Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 27 de agosto de 2006

Miami Vice

Pendendo mais para o monótono e desgastante, com algumas pitadas de inovações na linguagem técnica, que já são características do diretor Michael Mann, infelizmente, "Miami Vice" não chega nem aos pés de suas obras anteriores como "Fogo Contra Fogo" e "Colateral", transformando-se em um filme cansativo e que nem mesmo em locadora deverá interessar aos espectadores (quiçá no cinema).

Sonny Crockett (Colin Farrell) e Ricardo Tubbs (Jamie Foxx) estão de volta. Os detetives que ficaram mundialmente famosos (claro, os personagens!) com a série televisiva dos anos 80 chegam agora aos cinemas em mais um filme de adaptação, com o título homônimo da série. Miami Vice retrata a história do submundo dos detetives de Miami, agora muito mais sombrios do que na série (claro, a televisão na época não permitia séries com temáticas tão pesadas), que descobrem que uma de suas testemunhas, que tinha sido cedida ao FBI, está correndo risco de vida por ter entregue toda uma operação do birô aos traficantes. De forma a não se sair na pior, o agente responsável pela operação acaba recrutando na surdina os dois detetives para se infiltrarem no cartel e conseguirem o objetivo do trabalho. Mas, durante o processo, Sonny e Ricardo descobrem que há muito mais por debaixo dos panos e resolvem arriscar mais para chegarem ao verdadeiro chefe do narcotráfico.

A opção feita por Mann de transformar o filme em um clima muito mais sombrio foi, de certa forma, acertada, já que lidar com tráfico de drogas não é, digamos, nenhuma piada, que era a forma mais light retratada na série. Aliás, Michael Mann seria uma das melhores escolhas para trazer a adaptação, já que o próprio trabalhou como produtor executivo e diretor de alguns episódios da série, que durou de 1984 a 1989 no ar na televisão americana.

Havia tudo para dar certo. O estilo meio pop do diretor, que trabalha sempre com uma trilha muito boa, e o sucesso de seu último filme, "Colateral", no qual inclusive a mesma fotografia se encontra presente neste filme, o elenco principal bem conhecido do público. Mas o tiro saiu pela culatra. Michael Mann consegue deixar o filme completamente cansativo, seguindo um ritmo que simplesmente não condiz com o estilo que se tentou vender.

Colin Farrel está (e me desculpem a palavra por ser muito forte) um lixo como Sony Crockett. Ele consegue simplesmente utilizar os mesmo tipos característicos de todos os seus personagens ultimamente, o que o deixa apático. Aliás, o ar de "bad guy" para o ator, que já ultrapassa os limites da ficção, está cada vez mais desgastando a sua imagem. Se não houver uma guinada em sua carreira, ele estará começando a colocar todo o seu trabalho em um túmulo. Jamie Foxx simplesmente também não consegue deslanchar. E não há desculpa de que os personagens são detetives, e, devido a isso, não há como aprofundá-los, porque há muitos momentos que o trabalho de expressões faciais ajudariam muito. Aliás, as expressões são cruciais em um filme de Michael Mann.

Mann simplesmente abusa dos closes, das câmeras digitais e do uso das imagens a mão livre (o que fizeram muitos momentos a câmera tremer sem nenhuma necessidade), fora os inserts de tomadas inexplicáveis, que é de se admirar que o filme tenha assinatura de um diretor tão bom quanto ele.

Um dos poucos elementos que se salvam em todo filme: a trilha sonora e a fotografia. A trilha regada a muito Linkin Park e Audioslave (esse último em exagero, ao ponto de sermos capazes, acredito, de termos ouvido um álbum inteiro da banda), encaixam-se perfeitamente com as cenas, mas nota-se em alguns pontos o apelo deste artifício para exclusivamente conseguir uma venda garantida, caso o filme não fosse bem na bilheteria (o que realmente aconteceu). A fotografia, a mesma utilizada em "Colateral", consegue fazer bonito, embora não chegue nem aos pés da qualidade e da beleza da iluminação de Los Angeles.

Miami Vice parece ter esquecido de dois motes no filme. Além de "Sem Regras", "Sem Ordem", "Sem Lei", poderia ser acrescentado também os motes: "Sem Graça" e "Sem Condições de Ser um Bom Filme".

OBS – as duas estrelas são apenas para a fotografia e para a trilha sonora.

Leonardo Heffer
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