Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 16 de setembro de 2006

Dois é Bom, Três é Demais

"Dois é Bom, Três é Demais" chega sem acrescentar nada ao gênero comédia descartável. E mais: extremamente cansativo, torna-se uma opção dispensável para quem procura um filme que ofereça no mínimo diversão sem compromisso.

Não é segredo para ninguém que Hollywood costuma lançar comediazinhas vazias para movimentar seu mercado massivo. Também não é de se estranhar que esses filmes até ofereçam certo retorno para os estúdios e produtores devido ao público alvo, que costuma se contentar com o chamado divertimento descartável. Dentro dessa categoria, no entanto, ainda conseguimos, por vezes, nos surpreender com produções tão medíocres, que chegam a causar dúvidas quanto ao motivo pelo qual foram, de fato, realizadas. "Dois é Bom, Três é Demais" chega como um exemplar desses filmes que conseguem se superar dentro da categoria, deixando o espectador que se dispôs a assisti-lo decepcionado.

A trama nem de longe tem ar de inovação – o que não seria um problema, desde que tivesse sido bem explorada. Os recém-casados Carl e Molly parecem estar começando uma nova vida, repleta de felicidade, quando Dupree, padrinho do casamento e melhor amigo do noivo, precisa passar uns dias hospedado com o casal, causando uma série de inconvenientes, que acabam se tornando problemas sérios. Ok, pode não ser o roteiro mais bem bolado de todos os tempos, mas se tratando de uma comédia e pela premissa da sinopse, espera-se no mínimo situações engraçadas e boas piadas no decorrer da história. Não é isso que vemos, no entanto. O que poderia ter sido uma comédia descartável, mas que proporcionasse pelo menos algum divertimento ao espectador, acaba se mostrando um exercício de paciência a quem o assiste. "Dois é Bom, Três é Demais" se desenvolve de uma maneira tão cansativa que seus relativamente poucos 108 minutos parecem passar demasiadamente devagar. O pior de tudo é que, apesar de aparentemente pretender dar muitas voltas, a trama não parece sair do lugar. Tudo é previsível demais e os clichês, mais do que nunca em uma comédia desse tipo, se fazem visivelmente presentes.

O elenco também não contribui para o sucesso do filme. O casal interpretado pela desprovida de atrativos Kate Hudson e o quase mecânico Matt Dillon não parece ter química alguma e não convence o público. Owen Wilson – que costuma se sair bem quando se mete a fazer comédia – na pele do inconveniente Dupree não consegue o timing para bons momentos cômicos, protagonizando por vezes piadas e situações que beiram o ridículo de tão forçadas. Para não dizer que tudo é deplorável no quesito elenco, Michael Douglas, em sua pequena participação, ainda mostra alguma competência em sua função ao interpretar o desagradável pai da noiva, que faz de tudo para irritar o marido de sua filha. O veterano ator parece até deslocado numa produção tão dispensável.

De tão medíocre, o filme nem sequer deixa muitos aspectos a serem comentados (tanto positiva como negativamente). A trilha sonora parece totalmente inadequada às situações onde é inserida, parecendo que foi feita para qualquer outro filme, menos esse. O desfecho chega a ofender a inteligência do espectador de tão óbvio que se demonstra. Dentre diversos filmes do gênero de qualidade duvidosa, "Dois é Bom, Três é Demais" consegue se destacar por realmente deixar o público que possui o mínimo senso crítico com a dúvida do porquê ele foi realizado.

Com um festival de aspectos dispensáveis, essa comédia se torna a última das pedidas quando o assunto é arranjar um bom filme ou uma produção que traga, pelo menos, algum divertimento. Nem mesmo os fãs das comédias descartáveis devem se deixar agradar por "Dois é Bom, Três é Demais". Dica preciosa: é melhor reservar esses sofridos 108 minutos para algo mais produtivo.

Amanda Pontes
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