Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 06 de agosto de 2006

Filhote

A frase de chamada de “Filhote” é “E quem disse que o garoto não tinha pai?”. O que vemos é, exatamente, uma relação de pai e filho, sustentada pela fragilidade em que a dupla se encontra.

Violeta (Elvira Lindo) é uma mãe riponga resolve realizar o seu sonho: conhecer a Índia. Para isso, viaja com o namorado e resolve deixar o seu filho de oito anos, Bernardo (David Castillo), hospedado na casa do seu irmão, Pedro (José Luis García Pérez) – naturalmente, tio do menino. Pedro é dentista, vive bem e sozinho. Até aí, nenhum problema. E se Pedro for gay? Esse é o mote do filme de Miguel Albaladejo, cineasta espanhol, de “Manolito Gafotas”.

Como manda a cartilha, “Filhote” é inciado com imagens do cotidiano de Pedro, nos familiarizando com que está por vir. Poupa-nos de explicações sem graça que poderiam deixar o filme menos atraente. O título em inglês é “Bear Club” (O Clube do Urso), um nome bastante sugestivo, já que todos os colegas, namorados e ex-namorados de Pedro fazem jus ao estereótipo de grande parte dos homossexuais: gordinhos peludos.

Inicialmente, Bernardo e, tampouco, Pedro, aceitam facilmente a idéia de passarem duas semanas juntos. O menino não suporta a idéia de ficar longe da mãe ultraliberal e o tio terá de se acostumar a estipular horários para as suas visitas, que, a partir de agora, serão menos freqüentes do que nunca. Mesmo indiferente, o menino faz piadas com a opção sexual do tio, tudo com muita naturalidade e sem preconceitos, conseqüência da educação da mãe. Depois de um telefonema que denuncia a condição de Violeta no país estrangeiro, os dois terão de acabar com qualquer tipo de antipatia, um se sustentando no outro, para poderem enfrentar essa situação e formar uma família.

A frase de chamada de “Filhote” é “E quem disse que o garoto não tinha pai?”. O que vemos é, exatamente, uma relação de pai e filho, sustentada pela fragilidade em que a dupla se encontra. Pedro, que talvez nunca tenha imaginado criar um filho, se sai perfeitamente bem no papel, abrindo mão de inúmeras coisas que lhe faziam parte do cotidiano, provando ser muito mais consciente e responsável do que se pode imaginar. O menino lhe ajuda na cozinha, sua especialidade.

Sobre as relações de Pedro com os seus namorados, tudo é mostrado com muita naturalidade, mostrando que relacionamento amoroso não tem cor, raça, credo ou opção sexual.

O trailer de “Filhote” nos prepara para o pior, mostrando cenas de drogas muito próximas das cenas em que Pedro se diverte com o sobrinho, o que pode levar o espectador a imaginar que o menino acabe envolvido com esse meio.

Assim como no início do filme, no final o cineasta preferiu optar por um encerramento sem muitos detalhes, pulando todas as partes em que o drama dos dois protagonistas é resolvido. Inclusive, deixando em aberto se o convívio com o tio influenciou ou não a opção sexual do garoto, o que poderia ser desnecessário, mas que deixa o espectador na mão, tentando sugerir o que terá ocasionado a convivência do menino com o tio homossexual.

Beatriz Saldanha
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