Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 26 de junho de 2006

Poseidon

Por incrível que pareça, Poseidon é um dos trabalhos mais dinâmicos de Wolfgang Petersen. Ao lado de Força Aérea Um, o filme contém todos os elementos que, se não forem bem trabalhados, ao invés de causar impacto, fazem o espectador rir. Infelizmente Petersen se enveredou mais no segundo elemento do que no primeiro.

Pessoas normais, tentando sobreviver em um lugar fechado, passando por espaços pequenos, vencendo seus medos enquanto o lugar começa a inundar com água. Não, não é de Poseidon, atual trabalho de Wolfgang Petersen que estou falando, mas sim de um filme de 1996, com um certo Silvester Stallone chamado Daylight. Como é possível constatar, com uma diferença de 10 anos entre os dois, podemos ver o mesmo tipo de filme. Mas premissas idênticas à parte, Poseidon é um remake de O Destino de Poseidon, de 1972, com Gene Hackman no elenco.

O filme atual começa já no barco, e nas primeiras cenas você já identifica quem é o principal, que ele é um herói, é esportista, nas primeiras falas ele é carismático, ou seja, o personagem perfeito e básico de quase todos os filmes de ação. Poucos minutos após o início do filme, a onda gigante, que vem aparecendo a quase 8 meses nos trailers de quase todos os filmes, choca com o navio e o deixa virado de cabeça para baixo. A partir daí, confinados dentro da carcaça do grande Poseidon, um grupo de passageiros irá tentar chegar à hélice do barco, agora a única saída do navio.

Mark Protosevich, responsável pela a adaptação do livro de Paul Gallico, recorre ao manual de “como montar um filme de ação/suspense” de Hollywood. O que me surpreende é ele ser responsável por frases memoráveis do cinema como a do personagem que, mesmo com o barco afundando, todos dependendo dele, olha para a mulher e diz: “você me ama?”, mesmo ele tendo sido responsável pelo sucesso de “A Cela”, de 2000, com Jennifer Lopez no elenco. É até difícil explicar a quantidade de frases feitas ou mesmo personagens fracamente construídos psicologicamente falando. Deus queira que ele tenha melhorado na redação do roteiro para a versão que ele está escrevendo para o personagem dos quadrinhos Thor, que será lançado só em 2009.

Wolfgang Petersen, o que dizer? Primeiro, esse cara dá medo. Ele conseguiu fazer milhões de dólares em todos os seus trabalhos anteriores. Teve a infelicidade de não conseguir tanto sucesso nesse filme. Acredito que, em parte, pelo cansaço do público em ver narrativas como a que foi usada no filme. E acredito que foi por isso que chamaram Wolfgang Petersen. “Como fazer uma narrativa batida se tornar um filme passável?” “Ora, dê um orçamento caro e entregue para o Petersen!”. Para surpresa (pelo menos para mim, antes que muitos me trucidem!), Petersen consegue prender a atenção do espectador. Consegue mexer com os nervos, e, na verdade, acredito ter sido essa a intenção. Afinal blockcbuster não tem a intenção de ser um filme memorável, tem a intenção de divertir, e se analisar por esse ângulo, o filme consegue entreter.

Mas claro, como todo filme blockbuster, o destaque do filme não são os personagens, não é a história, e sim o espetáculo visual que aparece na tela, para encher os olhos. É permitir que uma pessoa comum (o espectador) viva emoções que não lhe seriam permitidas, e é isso o que Poseidon faz. Te arrebata para um mundo virado de cabeça para baixo (literalmente). Claro, comparações e brincadeiras são inevitáveis como comparar o filme com Titanic, ou mesmo Daylight, mas o espetáculo do filme, e aqui considero um grande problema, ocupou o lugar dos diálogos e das situações que o filme original “Destino de Poseidon”, já que para a época do filme, não havia tantos recursos como o utilizado por Petersen.

De toda forma, Poseidon serve como um bom filme de entretenimento, do tipo "assista e esqueça em seguida". Se por acaso você vive indo ao cinema, e já assistiu O Código Da Vinci, X-men 3 ou Missão Impossível 3 (acredite, considero Missão Impossível 3 melhor do que Poseidon), então vá assistir este filme, pelo menos é melhor do que ir ver Garfield 2.

Leonardo Heffer
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