Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 05 de junho de 2007

Extermínio 2

A despeito de algumas falhas, "Extermínio 2" é um bom filme, que continua a história do exemplar original, reconhecendo e aproveitando seu potêncial. Tenso, eventualmente assustador e visualmente rico, o longa combina ação e terror na medida certa.

"Extermínio 2" é um longa de Danny Boyle sem a presença do diretor britânico. O cineasta Juan Carlos Fresnadillo compreendeu que o diferenciava o original dos clássicos do terror feitos por George Romero ou mesmo da série "Resident Evil" era o estilo único presente nos filmes de Boyle, algo que abrange desde seu senso estético à suas pertinentes (e típicamente britânicas) críticas a sociedade. Respeitar essa peculiaridade e não tentar forçar um estilo foi um grande acerto por parte de Fresnadillo, assim como a escolha de não revermos os sobreviventes do filme anterior. Assim como o longa de 2003 conseguiu transformar um argumento fantasioso em realista, essa continuação mantém essa postura, mas também assume o papel de lidar com as conseqüências daquela epidemia que transformou boa parte da população inglesa em zumbis (ou "infectados", como eles são chamados nas duas produções).

O filme, escrito a oito mãos pôr Rowan Joffe, Jesús Olmo, Enrique López Lavigne e pelo próprio diretor, começa mostrando um grupo de pessoas refugiado num pequeno chalé, durante a crise mostrada em "Extermínio". Quando um grupo das criaturas invade o lugar, apenas um deles, Don (Robert Carlyle), consegue escapar, deixando sua esposa para trás. Várias semanas após o início do contágio e a morte dos infectados por fome, tropas da OTAN lideradas por forças dos Estados Unidos, começam a limpar a Grã-Bretanha e prepararam sua repovoação enquanto administram o lugar, numa irônica inversão da relação de Colônia-Metrópole que existia até o século 18 entre os dois países. Enquanto os soldados americanos se encontram frustrados e entediados por não entrarem em combate, Don consegue um emprego em um dos setores de habitação civil e se prepara para receber de volta seus filhos, Tammy (Imogen Poots) e Andy (Mackintosh Muggleton), que estavam na Espanha durante os ataques. Porém, mal sabem eles que ainda existe um transmissor do vírus a solta e que todo o inferno está para recomeçar.

Em filmes como esse, que lidam de forma mais pé-no-chão com temas absurdos, interpretações canastrãs podem colocar todo o projeto a perder. Graças a um elenco bem escolhido, isso não acontece em "Extermínio 2". Dois velhos conhecidos dos filmes de Danny Boyle marcam presença aqui, Robert Carlyle (de "Trainspotting – Sem Limites") e Rose Byrne ("Sunshine – Alerta Solar"). Carlyle interpreta Don ressaltando suas características trágicas, já que se trata de um homem que tenta recomeçar a vida após a trágica perca da esposa. Carregando uma culpa por ser o único sobrevivente de seu grupo, ele vê no retorno dos filhos uma fagulha de esperança. Já Byrne encontra em Scarlet uma personagem bastante parecida com a que interpretara em "Sunshine". Oficial médica encarregada na missão americana à Inglaterra, ela acaba imersa no caos que se segue. Imogen Poots e Mackintosh Muggleton se saem bem como os jovens irmãos Tammy e Andy. Poots escapa do estereótipo de "garota adolescente em perigo" graças a uma expressiva atuação, enquanto Muggleton exala a inocência que uma criança de sua idade teria numa situação como a que enfrenta. Ademais, ambos possuem uma ótima química juntos, mais do que adequada para o carinhoso relacionamento de seus personagens. O carismático Jeremy Renner encarna o soldado americano Doyle de maneria enérgica, algo necessário para marcar os dois momentos distintos encarados pelo militar. Já Harold Perrineau tem uma participação rápida no filme e o seu personagem, Flynn, não consegue fazer muita coisa além de causar raiva no espectador.

Juan Carlos Fresnadillo emula com perfeição o estilo Boyle de direção. Em sua primeira empreitada no comando de uma grande produção, o espanhol concebe algumas cenas de arrepiar, em especial uma que ocorre na praça principal de habitação dos civis, onde a preocupação destes não é somente com os infectados, além de uma ótima seqüência que se passa nos túneis subterrâneos da capital inglesa (que deve boa parte de seu impacto graças a ótima fotografia). Criando um clima assustador durante todo o filme, o diretor se sai muito bem em sua estréia e aguardo ansioso para saber o que ele, que já fora indicado a um Oscar de melhor curta, pode fazer livre de amarras criativas.

Utilizar de parte da equipe responsável pelo primeiro filme ajudou a manter um clima de continuidade em relação ao primeiro. O editor Chris Gill é um dos egressos da equipe responsável pelo original e seu bom trabalho consegue manter a adrenalina do público a toda, juntamente com a eletrizante trilha composta por John Murphy. O clima realista do filme é ressaltado pelos figurinos de Jane Petrie, pela equipe de direção de arte, chefiada por Patrick Rolfe e do design de produção realizado por Mark Tildesley, também vindos do primeiro filme. A direção de fotografia, feita por Enrique Chediak é outro digna de elogios, sendo incrível que ele tenha trabalhado no menos que medíocre "Turistas".

Mostrando que o ser humano pode ser tão perigoso quanto qualquer criatura que a ficção possa criar, "Extermínio 2" é um ótimo exemplar em seu gênero e, apesar de um escorregar em alguns pontos da projeção (principalmente no seu final), vale a pena ser assistido.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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