Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 12 de setembro de 2006

Maior Amor do Mundo, O

"O Maior Amor do Mundo" traz Cacá Diegues em sua forma mais característica. Porém a história acaba se perdendo em sua proposta, deixando o espectador com a impressão de ter perdido alguma informação importante no meio do caminho.

Quem conhece, pelo menos superficialmente, o estilo do cineasta brasileiro Cacá Diegues sabe que ele imprime um certo tom recorrente em todas as suas produções. A maneira de retratar histórias com uma estética e atmosfera particularmente brasileiras e, por assim dizer, cruas se tornou uma espécie de marca registrada do diretor. Foi assim em alguns de seus mais conhecidos filmes como "Orfeu" e "Deus é Brasileiro" e continua sendo com "O Maior Amor do Mundo", uma história com potencial para ter sido bem melhor explorada, mas acaba sendo um exemplar do descuido em termos de produção.

O veterano José Wilker vive Antônio, um conceituado astrofísico que retorna ao Brasil, seu país de origem, para receber uma homenagem pelo seu trabalho depois de muitos anos morando nos Estados Unidos. Antônio está com um tumor no cérebro e tem pouco tempo de vida, fato que faz seu pai adotivo revelar informações sobre sua verdadeira mãe. A partir daí, ele parte em uma investigação particular a fim de descobrir mais sobre sua origem. No caminho, ele se depara com um mundo bastante diferente do que estava acostumado, na periferia do Rio de Janeiro, e acaba experimentando sensações e acontecimentos totalmente novos para um homem teoricamente experiente.

A história tem potencial, isso ninguém pode negar, principalmente por ter sido escolhido um formato de intercalação de épocas para poder compor o seu desenrolar. O que acontece, no entanto, que acaba por deixar o espectador com uma relativa "má vontade" em relação ao filme é um descuido explícito por parte da produção. São cortes estranhos, edição mal feita, trilha sonora mal encaixada, enfim, uma série de pequenas coisas que não passam despercebidas nem pelos mais leigos dos componentes da platéia. "O Maior Amor do Mundo" deixa a impressão de ter sido finalizado às pressas, literalmente do jeito que deu. Por conta disso exatamente é que o filme aparenta estar sem um fio condutor firme. Muitas vezes nos pegamos, no meio da história, com o sentimento de que está faltando alguma informação ou até mesmo alguma lógica para o que estamos vendo.

Em meio a tudo isso, a atuação de José Wilker acaba sendo um dos poucos pontos elogiáveis do longa. O veterano ator consegue, em meio a tanta confusão, imprimir o tom aparentemente adequado ao personagem. Antônio acaba sendo construído como um homem angustiado diante de sua situação e, acima de tudo, perdido em meio a uma realidade nova, com a qual ele está mais ligado do que nunca imaginou. Apesar de não despertar um sentimento definido do espectador com o personagem, esse parece ser exatamente o objetivo dessa trama que está longe de pretender atingir padrões lineares.

Léa Garcia, que interpreta a vidente Mãe Santinha, também dá vida a um papel de destaque, assim como Taís Araújo e o menino Sérgio Malheiros. A primeira interpreta a mulher por quem Antônio cai de amores quando tudo parecia já perto do final em sua vida. O segundo, tendendo para um lado mais caricato, vive Robson, criança desde cedo já envolvida com o tráfico de drogas e a realidade crua da pobreza carioca. O papel do menino, que primeiramente parecia um ponto menos importante da história, acaba ganhando maior importância, mas não convence em vários momentos.

Apesar de um elenco esforçado e, até mesmo, bem sucedido dentro do que se propõe, o que faz com que "O Maior Amor do Mundo" deixe a desejar é realmente sua condução técnica propriamente dita. Com um pouco mais de cuidado e atenção, esse poderia ter sido um filme realmente bom, mas a negligência aparente o torna apenas uma opção a ser deixada de lado ao escolher o que ver no cinema.

Amanda Pontes
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