Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 11 de agosto de 2006

Click

Adam Sandler está de volta em "Click" com todos os elementos que seus filmes costumam demonstrar, mas com algumas pequenas adições. E são a essas adições que devemos nos ater ao pensar em assistir ou não ao filme.

Pense bem, o que você faria se tivesse um controle remoto que controla tudo ao seu redor? Imagine sua vida com todas as funções que podemos colocar em prática como estivéssemos operando um DVD player (parar, avançar, retroceder, escolher capítulos, linguagens e etc) e, melhor, você quem comanda tudo, definitivamente tudo. Bem, essa é a idéia do filme "Click". Depois de ganhar esse controle remoto do estranho Morty (Christopher Walken, de "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa"), o arquiteto Michael Newman (Adam Sandler, de "A Herança de Mr. Deeds" e "O Paizão") conquista uma nova maneira de viver sua complicada vida. Quando digo "complicada" é só porque ele mesmo quem complica ao não conseguir conciliar suas obrigações familiares com as do trabalho. Na sua família está sua mulher Donna (Kate Beckinsale, a protagonista de "Anjos da Noite"), seu casal de filhos Ben e Samantha, que são interpretados por vários atores ao passar dos seus anos, são eles: Tatum McCann, Lorraine Nicholson e Katie Cassidy para Samantha e Joseph Castanon, Jonah Hill e Jake Hoffman para as várias idades de Ben. Já no seu lado profissional, nos deparamos com Ammer (David Hasselhoff), o típico chefe chato. Porém, em vez de simplificar, o mau uso do controle deixa as coisas mais difíceis de serem resolvidas.

Sendo bem direto, o filme pode ser divido em duas partes. Dos seus cento e sete minutos de projeção, vou arredondar para cem minutos e, desses cem, dividir por dois, no grosso mesmo, o que resulta em cinqüenta minutos. Pois bem, os primeiros cinqüenta minutos se preocupam em apresentar a típica vida norte-americana (ou pelo menos o que ela deve ser) de um pai cheio de trabalhos profissionais e familiares. Nessa primeira etapa do filme, é que nos deparamos com o estilo Adam Sandler de atuar, fazer filme, produzir e são nesses minutos iniciais que seu fiel companheiro Rob Schneider (de "Gigolô por Acidente") aparece em uma pequena ponta. Afinal, em um filme com o Sandler, quero saber onde o Schneider não apareceria, tanto que, quando é filme do Schneider é a vez do Sandler dar as caras. Continuando… Foi então nessa primeira parte que eu tomei a liberdade de dividir assim, que o filme tem seus momentos mais agradáveis e que provoca mais risadas. Quando a barreira dos cinqüenta minutos é quebrada, o filme ganha nova forma e até perde o tom de humor (o humor que realmente faz rir, não o que só tenta fazer). Desde aí, o filme se preocupa mais com a maquiagem dos atores e em terminar uma história que, diga-se de passagem, é para lá de previsível, soando como antigos roteiros de desenhos animados.

O que salva essa segunda parte é que pelo menos conseguiu fazer um bom trabalho com essa maquiagem. Tudo bem, não é algo primoroso e o Adam Sandler já tem todos os trejeitos para ser maquiado como gordo. O trabalho só não ficou melhor mesmo porque pecaram na maquiagem quanto a demonstrar os personagens em idades mais avançadas, principalmente quando se tratou de maquiar a belíssima Kate Beckinsale. Ela, mesmo com o passar dos anos, não mudou nada, interessante não é? São essas as adições com relação aos filmes anteriores do Sandler que eu havia falado. Todas elas podem ser observadas nessa segunda etapa do filme. Mas, sinceramente, prefiro a velha linha dos filmes do ator, essa de ficar andando no futuro e usando maquiagem a valer não me agradou muito.

Por falar no ator, a atuação dele também não está muito diferente, mesmo quando acontecem essas aparições de novos elementos no filme. É sempre aquela linha Adam Sandler de ser. Ele não muda nem nas entrevistas que assisto do rapaz. Isso é um fenômeno! Para falar a verdade, até que gosto dele, mas não sei quanto tempo vou aturar essa sua falta de versatilidade. A bonitona Kate Beckinsale está normal. Achei interessante ver a moça "despregada" da pele da Serena de "Anjos da Noite". Até que ela parece que vai vingar nas telonas. Já sabe, se não emplacar uma linha "mal-garota-que-destrói-tudo-de-atuar" é só correr para as comédias familiares ou para as tramas românticas que ela se dará bem. Christopher Walken é outro que não acrescenta nada ao filme. Não sei nem como que ele foi parar ali, mas é sempre bem interessante ver o glorioso ator trabalhar, mesmo que seja em produções limitadas. Eu poderia parar por aí quanto ao elenco, mas terei que falar do Sean Astin (o Sam de "O Senhor dos Anéis"). Pois é, ele também está lá. Me digam, o que o pessoal pensa do rapaz? Depois de "O Senhor dos Anéis", ele só vem fazendo papéis quase imperceptíveis. Foi assim nesse filme agora, foi na quinta temporada de "24 Horas", foi no "Como se Fosse a Primeira Vez" (também protagonizado pelo Adam Sandler) e em um filme que assisti no Cine Ceará, "Smile". Ele até que é bom ator, mas parece que estão esperando até hoje uma continuação de "Os Goonies" para que ele volte para destaque!

No final fica claro que, pecando pela grande previsibilidade, o filme poderia ter terminado melhor. Mas, mesmo assim, ele é uma boa pedida se você não está procurando as grandes produções hollywoodianas ou filmes de arte. Infelizmente, ele não consegue manter uma boa linearidade do seu bom começo, o que pode torná-lo meio chato. Se você é um daqueles que já assistiu a todos os filmes do Sandler, pode ir tranqüilo, pois dentro do seu gênero ele agrada, mesmo não se destacando. Agora se você não gosta mesmo do trabalho do ator (e produtor, afinal, ele produz todos os filmes que faz), mantenha distância e escolha um outro filme.

Raphael PH Santos
@phsantos

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