Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 03 de setembro de 2006

Minha Super Ex-Namorada

A nova comédia dirigida por Ivan Reitman e estrelada por Uma Thurman e Luke Wilson nada mais é do que um divertimento passageiro. Apoiando-se em piadas sem muita criatividade, o longa tenta de várias formas fazer o espectador rir, o que acaba acontecendo em poucos momentos.

Ivan Reitman é um diretor cujos filmes são sinônimos de comédias despretensiosas, como os regulares "Dave – Presidente Por Um Dia", "Irmãos Gêmeos", "Junior", "1 Dia 2 Pais", e os já clássicos "Os Caça Fantasmas 1 e 2". Com esse currículo, e ausente da direção desde 2001 com "Evolução" ele retorna com essa comédia cujo tema é: um homem que namora uma super-heroína, e após terminar com ela, ela passa a persegui-lo usando seus poderes. Com essa temática, logo podemos perceber que o tradicional estilo despretensioso do diretor está mantido, e o que temos é um filme que não devemos levar tanto a sério. Já com essa premissa de ser um filme que se deve ser levado a sério, "Minha Super Ex-Namorada" cumpre o seu dever de divertir e arrancar algumas risadas forçadas. O problema é exatamente esse: a maioria das risadas provocadas são forçadas, e o que prevalece é a sensação de que muitas piadas poderiam ser melhor aproveitadas.

"Minha Super Ex-Namorada" conta a história de Jenny Johnson (Uma Thurman), uma mulher aparentemente normal, mas que esconde superpoderes e responde pelo nome de G-Girl. Ser uma super-heroína têm seus benefícios, mas também suas desvantagens. Ela tem que equilibrar sua vida pessoal com seu trabalho de salvar vidas. Tudo isso muda quando ela encontra Matt Saunders (Luke Wilson). Eles começam a namorar, e Matt acha que é o homem mais sortudo do mundo quando descobre que Jenny na verdade é G-Girl. Após uma paixão inicial, Matt percebe que na verdade é apaixonado por Hannah (Anna Faris), uma antiga colega de trabalho. Ele, então, termina com Jenny e descobre que uma ex-namorada desprezada e vingativa pode ser perigosa. G-Girl usa seus poderes para tornar a vida de Matt um verdadeiro inferno.

A premissa é até interessante, pois quem já passou por um fim de um relacionamento com mal-entendidos ainda a resolver, ver uma ex-namorada com super poderes usando-os para se vingar do pobre homem, é algo embaraçoso só de se imaginar. E esse impasse é o que há de mais divertido, pois é uma situação do cotidiano, acrescida de um forte toque ficcional. E nesse ponto é interessante ver que ao fim de um relacionamento, cada um achar que está com a razão, como em um momento do longa que a G-Girl fala "Eu sou a mocinha, e você quem é o vilão da história". Certamente, muitos homens se identificarão com o personagem de Luke Wilson, e sentirão pena do pobre pelas situações em que ele se vê metido, já muitas mulheres – óbvio, sem generalizações – certamente irão pensar: "ah, como eu queria ter poderes como esses para me vingar daquele safado do meu ex". É aquela velha guerra de egos levada às telas de uma maneira bem criativa, e que abriria um leque para inúmeras situações cômicas.

O problema é que o roteiro de Don Payne (que trata de situações do cotidiano com facilidade, escrevendo vários episódios do seriado "Os Simpsons") não consegue se aprofundar em muitas gags que poderiam muito bem ser exploradas de uma maneira melhor, tornando-se realmente engraçadas. Ele utiliza de vários tipos de humor – pastelão (o momento em que Matt se esconde numa lata de lixo e pega um secador de cabelo para utilizar como arma chega a ser o cúmulo do besteirol), negro, e principalmente os que se aproveitam do ar ingênuo do personagem de Luke Wilson – criando uma mistura confusa, deixando o espectador com aquela sensação de "isso foi engraçado, mas não consegui rir".

Assim, muitas cenas cômicas como a da primeira transa entre eles e a do tubarão, são engraçadas, mas deixam aquela sensação de estarem faltando algo. Coincidentemente, essas cenas foram mostradas no trailer, deixando também o desapontamento por as cenas mais divertidas já terem sido vistas. O trailer em si já representa o que o filme é: engraçadinho, porém besteirol. Há uma seqüência em especial que consegue ser exceção: quando Matt, Jenny e Hannah jantam em um restaurante e há um anúncio no noticiário de TV informando que uma forte ameaça está prestes a fazer uma destruição de escala nacional, e a heroína ciumenta prefere deixar em risco a vida de milhões de cidadãos a deixar seu amado sozinho na mesa com sua concorrente. Um momento que não está nos trailers, e, sem dúvida, o mais cômico do longa… e, infelizmente, o diretor não soube manter essa mesma exatidão nas demais piadas.

Como já informei antes, o melhor do filme é mesmo o embate entre os ex-namorados, mas, infelizmente, o roteiro vacila ao querer incluir subtramas desnecessárias como a inclusão de um super-vilão para a heroína. Tudo bem que era uma peça fundamental para mostrar como ela ganhou tais poderes, mas isso poderia ter sido feito de uma outra maneira, sem que a trama caísse no lugar comum. Há de lembrar também que todo o filme é uma grande fantasia masculina. Mostrar um típico homem comum fazendo sexo com uma heroína em pleno ar, além de uma briga entre duas mulheres, parece que com esses fetiches machistas o diretor Ivan Reitman quis dar um novo ar cômico à produção, o que novamente não é bem sucedido. É uma diversão à parte para os homens, mas que não bate com o objetivo do filme.

O elenco no geral está correto, com destaque para Luke Wilson, que consegue ser engraçado pelo seu jeito natural, com sua já conhecida cara de bobão e o jeito ingênuo. Esse jeito delicado do personagem é o que move toda a graça do filme. Uma Thurman parece estar se divertindo bastante no papel da heroína, fazendo um trabalho convincente, mas sem sombras de mostrar seu real talento. A bela atriz exprime de uma maneira eficiente a dificuldade de manter o dualismo entre a tímida Jenny Johnson e a poderosa G-Girl quando o assunto é ciúmes do namorado. Já Anna Faris, como a rival na disputa pelo coração do personagem de Matt, simplesmente parece continuar atuando nos filmes da franquia "Todo Mundo Em Pânico". Outros personagens secundários merecem destaque, como o melhor amigo de Matt, vivido por Rainn Wilson (do seriado "The Office") que tem bons momentos cômicos em cena, assim como a chefe chata de Matt, vivida por Wanda Sykes, trazendo aquele mesmo ar de mulher rabugenta de sua personagem em "A Sogra". Já é Eddie Izzard ("Doze Homens e Outro Segredo") está caricato ao extremo como o vilão Bedlam, reforçando a maneira estratégica com que fora desenvolvido pelo roteiro.

"Minha Super Ex-Namorada" nada mais é do que uma diversão passageira para que, procura alguns minutos de descontração. Dá, sim, para rir em alguns momentos, mas, infelizmente, a satisfação passa longe de ser completa, culpa do fraco roteiro de Don Payne. É um filme que se esforça para agradar, mas o resultado nada mais é do que mais uma comédia comum e futura "Sessão da Tarde".

Thiago Sampaio
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