Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 27 de julho de 2006

Superman – O Retorno

Finalmente um dos filmes mais esperados desse ano chegou, revivendo a memória do eterno Homem de Aço, mas que acaba falhando em muitos momentos da trama, acabando por ser definida como um bom entretenimento e uma produção pretensiosa, rala, lenta e longa, apesar de ter seus méritos, claro.

Superman – O Retorno já inicia o filme mostrando o herói voltando à Terra, depois de passar cinco anos sumido. Como já era de se esperar, foi tempo suficiente para mudar muitas coisas aqui no nosso planeta, inclusive as relacionadas ao seu grande amor, a jornalista Lois Lane, que se envolveu com o simpático Richard White, tendo um filho do rapaz e construindo uma família. Junto ao grande herói, o atrapalhado Clark Kent volta à redação do Planeta Diário, assumindo sua dupla identidade de sempre: o repórter de óculos e o herói de capa vermelha. A partir daí, o Super Homem volta à ativa na Terra, salvando vidas e tendo suas emoções divididas com o sentimento de ter ficado ausente o suficiente para perder o carinho que Lois tinha por ele. Além disso tudo, o ambicioso Lex Luthor, após roubar cristais com os ensinamentos do pai do herói na Fortaleza da Solidão, planeja usá-los para construir um novo continente e, assim, devastar milhões de vidas.

A história é muito confusa. São mais de duas horas de película, mas que não têm a competência suficiente para esclarecer e definir uma linha estável no desenvolvimento da trama e acaba não convencendo no que é aplicado em cena. O filme parece mais um drama do que uma aventura do super-herói. Claro, tem seus momentos eletrizantes e belíssimas seqüências de ação, mas na minha visão o que prevaleceu ali foram os conflitos pessoais do protagonista com sua amada terráquea. Os momentos em que o herói demonstra força e salva a Terra foram encaixados como meras cenas 'tapa-buraco e alarga o tempo' para não desvirtuar a força do Homem de Aço, que, voltando à Terra, tinha que fazer alguma coisa. Prova disso é que as únicas cenas de ação que realmente foram seqüenciadas com sucesso foram as que envolviam a bela Lois Lane e mais parecia que o herói se dedicava mais quando o assunto era a jornalista do que quando eram os outros humanos. Não que ele fosse insensível, mas o carinho pela moça fazia dele mais determinado quando o assunto era salvar uma mulher em um carro desgovernado ou coisa do tipo.

Tal carinho não é visto somente na pele do Super Homem, mas também na de Clark Kent, que, por sinal, não se diferenciavam em nada a não ser no uso do óculos, na cara de babaca e na computação gráfica extremamente exagerada que compôs o herói nos seus momentos de 'transformação'. Eu ainda acho que é um disfarce muito fútil e que não funcionou nunca em toda a história do protagonista. É como se fosse uma desculpa para enganar as criancinhas e fazer dois personagens diferentes, sendo óbvio que eles são apenas um. Sem falar que sem se saber diferenciar um do outro, acaba dando um caráter imbecil aos humanos, principalmente à Lois que não vê que debaixo daquela capa está seu colega de trabalho. Enfim, revolta juvenil à parte, o novato Brandon Routh não conseguiu ao menos criar personagens diferentes, coisa que o eterno Christopher Reeve conseguia, com uma impostação natural da voz e até mesmo no comportamento. Apesar disso, a semelhança de Routh e Reeve em algumas cenas são assustadoras e nos remete aos antigos filmes do herói. A diferença mais gritante é que pelo fato de atualmente termos uma computação gráfica bastante avançada, podemos pintar e bordar em todas as cenas. Não!!!! Acaba sendo exagerado e desconfortável aos olhos da audiência. Claro que a perfeição do cenário e de grande parte dos efeitos especiais é clara, mas não permitia fazer de Routh um boneco de animação jogando quilos e quilos de maquiagem no seu rosto (enquanto Clark) e camadas exageradas de computação gráfica (enquanto Super Homem), tornando-o um boneco computadorizado e desagradável.

Apesar de amador, Routh teve uma atuação até razoável, apesar de não ter conseguido captar cem porcento a alma do protagonista. Ainda em questão de elenco, a bela Kate Bosworth até quis interpretar uma Lois Lane amargurada e determinada com seu trabalho, mas sua jovialidade impediu que seu personagem ficasse perfeitamente composto. É difícil acreditar que tão jovem ela já tem um filho de cinco anos e que seja tão competente para receber o prêmio Pulitzer. Sem falar que muitos dos seus sentimentos pelo herói ficaram tão vagos por não haver no filme momento algum que consolide o que um sente pelo outro, deixando o público à margem de suposições frustradas. Já Kevin Spacey e sua maturidade mostraram segurança na trama, mas é óbvia a superficialidade do seu Lex Luthor. Talvez aí a maior falha tenha sido do roteiro, que não permitiu que ele mostrasse suas ambições, fazendo dele um mero fantoche sarcástico com um poder que ninguém sabe de onde surgiu e que possui um plano tão mal contado que não convence de jeito nenhum, aparentando uma preocupação em apenas levar o espectador, que já não estava tão envolvido com a trama a uma nova seqüência de fatos onde o herói teria sua destruição momentânea, não pela força de Lex, e sim por este possui o kryptonita. Enfim, furos e questionamentos de roteiro à parte, a equipe de atores se envolveu em um projeto que se destaca mais graficamente do que humanamente, sendo prejudicada pela futilidade de seus personagens.

A direção de Bryan Singer está até interessante. Desfrutando de ângulos e uma fotografia bem trabalhada, nos dá boas cenas de encher os olhos, mesmo que estas tenham sido completamente feitas por computação. Às vezes me vem na cabeça que Singer aproveita bons momentos para estragá-los também. Tem uns exageros tão dispensáveis em algumas cenas que acabam atrapalhando o desenvolvimento da trama. Quem não se cansou em ver a coitada da Lois sendo sacudida por tanto tempo na cena do avião? E ele errou no timing não somente desta, mas de vários momentos onde eram exigidas cenas curtas e tudo o que tivemos foram meros 'enche o saco', tornando a projeção até cansativa. Eu acho interessante que os diretores pensam que para fazer um blockbuster é preciso só de duas coisas: muito dinheiro e um filme longo. Isso funcionou muito bem em Titanic, por exemplo, mas alongar uma história é ter no mínimo a responsabilidade de contá-la direito, não dando margem alguma a questionamentos vindo dos espectadores, coisas que não vemos em Superman- O Retorno. Outro ponto a ser debatido é que os três dígitos de milhões que custou a projeção toda faz com que clamemos por um filme visualmente impecável e o diretor quis suprir essa necessidade do público, mas acabou exagerando, porém acertou em cheio em usar a trilha sonora impecável de John Williams, que, durante os créditos iniciais não funciona muito para transportar o público para a aventura, sendo até irritante, mas que no decorrer dos momentos de ação, se encaixa como uma luva.

Graficamente belo e realista, Superman – O Retorno erra em cheio no roteiro, que se assemelha a mais a um dos episódios dos quadrinhos vistos por nós quando crianças, não mostrando a maturidade do retorno do herói, usando do sentimentalismo dos personagens para erguer a trama durante os seus exagerados cento e cinqüenta e tantos minutos, não convencendo muito e tornando a projeção que era tão esperada em apenas mais um blockbuster pretensioso e feito somente para entreter. Para os fãs do herói, pode ser até um bom retorno às telonas, com cenas realmente eletrizantes, mas que, infelizmente, não atrai os mais exigentes, beirando à superficialidade. De qualquer forma, reviver o Homem de Aço foi um bom começo e fazer um trailer perfeito também. Pena que não se refletiu na película inteira.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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