Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças

Brilhante, deslumbrante, inexplicável! Horas e horas de elogios não descreveriam a beleza e encanto de "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças". Sinceramente, tinha dúvidas se daria a nota máxima ou 9,0. O filme é ótimo, incrível. Em minha modesta opinião, talvez um dos melhores que já assisti. Farei apenas uma ressalva, pois há quem não goste de filmes nesse gênero. Porém deixemos para depois essa questão. Afinal, a nota DEZ é merecida. E muito merecida, diga-se de passagem!

Inicialmente, a trama relata de maneira "misteriosa" a melancólica vida de Joel Barish (Jim Carrey). Ele mostra-se insatisfeito e triste com tudo o que sua vida o oferece e, após um ato impulsivo, acaba "conhecendo" (por assim dizer, já que ele não está literalmente a conhecendo) Clementine Kruczynski (Kate Winslet), uma garota extrovertida (pelo menos, é o que aparenta) e que acaba, de uma maneira repentina, conquistando a atenção e o carinho de Joel. A história acaba sendo revelada aos poucos e mostra que, na verdade, eles já tinham um longo relacionamento antes mesmo de se "conhecerem" e não lembram de nada por terem sofrido um processo para apagarem as memórias e lembranças que tinham desses momentos juntos. Inicialmente, é Clementine que faz o tratamento para apagar Joel de sua memória. Logo depois de saber do fato, ele faz o mesmo, revoltado com a atitude dela e tentando superar seu amor. No entanto, no meio do processo de Joel, ele começa a se dar conta de que não quer apagá-la da memória e faz de tudo para que isso não aconteça, tentando colocá-la em momentos em que ela não estava presente. Em meio a toda essa história, outras situações ocorrem, relacionando-se diretamente com a história do casal. Confuso? Não, caro leitor, você entenderá perfeitamente ao assistir esta obra-prima.

Com o decorrer da trama, diversos acontecimentos marcam um roteiro maravilhoso e incrivelmente bem desenvolvido, através de uma história magnífica e, de certa forma, comum por se tratar de acontecimentos e situações vividas por qualquer pessoa. Sendo assim, qualquer um pode se identificar facilmente com os sentimentos e pensamentos de Joel e, conseqüentemente, de Clementine. Através de uma ótima edição de imagens, além de incríveis situações para representar a memória de Joel, Charlie Kaufman conseguiu desenvolver um roteiro perfeito, sem furos, que aos poucos revela fatos inusitados os quais solucionam todas as dúvidas iniciais da mente do espectador, mantendo-o ligado nos acontecimentos do filme todo momento, pois, a cada nova situação apresentada, novos fatos trazem surpresas e desvendam a história de maneira única e inesquecível.

As atuações são simplesmente excelentes. Com exceção de um ou outro detalhe, o elenco foi muito bem em um aspecto geral. Individualmente, a atuação de Jim Carrey está sensacional, brilhante, inexplicável! Depois de "O Show de Truman", ele consegue novamente mostrar que não é apenas um excelente ator em comédias. Sou suspeito para falar sobre Carrey por admirar muito suas atuações, mas ele traz um nível de melancolia e nostalgia a Joel que dificilmente outro ator poderia ser visto no personagem. A emoção e realidade também são muito bem representadas por Kate Winslet. A atriz soube perfeitamente incorporar a "perturbada" Clementine, fazendo um par inigualável com Carrey. Chego até a achar que os dois foram feitos para os papéis tamanha a identificação que eles conseguem ter com as personagens, transmitindo emoções de forma extremamente realista e marcante. Com relação ao resto de elenco, nada de muito destaque, mas que também não compromete, pelo contrário. Todos são ajudados pela ótima direção de Michel Gondry (os elogios ao restante da equipe técnica virão logo a seguir). Tenho que confessar que nunca fui um grande fã das atuações de Elijah Wood (o eterno Frodo de "O Senhor dos Anéis") e também gostei de Kirsten Dunst apenas em alguns poucos trabalhos. Porém, em "Brilho Eterno", seus papéis não são tão grandes e eles ainda conseguem pegar o embalo na perfeição do longa e até se saem bem. Inclusive você até chega a sentir um pouco de revolta com as atitudes do personagem de Wood.

Agora a parte técnica! O que é essa direção de Michel Gondry? Excelente! O cineasta passa os sentimentos certos nas medidas exatas e nos momentos oportunos. Chega a ser impossível não se identificar com as expressões de Carrey e Winslet nos momentos que representam o relacionamento do casal. Independentemente da direção nas atuações, ele faz um ótimo trabalho num contexto geral. A produção também vai muito bem nas mãos de Anthony Bregman e Steve Golin. Pode-se dizer que, analisando basicamente, a questão técnica do longa chega muito próxima do impecável (isto é, se não chegou).

Enfim, "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças" é um espetáculo. Difícil encontrar um simples e único fator que não agrade. A ressalva citada no início do texto fica apenas por conta de quem não gosta de filmes que exijam um mínimo de atenção. E digo isso apenas porque sei que existem pessoas que facilmente parariam de ver o filme logo nos primeiros minutos por ele parecer "entediante" ou "monótono" (para algumas pessoas, é claro). Por favor, assista até o final (caso você realmente não goste do começo). Tenho certeza que, caso seja esse tipo de pessoa, você pode acabar se surpreendendo com a magnitude do filme.

Vale a pena assistir? Não. Vale MUITO a pena assistir! Não se assuste com o meu entusiasmo ao falar de "Brilho Eterno". Eu realmente não faria tantos elogios se não tivesse ficado extremamente satisfeito com o longa. Cabe agora a você, caro leitor, conferir se estou exagerando ou se, realmente, o filme é maravilhoso como exalto e idolatro aqui.

Ícaro Ripari
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