Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 30 de julho de 2006

Viagem Maldita

Muito sangue, gente deformada, corpos mutilados e alguns gritos fazem parte do recheio completo de Viagem Maldita, mais um filme que Wes Craven tenta trazer para voltar a ganhar seu prestígio, ou conseguir o dinheiro para o almoço das crianças.

Uma família a caminho da Califórnia resolve pegar uma rota que cruza o deserto. Motivo: só ver a paisagem! A família, então, pára em um posto de gasolina para abastecer e lá pega a informação de um possível atalho que não está no mapa. Esse atalho leva os integrantes do grupo diretamente a um acidente que os prende ao local e os torna presas fáceis. Big Bob (Ted Levine, de Memórias de uma Gueixa) e Doug (Aaron Satnford, o Pyro de X-Men 3) saem para procurar ajuda, enquanto o resto da família fica sob a guarda do caçula Bob (Dan Byrd, de A Nova Cinderela). Logo, eles descobrem que aquelas colinas do deserto não estão tão desabitadas assim.

O filme é um remake de Quadrilha de Sádicos (The Hills Have Eyes, 1977), que tem a direção de Wes Craven. Craven, no remake, resolve se colocar no papel de produtor. No original, o filme foi censurado como X (nível da censura americana para filmes pornôs). Então Alexandre Aja não poderia passar por menos no nível e consegue exatamente o mesmo clima que o original (inclusive tendo que cortar 2 minutos do filme para pegar a censura R). O diretor segue a mesma trilha usada por Zack Snyder, em Madrugada dos Mortos (remake de 2004), utilizando, inclusive, a mesma linguagem de abertura do filme, que já começa a dar um clima pesado para aqueles de estômagos mais fracos. Durante a projeção, ele também não se deixa intimidar pelo "politicamente correto hollywoodiano" e coloca crianças deformadas (mesmo que a luz encubra boa parte das deformações), cabeças estourando, dedos decepados, até cair no clima "trash" de objetos pontiagudos perfurando olhos e afins.

O filme também se situa em um cenário de dar calafrios: as rotas abandonadas pelo meio do deserto (e, acredite, o deserto do filme não é o americano, e sim o de Marrocos). Estas rotas estão neste estado justamente devido às novas interestaduais encurtarem o tempo de viagem, e, por isso, elas acabam atraindo os motoristas mais apressados. Tal abandono é o que atrai tantas produções americanas para esses locais. Filmes como Perseguição (Joy Ride, 2001 – com Paul Walker) ou Breakdown – Perseguição Implacável (Breakdown, 1997 – com Kurt Russel – e olha a coincidência, a mulher de Kurt Russel, a atriz Kathleen Quinlan, também está no elenco de Viagem Maldita) foram exemplos do uso do que pode acontecer nessas viagens pelo deserto. Já Viagem Maldita (título mais para lá de trash) é um exemplo de filme que poderia ter sido muito melhor explorado. Claro, o roteiro utiliza-se de clichês (e hoje em dia é difícil não existir um filme de terror com clichê), mas tenta se salvar usando uma linguagem que se assemelha também ao (pelo menos para mim) surpreendente Massacre da Serra Elétrica (remake de 2003) em sua fotografia suja.

Claro que Viagem Maldita atual não é o exemplo de filme de terror e pode até não agradar a muitos, mas pelo menos é um filme no verdadeiro significado da palavra e supera em muitos níveis o fraco e trash O Albergue, criado da mente nada saudável de Eli Roth. Porém Viagem Maldita peca em seu desfecho, descambando totalmente para o manual do "como finalizar um filme de terror" (quem assistir vai entender o que quero dizer), quando poderia finalizar de uma forma muito mais satisfatória (e ele tinha não só recursos, mas gancho no roteiro para tal).

Ainda assim, para aqueles que sentem falta de uma boa embrulhada no estômago, ou de se encolherem na cadeira por causa das dores alheias, Viagem Maldita é uma boa pedida, um consumo rápido, que cairá logo no esquecimento. Mas afinal o que é um filme de terror se não um pequeno momento de adrenalina no sangue?!

Leonardo Heffer
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