Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

Amor Não Tira Férias, O

O final feliz está presente; é fato em filmes do gênero. Todavia, o caminho levado para alcançá-lo é que faz de "O Amor Não Tira Férias" uma ótima pedida de final de ano.

Quanto mais o final do ano se aproxima, mais alguns sentimentos de afeição vão se (re)aflorando. Pode até ter quem não goste de expressá-los, mas essas sensações estão lá, muitas vezes, crescentes. Para brindar tal momento do ano, são lançadas algumas celuloses com um caráter bem diferenciado das demais. Caráter esse que talvez não funcione em outras épocas do ano. "O Amor Não Tira Férias" (chata tradução para "The Holiday") segue bem essa linha, parecida com a de "Simplesmente Amor", "Tudo Acontece em Elizabethtown' e etc…

A trama central do filme acompanha duas personagens insatisfeitas com o atual momento de suas respectivas vidas amorosas. Esse momento influencia, sobretudo, no humor e no dia a dia dessas duas. Elas são Amanda (Cameron Diaz, de "As Panteras") e Íris (Kate Winslet, de "Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças") que, para dar novos rumos para seus cotidianos, resolvem uma ir para a casa da outra – um intercâmbio de vida, digamos assim. Para representar ainda mais essa mudança, Íris mora na Inglaterra, e Amanda em Los Angeles, Estados Unidos. Ambas "cultivam" praticamente os mesmos problemas, mas, logicamente, com abordagens diferentes, haja vista a subjetividade de cada uma.

Como dito, o longa segue a linha dos lançamentos de término de anos, responsáveis por tentar cativar o espectador. "O Amor Não Tira Férias" realmente consegue cativar. Ora, um roteiro bem acabado, elenco famoso e majoritariamente competente, condução que mantém um equilíbrio do início ao fim e tudo somado a uma trilha sonora que, apesar de simples, prima pela excelência. Com tantos atributos positivos, o título torna-se um dos melhores desse gênero nos últimos anos (veja bem: últimos anos). Lógico, alguns "por menores" não permitem ao filme ser considerado o melhor dessa linha, mas está aí, de certo modo, para demorar a ser esquecido.

Um dos fatores deveras satisfatório é o roteiro. É usando bem os conhecidos clichês que ele até se torna diferenciado. Ora, o clichê existe e fugir dele em comédias românticas do tipo é praticamente inviável. Agora, usá-los corretamente e bem distribuídos ao longo da trama já fazem a previsibilidade – que sempre culmina com um fim feliz – bem mais agradável e aceitável – digo aceitável, mas não no sentido de ser algo fora dos padrões de realidade, pelo contrário e longe disso.

Quando se tem um bom roteiro, dirigir o filme torna-se até um pouco mais fácil. E quando roteiro e direção pertencem à mesma pessoa, melhor ainda. Foi sendo simples e bem direta que Nancy Meyers, diretora que já demonstrou categoria no gênero com o filme "Alguém Tem Que Ceder", conseguiu alcançar os propósitos que longas do tipo almejam. Os tons de comédia pastelão é que deixam a condução ainda mais tranqüila e, evidentemente, divertida.

Para melhorar a situação, só mesmo o fato de se ter bons e experientes atores no elenco. Cameron Diaz é quem mais dá o tom pastelão à comédia. Talvez ela seja quem menos manteve uma linha do início ao fim com sua personagem, mas colocou-se muito bem nos melhores momentos de humor do filme. A competente Kate Winslet (que está com um visual singelo, mas muito belo) também se apresenta bem. Até seu belíssimo sotaque britânico não é à toa, na verdade, é o charme a mais para a personagem e, lógico, para encaixar bem com o roteiro. Saindo de seu estilo normal de personagens está Jack Black ("Escola de Rock"). O ator não se mostra totalmente confortável no papel, mas a sua qualidade limpa esse desfavorável fator. A expressividade de Jack faz o personagem Miles um dos melhores, mesmo só tendo mais destaque na segunda metade do filme, onde ele protagoniza alguns momentos deveras divertidos. Por outro lado, sem conseguir cativar, observamos Jude Law. Ele deixa bem claro que suas habilidades de atuar não são para esse gênero.

Se há um nome que faz valer quando o assunto é trilha sonora, esse é Hans Zimmer. Responsável pelas trilhas do filme, ele realmente soube muito bem ministrar as músicas com simplicidade, algo que se encaixa muito bem com o roteiro e os outros elementos do longa. Não é a toa que ele já trabalhou nas trilhas sonoras de "O Código da Vinci", "Batman Begins", "Madagascar", "O Último Samurai", "Falcão Negro em Perigo", "Gladiador", "Piratas do Caribe", "O Sol de Cada Manhã" e uma leva ainda muito gigantescas de ótimos títulos. Inclusive, passando por todos esses filmes, ele só vem a demonstrar que sabe trabalhar com música seja em qual for o gênero. Sua abordagem nesse de agora é muito parecida com a de "O Sol de Cada Manhã" – filme também muito atraente e estrelado por Nicolas Cage e Michael Caine.

Sem dúvidas, o longo tempo de duração atrapalha. São duas horas e quase vinte minutos que, se melhor comprimidos, poderiam ser bem mais acessíveis. Entretanto, se você já se cativar pela estória desde o começo, esse probleminha já não influi no geral, mas nem todo mundo é fácil de ser cativado assim.

Raphael PH Santos
@phsantos

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