Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 24 de setembro de 2006

Terror em Silent Hill

Um dos jogos mais famosos ganhou finalmente sua adaptação cinematográfica, gerando nos fãs e até nos que não são fãs uma grande expectativa, e acaba dando um show de mistério e suspense, meio a monstros nojentos e sangue, na corrida obsessiva de uma mãe em busca da filha.

"Terror em Silent Hill" conta a história de Rose (Radha Mitchell), uma dedicada mãe cuja filha Sharon sofre de sonambulismo e em seus sonhos menciona sempre a cidade de Silent Hill. Vendo sua filha piorar a cada dia que passa, ela decide não seguir os conselhos médicos para o tratamento da criança, e vai com ela para a macabra cidade, procurando as respostas que precisam. No caminho que faz, Rose acaba batendo seu carro depois de ter visto alguém se movimentar no meio da estrada, o que causaria um atropelamento. Quando acorda, sua filha Sharon está desaparecida e Rose está aparentemente sozinha em Silent Hill, onde começa uma incessante procura pela sua filha, meio a monstros horrendos e mistérios que vão se revelando no decorrer da trama. Para isso, a protagonista conta também com a ajuda de Cybil (Laurie Holden), uma policial durona que vai ser peça útil para o andamento da história.

Vou logo avisar que nunca joguei Silent Hill. É, não joguei. Nunca fui muito fã de jogar games, preferia só assistir os outros jogando. Mas não sou desinformado e já conhecia este macabro jogo desde sempre. Estou falando isso para situar que todas as impressões que eu colocarei aqui serão relacionadas à adaptação para o cinema e pouco vou me referir ao game. De qualquer forma, é a película que importa, não é mesmo? Só quis avisar porque chegaram críticas para mim quando fui escrever sobre "O Código da Vinci" e avisei que não tinha lido o livro, e analisaria somente o filme. De qualquer forma, é bom uma visão de quem nunca manteve contato com o tema abordado porque eu sei que nem todos que vão assistir aos filmes têm esse conhecimento prévio. E como um não conhecedor dos jogos de Silent, o filme me impressionou mais do que eu imaginava. O visual da película arrepia desde os primeiros momentos que Rose chega na cidade-fantasma e transporta o público àquele ambiente desconhecido. Mesmo tendo escolhido mudar o protagonista, que no jogo é um homem e na película ficou a cargo de Radha Mitchell, a trama ganhou mais sensibilidade ao demonstrar o amor de mãe e o amor de filha e até onde isso leva as pessoas. Fora que isso dá margem para explorarem o marido de Rose, interpretado por Sean Bean, na possível continuação da franquia, já que o desfecho do filme dá toda a margem para uma seqüência.

Com uma história envolvente, a peça-chave para o sucesso do longa é a competência de Christophe Gans. Talvez isso tenha se refletido mais na parte da direção do que na adaptação do roteiro, já que esta última acaba dando margem para algumas perguntinhas pertinentes que não são bem explicadas no decorrer da história, mas não tiram a magnitude do que Gans conseguiu criar. Acima de tudo, ele fez as escolhas corretas, desde o elenco à dosagem de suspense e terror na sua trama. Nos primeiros momentos em que Rose procura Sharon em Silent Hill, é interessante analisar como Gans procurou trabalhar Radha Mitchell com o que ela tinha para dar em termos expressivos e corporais, já que poucos diálogos são travados, dando um peso maior ao que a protagonista resolve fazer. Depois isso muda e mostra que os diálogos são delicadíssimos e baseados em uma estrutura religiosa e mítica, que abrilhanta o espectador com o clímax da história.

Gans conseguiu também moderar nos sustos, preferindo tirar o fôlego do público com cada surpresa que Silent Hill mostrava. A protagonista mal terminava uma seqüência e já começava outra e assim o ritmo ia ficando mais intenso e misterioso, misturado ao cenário cuja realidade era tremenda. Até quando foi preciso usar a tela verde, tudo parecia tão real que assustava. Gans estava decidido a inovar na direção. Sempre trabalhando ângulos abertos e planos inusitados, o diretor soube explorar seus objetos em cena e investir em planos parecidos com o que vemos nos games em geral. Sem falar que o tratamento das imagens dos monstros e dos efeitos visuais foram perfeitamente trabalhados, passando uma idéia de realidade fora de série. Sem falar que ele conseguiu extrair o máximo de Radha Mitchell, que se mostrou perfeita para o papel e com um timing para terror-suspense que eu não imaginava que ela tinha. E assim foi do resto do elenco também. Até os que pouco apareceram, acabaram deixando suas marcas e talento expostos.

Um prato cheio para os fanáticos e um verdadeiro ensaio de como prender o espectador, "Terror em Silent Hill" tem um visual impecável e mostra-se como uma das melhores opções do gênero dos últimos tempos, fugindo de alguns clichês, mas ao mesmo tempo dando pouca importância para alguns fatos da história, o que não atrapalha, mas deixa com o gostinho de "poderia ser melhor". Dispondo de uma trilha sonora que vai evoluindo com os fatos e não só pontua tais fatos, o longa deve desapontar poucos. Não é uma obra-prima, mas é mais do que um entretenimento, cheio de pontos altos e surpresas.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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