Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 19 de julho de 2007

Por Um Fio

Um suspense que traz a arriscada proposta de se desenvolver em um único ambiente e capturar o interesse do espectador através da tensão psicológica. “Por um Fio” tem muitos fatores que podem dar errado, mas dentro de suas falhas e possibilidades, acaba conseguindo agradar.

Ao ler a sinopse de “Por Um Fio”, o espectador em potencial pode ter a impressão de que o filme que o aguarda deverá cair no tédio antes da metade de sua história. As possibilidades de uma produção de suspense ambientada unicamente em uma cabine telefônica e na rua em que ela é localizada pode, a princípio, causar certo estranhamento, mas a pré-opinião logo será dissipada se for dada uma chance ao longa. O nome do veterano diretor Joel Schumacher também pode ser fator positivo para quem ainda está cogitando assistir ou não ao filme. Com uma filmografia que conta com dois filmes da franquia “Batman” e elogiados dramas como “O Cliente”, entre outros, Schumacher se torna quase um símbolo de boa qualidade.

O roteiro em si é algo digno de cinema, literalmente. O publicitário Stu Shepard, um homem de personalidade aparentemente medíocre, é casado, mas liga diariamente para uma atriz por quem se interessou e para quem diz que é solteiro. Para que sua esposa não desconfie da potencial traição, ele faz seus telefonemas de uma cabine telefônica situada em uma avenida de Nova York. Em uma de suas idas ao local, ele atende um telefonema inesperado. Após se irritar inicialmente, Stu descobre que em está do outro lado da linha é um serial killer disposto a matá-lo ao sinal de qualquer desobediência às suas ordens.

O argumento inicial se mostra interessante, porém não livre de algumas falhas. O serial killer em questão, um personagem que teria inúmeras possibilidades de ser explorado quanto ao fator psicológico ou motivo que o leva a matar suas vítimas, acaba sendo revelado como um homem que ataca as pessoas com o único intuito de fazê-las pensar em seus atos e se redimir de seus erros. O vilão, neste caso, faz todo um terrorismo com Stu apenas para fazê-lo contar a verdade para sua esposa. Não é que a proposta seja fora de propósito, mas outros filmes já abordaram esse tipo de vilão de uma maneira mais bem construída, como “Jogos Mortais”, filme em que o assassino Jigsaw mata as pessoas que não dão valor às suas vidas como uma espécie de vingança pela sua própria condição, já que tem uma doença terminal.

Ainda dentro do quesito personagens, apesar das falhas já citadas em construir um vilão mais plausível, um trunfo do filme se mostra na maneira como foi conduzida a relação mocinho/vilão. Durante todo o longa, o antagonista apenas é apresentado através de sua voz, que mantém contato com Stu ao telefone. Dessa forma, quem assiste à versão dublada perde muito ao conhecer o personagem, além de tê-lo de uma forma caricaturada. A versão legendada consegue mostrar o serial killer de uma forma detestável, ainda que não cheguemos a vê-lo até o final. O desfecho, que foge do velho clichê “o bem vence o mal”, também se torna uma boa sacada, se mostrando mais condizente com a inteligência do vilão do que um castigo já esperado e a redenção para o protagonista.

Como o formato peculiar de ambientação da trama, apesar de ser interessante, deixa poucas possibilidades a serem exploradas no aspecto técnico, o maior quesito a ser comentado é exatamente o elenco. Colin Farrell, que segundo a opinião da crítica em geral, nunca foi um grande ator, tem um desempenho até surpreendente no papel em questão. Os personagens femininos, ambos com relativo pouco destaque, também trazem intérpretes adequadas. A maior notoriedade do elenco vai mesmo para Kiefer Sutherland, que consegue construir um ótimo vilão contando apenas com a voz.

No mais, o argumento do roteiro, ajudado pela pouca duração do filme – apenas 80 minutos – combinam-se de forma a gerar um bom entretenimento para os espectadores. Não livre de clichês e de falhas, “Por Um Fio” também tem lá seus méritos. Para quem não espera algo extraordinário de um filme, vale a pena conferir.

Amanda Pontes
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