Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 29 de julho de 2007

Luzes do Além

Com situações previsíveis, "Luzes do Além" demonstra ser apenas mais um exemplar cinematográfico mal sucedido no gênero suspense/terror.

Em 2005, chegou aos cinemas "Vozes do Além", filme estrelado por Michael Keaton que tratava sobre Fenômeno da Voz Eletrônica, através do qual pode-se visualizar, por intermédio de aparelhos eletrônicos, o mundo dos mortos. Embora contasse com um protagonista famoso, o longa-metragem não alcançou o sucesso do público, muito menos da crítica, fazendo com que fosse considerado um dos piores projetos cinematográficos do gênero terror dos últimos tempos. Provavelmente insatisfeita com a fama que a franquia levaria, a Paramount Pictures resolveu fabricar uma seqüência, desta vez chamada de "Luzes do Além". Sem uma continuação lógica da história anterior, o novo condutor do filme gira em torno de outro fato sobrenatural, a Experiência de Quase-Morte (EQM). Mesmo com uma abordagem, de certa forma, diferente, os resquícios negativos deixados pelo primeiro longa-metragem ainda permanecem, mostrando que este segundo filme também não é capaz de fazer com que a franquia seja vista de uma maneira melhor.

Novamente, a história segue um personagem viúvo. Após presenciar o cruel assassinato da sua família, formada por sua mulher e seu filho, Abe Dale parece não agüentar tamanha pressão e decide cometer suicídio. Em estado grave, o sujeito é levado ao hospital e, tecnicamente, morre por alguns segundos. Neste tempo, ele viaja através de um túnel de luz branca e vê sua mulher e seu filho o esperando. Os médicos, então, conseguem trazê-lo à vida novamente. Essa Experiência de Quase-Morte (EQM), no entanto, marcará a vida de Abe, o qual passará a ver uma aura clara ao redor de todas as pessoas que morrerão em breve. Sabendo quando a morte ocorrerá, o homem passa a se tornar obcecado por salvar os indivíduos. Todavia, com o tempo, ele logo perceberá que há um preço a pagar quando se interfere no destino dos seres humanos.

Não sendo capaz de criar uma atmosfera propícia ao suspense, o diretor Patrick Lussier ("Drácula 2000") consegue fazer com que a imagem negativa advinda de "Vozes do Além" sobrecaia também ao redor de "Luzes do Além". Dessa vez abordando outro fenômeno sobrenatural, a história parecia ganhar uma força maior, porém, infelizmente, isso não acontece. Algumas vezes, é percebida a tentativa de despertar no público um medo, todavia todas as situações parecem exageradas demais, apenas demonstrando que ocasiões perceptivelmente armadas não tornam nenhum projeto cinematográfico mais interessante. Embora os fantasmas vistos no decorrer do filme tenham sido, em geral, bem criados, algumas cenas que precisaram de uso de efeitos foram mal manipuladas, não possibilitando que a aparência das mesmas despertasse um envolvimento maior do público com a história. Um dos exemplos do fato citado é quando o protagonista permanece entre a vida e a morte. Durante essa passagem, Abe parece planar em meio a várias luzes brancas artificiais e só, trazendo certo tédio e desinteresse aos espectadores.

O roteiro, escrito por Matt Venne, também não pode ser visto como um dos mais primorosos. Até certa parte do filme, o público é levado a acreditar que serão visualizadas "aventuras" de um aspirante a super-herói que, como é capaz de ver as pessoas que têm uma morte iminente, decide salvar todas elas. Saindo totalmente de foco, a história passa a abordar outra vertente, a qual gira em torno que todos devem saber que não podem alterar o sentido lógico da vida. Nesta segunda parte, notavelmente pode ser feita uma comparação de "Luzes do Além" com "Premonição", no qual a morte também prega certas peças nos personagens. Logo, nota-se que originalidade não foi o forte da história. Entretanto, ao optar por não dar tanto destaque à vida do protagonista antes do cruel assassinato, Venne possibilitou que mais premissas de terror/suspense fossem abordadas – o que não significa que realmente foram abordadas, vale ressaltar. Também por este fato, o espectador passa a criar um vínculo maior com a trajetória de Abe e não somente com a de sua família em geral.

Excluindo alguns poucos fatos positivos, como o citado anteriormente, a história é dotada de situações previsíveis, fazendo com que os sustos sejam poucos no decorrer da produção. Aliás, a principal responsável por dotar as cenas de um caráter que aborda melhor o suspense é a trilha sonora. Em meio a tantas características negativas, se formos comparar, as melodias até que trouxeram uma sombriedade maior ao longa-metragem. Ainda, os sustos são advindos mais pelo auxílio da música alta do que pela composição de seqüências assustadoras em si.

Um quesito que se mostrou totalmente certo foi a escolha do protagonista. Nathan Fillion, de algumas outras produções como "Seres Rastejantes" e "Serenity", pareceu se enquadrar perfeitamente no personagem, dotando Abe de um caráter frágil, quando necessário, e, ao mesmo tempo, decidido. Em sua constante busca em ajudar as pessoas, seja salvando-as da morte ou procurando consertar os fatos errados anteriormente, o personagem ganha uma simpatia do público, a qual é responsável por fazer com que os pontos negativos do filme sejam deixados um pouco de lado. A simpática enfermeira Sherry, interpretada por Katee Sackhoff, é outra que merece ser citada. Embora o seu papel, no começo, não seja tão desenvolvido, com o decorrer da projeção, vai recebendo o destaque merecido e é essencial para o desfecho regular da trama. Sackhoff transportou para Sherry toda a maneira doce e delicada que a personagem deveria possuir.

Demonstrando pelo menos um certo controle de tempo, o diretor Patrick Lussier não desperdiçou totalmente seu esforço neste filme, que, embora não seja um exemplar bem sucedido do gênero terror, deve se mostrar melhor do que "Vozes do Além", primeiro longa-metragem da franquia. No entanto, aquela pessoa que procura um suspense primoroso que mexa com os nervos e provoque vários sustos, definitivamente não encontrará isto em "Luzes do Além". Enquanto isso, fica a esperança que outros projetos que abordam fatos sobrenaturais e precisam de uma dose de suspense sejam desenvolvidos para os cinemas.

Andreisa Caminha
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