Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 28 de junho de 2007

Ratatouille

A Pixar consegue mais uma vez apresentar um mundo novo e absolutamente maravilhoso ao público. Dificilmente alguém sairá do cinema decepcionado com a combinação maestral de ingredientes que fazem de "Ratatouille" o filme mais delicioso de 2007 até agora.

Após o sétimo filme, é possível afirmar com absoluta certeza que a Pixar não comete erros. São sete sucessos e sete histórias fantásticas apresentadas a partir de uma animação impecável. Era de se esperar que as técnicas evoluíssem, mas não necessariamente os roteiros, que guardam uma inocência adulta capaz de levar pais e filhos às lágrimas ou às gargalhadas. O estúdio de animação Pixar evoluiu em todos os aspectos e conseguiu mais uma vez produzir um filme nada menos do que excelente.

Começamos a projeção em uma cidadezinha do interior da França, próximo a Paris. O rato Remy sabe que tem um talento: é capaz de identificar aromas e ingredientes melhor do que qualquer um. Isso o torna consultor da colônia de ratos, aceitando o trabalho de alertar seus amigos e familiares caso veneno para rato faça parte do banquete do lixo.

Remy, diferente de seu pai e de seu irmão Emile, se importa e muito com o que coloca na boca. Ele sabe apreciar a combinação de ingredientes completamente diferentes e através do paladar é capaz de atingir um nível de compreensão sensorial de fazer inveja. Somente nessa seqüência a direção de Brad Bird (“Os Incríveis”) e a maestria da Pixar já mostram sua excelência. Enquanto experimenta os alimentos que encontra na cozinha de uma senhora, Remy consegue ver e ouvir a combinação de notas, cores e formas que deixam o paladar ainda mais especial. Nunca um morango de computação gráfica pareceu tão saboroso.

A ambição e a vontade do pequeno rato o coloca em apuros. Remy é separado de sua colônia e, conseqüentemente, de sua família e se encontra sozinho no esgoto. Surge então Gusteau. Apesar de ser (como ele mesmo faz questão de evidenciar) apenas fruto da imaginação de Remy, Gusteau mostra ao rato que todos podem cozinhar. No passado, seu restaurante era o mais famoso da cidade. Um crítico culinário destruiu a carreira e o mote do chef e o restaurante perdeu uma das cinco estrelas que exibia. A morte de Gusteau custou a segunda estrela.

“Todos Podem Cozinhar” não é só o slogan de “Ratatouille”, mas também a convicção de cada um que sairá da sessão do cinema. Remy é levado ao restaurante de Gusteau, onde conhece o desastrado Linguini, um ajudante de cozinha que tenta consertar uma de suas trapalhadas. Remy, mesmo contra a vontade, melhora a receita da sopa estragada por Linguini e o prato é servido a uma crítica gastronômica que ama a combinação de sabores.

O novo chef do restaurante “Gusteau” precisa manter Linguini, enquanto este precisa da ajuda de Remy para refazer a agora famosa sopa. Surge então uma parceria. Linguini ajudará Remy a se tornar o que sempre sonhou, um grande chef, e Remy ajudará Linguini a manter seu emprego.

Nenhuma outra palavra além de delicioso vem à mente quando se pensa em “Ratatouille”. Impossível não encher a boca de água a cada ingrediente que Remy acrescenta em um prato ou apreciar os sutis olhares e expressões que tornam cada imagem ainda mais saborosa.

O mérito de “Ratatouille” está principalmente na animação. A escolha das cores, algo um pouco mais pastel do que as cores vibrantes de “Procurando Nemo” ou “Os Incríveis”, por exemplo, torna a experiência ainda mais real e envolvente. As expressões faciais são impecáveis e transcrevem emoções que nem todo ator consegue captar em um olhar.

Durante as quase duas horas de exibição é possível se perder na cozinha de um dos maiores restaurantes de Paris e sentir o aroma de cada uma das panelas preparadas no fogão. O vilão do filme, personificado pelo chef Skinner, é a falta de tato e a falta de vontade em experimentar novas combinações gastronômicas e a acomodação em fast-food.

O crítico Anton Ego, responsável pela decadência do restaurante após uma péssima crítica, representa a mesma descrença da qual sofrem também o pai de Remy, a cozinheira Colette e os outros personagens ao não aceitarem que Linguini, um desastrado ajudante de cozinha, ou Remy, um rato ambicioso, podem cozinhar.

Adultos e crianças podem sentir falta das piadas ótimas que pontuam a maioria dos filmes da Pixar, mas nunca irão se decepcionar com a história de Remy e Linguini. “Ratatouille” é capaz de fazer qualquer criança querer provar rabanetes e cogumelos e a levar qualquer adulto à Paris.

A beleza de “Ratatouille” está nos detalhes, nos pequenos ingredientes, nos temperos. Está na combinação de todas as pequenas coisas para, no fim, apresentar a experiência deliciosa que é degustar cada um de seus personagens e dramas pessoais. Dificilmente aparecerá em 2007 filme mais bem feito, mais interessante ou mais envolvente.

Lais Cattassini
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