Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 01 de setembro de 2006

Reis de Dogtown, Os

O filme é baseado na história real de um grupo que praticava o surfe e o skate nas praias e ruas de Venice Beach, Califórnia, tendo acrescentado deveras inovações para o mundo dos skatistas. Depois de assistir ao longa, com certeza vocês virarão fãs do Zephyr Team, mais conhecidos por Z-Boys.

Talvez você não tenha ouvido falar do filme, ou visto somente o trailer que passava repetidamente no final do ano de 2005 nas salas de cinema pelo Brasil todo. O problema é que o filme não foi bem distribuído e acabou ficando somente alguns dias nos cinemas, sendo que na maioria das salas acabou nem sendo rodado. Não se engane. Se você chegar a ver o DVD ou onde "Os Reis de Dogtown" vai ser transmitido, não ouse a não assisti-lo. O filme é deveras valioso.

Tudo gira em torno da história real do grupo de surfistas e skatistas que inovaram o "andar de skate" na década de 70. Juntos, eles formavam o Zephyr Team, mais conhecido como Z-Boys, e arrastavam muitos campeonatos, fazendo mais do que simplesmente pequenas manobras em cima das quatro rodinhas. Na verdade, eles levavam o nome radicalizar ao pé da letra. Na cidade de Califórnia, surfavam pelas manhãs, trabalhavam (ou não) à tarde e o resto do tempo era para inovar ao sair andando de skate. Porém, como o grupo era formado na sua maioria por adolescentes, os problemas familiares, de relacionamento, crises existenciais, ganância, acabaram também por virem à tona. Mas era o preço que eles pagavam para serem hoje conhecidos como Os Reis de Dogtown ou os Z-Boys.

O filme é um prato cheio para quem gosta de praticar o skate. Mas para aqueles que não gostam, depois vão ficar querendo fazer. Além de conhecer o começo das hoje muito famosas competições de skate, patins e bicicross, o filme fora feito com tal atenção e competência que você entra na atmosfera dos Z-Boys e só sai quando, infelizmente, os créditos finais chegam.

A maioria das atuações não é lá essas maravilhas, ficam entre o mediano e fraco, mas alguns se destacam. Como era de se esperar o já experiente Heath Ledger ("O Segredo de Brokeback Mountain") é com toda a certeza o mais competente. Seus trejeitos de bêbado/drogado fazem lembrar Johnny Depp e seu personagem Jack Sparrow, de "Piratas do Caribe". Os personagens protagonistas Jay Adams (Emile Hirsch), Tony Alva (Victor Rasuk), Stacy Peralta (John Robinson) e Sid (Michael Angarano) não demonstram muita competência, mas juntos e mesclados com aparições de famosos atores ou personalidades do esporte, bem como o Stacy Peralta real, o famosíssimo skatista Tony Hawk (que interpreta um astronauta que cai ao tentar andar de skate), ficam ofuscados e não comprometem a proposta do filme. Quadro a quadro o filme vai trazendo seqüências que vão prendendo o espectador cada vez mais na projeção; méritos para a boa condução da diretora Catherine Hardwicke e o roteiro de Stacy Peralta.

Infelizmente, o filme têm um ponto fraco que atrapalha um pouco. Como a história se passa em 1970, era preciso que tudo fosse melhor ambientado, o figurino melhor escolhido, uma realçada na fotografia e coisas do gênero, pois ficou parecido como se tudo estivesse acontecendo em 2006, porém com os carros de 1970 andando pelas ruas. Raras são as vezes que o figurino e todos esses outros aspectos que citei são trabalhados. Talvez, para tentar compensar esse erro, citaram bastante o seriado das Charlie's Angels (mais conhecido como As Panteras), que fazia sucesso na época.

Fora esse problema, o filme é muito bem organizado, dando a clara impressão que fora feito com muito carinho para atender as expectativas dos Z-Boys na vida real. Antes, eles já haviam filmado um documentário sobre o mesmo tema de nome "Dogtown & Z-Boys – Onde Tudo Começou" (ganhador do Independent Spirit Awards de Melhor Documentário e de dois prêmios no Sundance Film Festival, nas categorias de Melhor Documentário e Melhor Documentário – Prêmio do Público), que eu indico para ser visto logo depois de assistirem ao "Os Reis de Dogtown". Dentre um dos ótimos fatores do longa é que ele não cai na previsibilidade de que tudo tem que terminar forçadamente bonitinho. Termina como terminaria na vida. Com um final bem arquitetado, o filme cumpre com a finalidade de criar a sensação de que estávamos realmente olhando para uma história baseada em fatos reais. É visível que Stacy Peralta, que, como dito antes, roteiriza esse filme e dirige o documentário "Dogtown & Z-Boys – Onde Tudo Começou", vinha trabalhando e arredondando esse roteiro há tempos, só esperando a hora certa para ele ser colocado em prática. Muitos méritos para Stacy.

A única pergunta que eu fiquei me fazendo foi: como esse filme não vingou nas salas de cinema aqui no Brasil? Uma condução bem trabalhada, um ótimo tema, algumas boas atuações, pouquíssimos erros, e tudo isso aliado a uma fineza dotada de competência incontestável do roteiro fazem de "Os Reis de Dogtown" uma excelente pedida. Como eu queria tê-lo assistido em uma boa sala de cinema!

Raphael PH Santos
@phsantos

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