Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 30 de julho de 2006

Hora do Rango, A

Com uma proposta de humor fácil, "A Hora do Rango" cai na normalidade. No entanto, com o lançamento de poucas comédias boas nos últimos tempos, este longa vale a pena ser assistido, isto é, se você não se incomoda com cenas nojentas e imorais escancaradas em um filme.

O trama da comédia gira em torno do dia em um restaurante pequenino chamado ShenaniganZ, onde os cozinheiros são nojentos, os garçons usam todos os artifícios para ganhar boas gorjetas, os novatos sofrem e todos se divertem com um joguinho terrível de mostrar sua genitália de formas bizarras. Isso mesmo, seus órgãos genitais – pena que não posso usar outras palavras. Logo, se você não gosta de filmes que contenham ações desse tipo, mesmo que seja com um teor de comédia, recomendo que pare de ler a crítica por aqui mesmo, pois só o que o filme tem é isso.

Voltando à estória do filme, Monty (Ryan Reynolds, de "Apenas Amigos") é o garçom que demonstra gostar do que faz, sendo até quem ganha melhor entre todos, já seu grande amigo Dean (Justin Long, de "Herbie: Meu Fusca Turbinado") é o contrário. Ao saber que um amigo que foi seu companheiro nas épocas colegiais se formou, acaba começando a se perguntar se é mesmo aquilo que ele vai querer para o resto da vida dele. Dean, bem como fazem todos os outros que trabalham no ShenaniganZ, busca a resolução do seu problema com o encarregado de lavar as louças, o grandalhão com trejeitos (!) de psicólogo Bishop (Chi McBride, de "60 Segundos" e "O Terminal"), que sempre com uma frase certa consegue amenizar as angústias alheias. Completam o elenco que passa mais tempo em destaque a garçonete Serena (Anna Faris, dos quatro "Todo Mundo em Pânico" e companheira de Ryan Reynolds em "Apenas Amigos"), o pervertido chefe de cozinha Raddimus (Luis Guzmán, de "O Júri") e Mitch "O Novato" (John Francis Daley).

O filme usa a proposta de fazer humor com as coisas nojentas que com certeza seria melhor não pensarmos ao irmos comer em um restaurante – ou em qualquer lugar, para melhor dizer. O pior da estória não é nem os garçons pirados e imundos, mas o humor imoral que possui. Usar imoralidades em comédias escancaradas é uma faca de dois gumes, pois se a pessoa gosta, ela irá ter um bom respaldo, caso contrário, será difícil a missão de fazer rir. Eu não tenho nada contra, mas quando se está em uma sala de cinema assistindo a filmes desse gênero só alguns determinados grupos riem a valer, enquanto outros nem chegam a se esforçar para rir, diferentes de outros gêneros de comédia mais bem pensados que cativam o cinema como um todo. Tendo em vista esse fator do filme, fica complicado dizer se ele é bom ou é ruim, pois depende muito das características que a pessoa carrega consigo para a sala de projeção. Como eu disse no começo da crítica, se você gosta desse tipo de humor, pode ir ao cinema sem medo, pois ele arrancará algumas risadas (também não muitas), caso contrário é melhor procurar outra pedida.

Muitos dos elementos que estão compondo a celulose formam um bom teor humorístico, mas dois atores não me cativaram nenhum pouco. Definitivamente, Ryan Reynolds não tem uma boa postura em cena e erra seguidas vezes. Além de não encarnar bem o personagem, não demonstra o mínimo esforço, parecendo estar fazendo o filme só por fazer (desculpe-me esse tipo de julgamento). Anna Faris, famosa por vários papéis parecidos que enfrentou em "Todo Mundo em Pânico", não sai do normal e deixa claro que aquele é o limite de atuação da moça. Contrastando com os dois atores, três cumpriram com seus respectivos objetivos. Por incrível que pareça simpatizei com a atuação de Luis Guzmán como o chefe de cozinha Raddimus. Aquela cara sem noção dele causa um baque inicial quanto à aceitação do personagem dele, mas, aos poucos, ele vai demonstrando uma afinidade com o papel. Justin Long também encarna bem Dean, um personagem que não tem a finalidade de causar risadas por seus trejeitos, mas sim por sua história de vida e dramas pessoais. Outro que agradou bastante foi Chi McBride e seu personagem Bishop. O fato do ator não ter nenhum maneirismo de psicólogo – que é o que ele é, ou tenta ser – deu resultado em um personagem sem nenhum estereótipo que faz rir justamente por isso. Para completar as risadas, cito a nervosíssima personagem Naomi, interpretada belissimamente bem por Alanna Ubach. Seus gritos e seqüências intermináveis de fumar cigarro divertem muito.

O roteiro, que apresenta "carinhosamente" a vida alucinada do mundo de alguns jovens, envolvendo bebidas, cigarros, outras drogas mais, sexo, dentre outras coisas, foi baseado nas experiências do diretor e roteirista Rob McKittrick como garçom num restaurante em Orlando, na Flórida, onde trabalhou durante o colegial. O interessante é que os atores Justin Long e Anna Faris já trabalharam em restaurantes também. Mas não espere muito do roteiro. Ele é muito simples e nenhum elemento dele ultrapassa a barreira do clichê ou previsível.

Com um orçamento de 3 milhões de dólares e filmado em corridos 23 dias, não era de se esperar muito do filme. O roteiro é deveras fraco, mas a maioria dos personagens salva o longa de um terrível insucesso. Possui falha técnica, de roteiro, alguns diálogos fracos, continuidade, enfim, muitos elementos básicos não agradam. Para se ter idéia, a trilha sonora passa batida aos ouvidos. Mas, em geral, se você gosta de filmes como "Todo Mundo em Pânico", "Uma Comédia Nada Romântica" vale a pena assistir ao filme, mesmo estando esse a um nível abaixo dos dois citados.

Raphael PH Santos
@phsantos

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