Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 06 de agosto de 2006

Protegida por um Anjo

Uma trilha sonora perfeita e uma atuação mediana de Demi Moore são as únicas coisas válidas no fraco "Protegida por um Anjo", que no Brasil chega aos cinemas, mesmo que nos Estados Unidos o filme tenha ido direto para o DVD (sensato os norte-americanos, não?)

Existem obras que simplesmente não deveria sair das gavetas dos projetos perdidos dos estúdios. Ou deveria haver uma cláusula que impeça de um determinado ator assinar contrato para um filme que nitidamente só quer seu nome emprestado para poder garantir um bom dinheiro sobre ele. E "Protegida por um Anjo" faz parte desse tipo de filme.

Rachel Gibson é uma notável escritora que ganhou muito dinheiro através de seus livros. O seu casamento com Brian não vai bem, e ela acabou de perder seu único filho. Para se recuperar e começar a reescrever, sua amiga Sharon aluga para ela uma cabana na beira do mar para que ela possa criar ânimo para terminar o livro. Lá, ela conhece o faroleiro (não é farofeiro) Angus McCulloch e acaba por se envolver com ele. Com o passar do tempo, ela também começa a ter sensações e visões de seu filho, fazendo com que não tenha mais certeza do limite entre a fantasia e a realidade.

O filme tem uma premissa boa, tinha até bons atores se fizermos uma média, mas, infelizmente, o projeto caiu nas mãos de Craig Rosenberg. Aliás, nem caiu, veio do próprio punho deste indivíduo, que antes dividira parceria com Paul Zbyszewski no roteiro de Ladrão de Diamantes. Infelizmente, Rosenberg prova ainda não estar pronto para assumir qualquer que seja o trabalho em produção cinematográfica sozinho. O seu roteiro consegue ser fraco, um trabalho que poderia ser melhor feito por qualquer criança. Opta por clichês exagerados. Até se consegue ver o esforço do amigo em tentar montar uma história toda embasada em diálogos, tentar criar um clima de "neurótica ou esquizofrênica?", mas esqueceram de avisar a Rosenberg que este filme está chegando com quase uma década de atraso, já que os elementos usados em seu roteiro funcionariam melhor na década de 80/90. Sabe aqueles filmes de Supercine, totalmente sem noção? Ainda conseguem ser mais interessantes do que este.

Infelizmente, como se já não bastasse o roteiro ser ruim, ainda me deixaram o homem dirigir o filme. Se em roteiro ele era ruim, em direção consegue ser um desastre total. Não soube trabalhar as transições dos flashbacks durante o filme, sem contar que o filme poderia começar com a tomada do carro de Rachel na estrada a caminho da nova casa e trabalhar os 10 primeiros minutos do filme, que acredito serem completamente desnecessários, em flashbacks. Aliás, ele erra muito em edição, em corte de câmera, não consegue nem dirigir direito uma cena seqüência onde Angus e Rachel sobem o farol, deixando nítido o efeito especial do filme, chegando a ser risível.

Falando dos 10 minutos desnecessários do começo do filme, que acredito que ele tenha posto para nos ligarmos no elo de amizade entre mãe e filho, que serão necessários para compreender a ligação mesmo pós-morte, não consegue fazer o efeito desejado. Aliás, Demi Moore conseguiu interpretar o pior momento da carreira dela, que é quando ela encontra seu filho morto e a sua reação simplesmente não convence, estando mais para uma tia que encontra o sobrinho morto do que uma mãe. Antes ela tivesse assistido Michelle Pfeiffer em "Nas Profundezas do Mar Sem Fim”, talvez Moore saberia como interpretar a cena. Mas com exceção a isso, no resto do filme ela consegue se sair razoável, e acredito que metade da sua atuação não se deveu ao diretor. O elenco de apoio está simplesmente terrível, muito fraco, não conseguindo convencer em nada.

Para não dizer que o filme apenas possui coisas ruins, a trilha sonora salva em grande parte, dando tons da belíssima música céltica e misturando com o trabalho refinado de Christopher Young, que recentemente trabalhou no filme "O Exorcismo de Emily Rose".

O filme é passável, descartável e nem precisa ir ao cinema para ver sua qualidade. Melhor esperar sair nas locadoras do que gastar um dinheiro considerável no filme.

Leonardo Heffer
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