carregado de diálogos confusos, os quais demonstram a ânsia dos roteiristas por terminarem a história e acharem uma solução lógica para alguns fatos. Ao optarem por desenvolverem uma trama que girava em torno de um mágico que pode prever o seu futuro em até dois minutos, até saíram um pouco da normalidade de filmes que abordam história de videntes. Entretanto, o fato de o protagonista possuir uma habilidade diferente não faz com que ele seja capaz de desempenhar outras funções, como aconteceu em uma determinada cena, na qual Cris Johnson praticamente se teletransportou na sua mente para vários lugares. Outro revés do roteiro consiste na falta de motivação geral dos personagens principais, principalmente para tentarem resolver a situação trágica, que é a presença de uma bomba que matará várias pessoas em Los Angeles. O objetivo da vida de Johnson parece ser conhecer Elizabeth Cooper, sem nenhuma explicação aparente. Quando a conhece e passa a compartilhar de uma relação de um dia com ela, os dois aparentam estar extremamente felizes e disporem de uma confiança fora do normal. Em relação aos terroristas, não foi explicado o porquê de almejarem explodir uma bomba em plena Los Angeles, por exemplo.

A trilha sonora de Mark Isham (mesmo compositor de “Crash – No Limite”), embora realmente seja bem composta, permanece, algumas vezes, um pouco exagerada ou carregada de dramaticidade desnecessária. O uso da técnica de chroma key, por sua vez, somente fez com que a película ganhasse um caráter artificial, já que, em muitas ocasiões, o espectador percebe facilmente o fundo verde. Devido a isso e alguns outros fatores, as conversas no carro, por exemplo, sempre são irritantes.

Em relação a atuações, o filme não é totalmente infundado. Nicolas Cage já possui um nome de peso perante o cinema mundial e, provavelmente, apenas em ter seu nome atrelado a alguma produção, muitos cinéfilos já irão assisti-la. Também produzindo “O Vidente”, Cage pareceu investir bastante neste projeto, o que talvez não tenha sido suficiente para o atingir o sucesso. Já é provado que o ator realmente tem talento, mas neste longa-metragem não consegue exteriorizá-lo com afinco. Sem muito auxílio do roteiro, Cage não se envolve com seu personagem, parecendo não saber ao certo como compô-lo. Julianne Moore é outra celebridade cujo nome chama vários espectadores, o que provavelmente foi o principal determinante para a atriz se juntar ao elenco do filme. Sua personagem não possui o destaque merecido, uma vez que apenas aparece para perseguir o protagonista. Mesmo assim, Moore faz de Callie Ferris uma agente forte e determinada a conseguir o que almeja. Todas as vezes que entra em cena, a atriz rouba todas as atenções. Jessica Biel é a menos famosa do trio em questão. Ainda nova no mercado cinematográfico, a jovem já demonstra possuir um certo talento, embora tenha que aprofundá-lo um pouco mais. A maioria dos papéis de Biel, infelizmente, parece se ater a beleza da jovem, fato que até a prejudica um pouco.

“O Vidente” é mais um exemplar cinematográfico que chegou aos cinemas para decepcionar os espectadores. O maior atrativo do filme consiste nos artistas famosos de seu elenco, os quais até tentam dotar a produção de um aspecto mais envolvente, muitas vezes não conseguindo. Com um roteiro mal trabalhado e personagens sem nenhuma motivação aparente, o longa-metragem provavelmente passará despercebido perante as telonas mundiais.

Andreisa Caminha
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