Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 27 de agosto de 2006

Trair e Coçar, é Só Começar

Uma comédia que aparentemente não promete muita coisa, mas acaba sendo uma agradável surpresa dentro da expectativa gerada.

As produções brasileiras, digam o que disserem, parecem se dividir em duas categorias maiores: a dos filmes de teor dramático, que geralmente ganham notoriedade pelos prêmios alcançados no país e no exterior, e as comédias medianas, que por sua vez costumam oferecer roteiros medíocres e um elenco freqüentemente recheado de nomes conhecidos para atrair o grande público. "Trair e Coçar, é Só Começar", a princípio, parece pertencer ao segundo grupo de filmes, mas depois de assistir ao longa sem esperar lá grande coisa, acaba-se percebendo que, dentre títulos similares, esse não é um dos piores exemplares.

A história é centrada numa trama simples. Olímpia, a empregada de um casal que está junto há quinze anos, é cheia de boas intenções, mas lhe falta, por assim dizer, um pouco de bom senso. Dessa forma, ela acaba acidentalmente gerando uma série de mal-entendidos relacionados à fidelidade do casal, envolvendo também amigos e vizinhos das "vítimas" de sua língua solta. Paralelamente a isso, a doméstica ainda administra uma paixão meio mal resolvida pelo porteiro do prédio onde trabalha, Nildomar.

Não se trata, de modo algum, de uma trama altamente elaborada nem difícil de entender. A fórmula é bastante simples e a maneira pela qual é conduzida não oferece ao espectador o menor exercício de raciocínio. Basicamente, é o formato exato de um filme puramente comercial, categorizado facilmente como "diversão descartável". Assim, "Trair e Coçar, é Só Começar" deve ser analisado dentro desse limite, sem que se exija do filme algo superior ao que ele se propõe. É justamente limitado nesse aspecto que está meu comentário de que o filme acaba sendo uma agradável surpresa, tendo em vista a qualidade – ou melhor, a falta dela – presente na maioria das nossas supostas comédias.

É bem verdade que "Trair e Coçar, é Só Começar" também se apóia numa fórmula comprovadamente aceita pela grande público televisivo. O filme utiliza-se dos elementos básicos presentes nos programas humorísticos para conquistar a audiência também no formato de longa-metragem. Outro ponto de intertextualidade vem justamente do fato de o roteiro ter sido adaptado da peça teatral homônima, que ficou em cartaz por mais de 20 anos pelo país. Muitos aspectos do próprio roteiro, como também das atuações podem ser associados claramente à linguagem teatral, remetendo às origens da trama.

Adriana Esteves como protagonista mostra-se cumpridora competente do seu dever. Não sendo propriamente uma atriz extraordinária, ela se dá bem no papel e surpreende pelo seu timing para a comédia, principalmente no humor baseado puramente nos diálogos. As assumidamente comediantes como Mônica Martelli, Márcia Cabrita e Fabiana Karla (todas componentes ou ex-integrantes de programas de humor da televisão) também são nomes destacáveis do elenco.

O ponto alto de "Trair e Coçar, é Só Começar", entretanto, talvez seja o tipo de abordagem do humor utilizada. Em vez de tentar fazer um tipo de comédia apelativa, como já está ficando até cansativo de ser ver, a história se apóia numa trama leve, que acaba tendo o lado cômico bem melhor explorado do que nas outras produções do gênero que têm sido lançadas no circuito nacional.

A direção de Moacyr Góes, nome por trás de algumas produções televisivas e outros títulos da Globo Filmes, como "Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida" e "Um Show de Verão", não se faz propriamente um ponto notável nesse filme, mas é algo que permanece dentro dos padrões do mediano.

Como saldo final, temos em "Trair e Coçar, é Só Começar" uma opção bem melhor do que se espera. Quem está justamente atrás da tal "diversão descartável", não perde nada em conferir.

Amanda Pontes
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