Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 20 de julho de 2006

Mad Max

Para quando foi lançado, em 1979, um sucesso inenarrável; para os dias de hoje, nem tanto como foi, mas ainda assim apresenta algumas boas virtudes que são dignas de serem apreciadas pelos cinéfilos já estafados dos lançamentos atuais.

Sucesso e dinheiro são duas palavras que combinam com Mad Max, visto que até 1998 o filme estava no Guinness Book como o filme de maior custo/retorno na história do cinema. Isto porque o filme custara US$ 400 mil aos seus produtores e arrecadou mais de US$ 100 milhões nas bilheterias de todo o planeta. Para se ter idéia de como o filme não tinha um bom orçamento, aproximadamente 20% das cenas inicialmente previstas no roteiro não chegaram a ser rodadas e a van que é destruída logo no início do filme pertencia ao diretor George Miller, que a utilizou em virtude da baixa quantia que tinha para poder gastar nas filmagens. O primeiro filme de três da franquia Mad Max enalteceu visivelmente a carreira do então jovem ator Mel Gibson. Quem diria que hoje o ator é um competente diretor e dono de uma filmografia invejável.

O filme nos apresenta a um futuro caótico, onde a lei é do mais esperto e os bandidos gozam das ruas com suas motos e carros, o que representa um desleixo dos políticos do futuro, sendo que esses nem são abordados no filme. Combatendo tais bandidos, a polícia se desdobra dia-a-dia também com seus potentes veículos motorizados. Dentre eles, o principal é o policial Max Rockatansky. Destemido e talentoso, o jovem policial persegue implacavelmente os "fora-da-lei". Em uma dessas "caçadas", acaba matando sem muita intenção o perseguido. A gangue desse, depois de descobrir o feitor do ato, começa a perseguir amigos e família de Max, o que desencadeia uma revolta enorme no rapaz.

É uma premissa deveras complicada de ser plenamente atingida, principalmente para 1979. Uma sociedade futurista, com tons de vingança no personagem principal, ladroagem à solta e tecnologia, são os fatores principais que envolvem o roteiro. Tentando pensar um pouco como no ano de lançamento do filme (mesmo sabendo que é impossível fazer isso plenamente), o longa é algo espetacular. O roteiro enquadra bem todos os fatores já citados e agrega com o fundo de vingança determinado pelo protagonista. Essa vingança, diga-se de passagem, não parece de forma sutil como vemos em filmes mais atuais, mas é algo bem feroz mesmo, visto, inclusive, a partir do ato que gerou tal sentimento no personagem.

Outro fator bastante bem abordado fora a tecnologia. Lógico, os automóveis apresentados são "fichinhas" na frente das máquinas potentes do recente "Velozes e Furiosos", mas, em 1979, esses carros eram o que hoje são tais potentes máquinas. Eu vibrei facilmente com as cenas de ação envolvendo perseguições, e olha que são muitas. Um prato cheio para os fãs mais assíduos ou nem tanto. Para que esses veículos estivessem melhores colocados na trama, nada melhor do que a escolha das locações para as filmagens. Pense em algo mais atrativo do que o sol e o deserto australiano. Não há! A veemente claridade deixa as cenas com tons mais fervorosos. O deserto deixa mais clara ainda a proposta de uma sociedade futurista.

Por falar em tal, talvez seja esse o ponto mais forte do filme. Tudo criou a atmosfera perfeita para adentrarmos no clima futurista da película. O roteiro, que apresenta personagens magnificamente bem estruturados, dá o tom principal para essa atmosfera ser aceita pelos espectadores. As já citadas locações completam ainda mais, e os figurinos fecham a competência da trama. A trilha sonora foi, sem dúvida, o elemento mais falho nesse aspecto, mas não compromete o resultado final. Se tivesse sido um pouco mais ousada, o quesito, com certeza, iria se destacar e se sobrepor sobre outros mais observados.

Já demonstrando talento, Mel Gibson não poderia ter dado um pontapé inicial melhor em sua carreira. Antes do início das filmagens, era intenção dos produtores que o intérprete de Max Rockatansky fosse um ator com aspecto bruto e desconsertado. Contam que um dia, antes de sua audição para o filme, Gibson cortou o rosto em uma briga de bar, o que acabou ajudando-o a conseguir o personagem. O bom é que ele foi escolhido, e com uma atuação que se agrega perfeitamente bem à proposta do roteiro, o ator dá vida ao personagem de forma a deixá-lo aí em destaque por gerações e gerações. Por outro lado, a atriz Joanne Samuel, que faz o papel da esposa de Mad Max, Jessie Rockatansky, chega até ser insuportável em algumas cenas. Sua atuação precária bastaria ser mediana para não comprometer o clima da trama.

Atingindo os objetivos para sua época, o primeiro filme da trilogia Mad Max se preocupou mais em apresentar o que ia ser abordado nas próximos duas continuações. Valioso para ser assistido hoje em dia, torna-se melhor ainda quando assistimos às suas duas seqüências que complementam toda a história do personagem Max Rockatansky, o temido Mad Max, plenamente bem.

Raphael PH Santos
@phsantos

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