Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 18 de junho de 2006

Vem Dançar

Pontos negativos de Vem Dançar são facilmente identificáveis. Ao tentar abordar diversos assuntos em uma só produção cinematográfica, o roteiro torna-se ralo, superficial, sem um aprofundamento maior em nenhum dos personagens. Porém, meio a falhas, o filme anima devido às músicas e coreografias bem feitas.

Provavelmente, durante a exibição de Vem Dançar, a maioria dos espectadores terá uma sensação de “déjà vu”, já que este filme consiste, basicamente, em uma mistura das diversas idéias abordadas em outros longas como Ao Mestre com Carinho – um velho conhecido da Sessão da Tarde – e Escola de Rock, com Jack Black.

O longa é baseado na história real de Pierre Dulaine (Antonio Banderas), um professor de dança do salão. Em uma noite, o sujeito testemunha um jovem (Rob Brown) destruindo sem piedade alguma um carro. Logo, Pierre descobre que este automóvel pertencia à Augustine (Alfre Woodward), diretora de uma escola da região. Com o intuito de ajudar, o professor se oferece a ensinar dança de salão aos estudantes. Augustine, então, sem depositar muita credibilidade em Pierre, o lota na classe mais problemática do colégio. Os alunos, a princípio, mostram-se relutantes em aprender dança de salão, visto que já estavam acostumados a dançar outros estilos na rua. À medida que o tempo passa, o professor Dulaine torna-se querido pelos adolescentes e os incentiva a aprimorar os seus talentos, os inscrevendo em uma competição de dança do salão de muito prestígio da cidade. Durante a preparação para o torneiro, os jovens acabam trocando experiências com o professor, que os ensina lições sobre respeito, dignidade e honra.

Mesmo não sendo tão original, a temática do filme em si é até boa, porém é tratada de uma maneira bastante superficial. Ao tentar juntar vários assuntos – como dança, situação conflituosa entre ricos e pobres, exclusão social, vida difícil de algumas pessoas e preconceito – em um mesmo projeto cinematográfico, a roteirista Dianne Houston acaba decepcionando por não conseguir abordar com firmeza nenhum. Não adianta tentar acolher diversos temas se estes não são bem trabalhados. Durante a completa exibição do longa, não há um aprimoramento maior em nenhum assunto tratado, sendo visto tudo de uma maneira muito rala. Embora os personagens passem por problemas claros, o que dá margem a uma profundidade psicológica, esta não existe, fazendo com que tudo seja muito jogado praticamente sem explicação.

A cineasta Liz Friedlander, conhecida por dirigir videoclipes de bandas famosas, como Blink 182, Simple Plan e R.E.M., não consegue se decidir sobre qual estilo definitivamente usar. Em certos momentos, o deslocamento da câmera leva a crer que o aparelho está balançando, deixando a imagem meio tremida, talvez tentando dar maior rapidez às cenas, fato que, se tivesse sido bem sucedido, talvez fosse responsável por dotar ao longa um ritmo mais interessante e trouxesse uma maior conformação ao espectador por ter ido ao cinema assistir a este lastimável filme. Já em outras ocasiões, principalmente nas cenas de dança, o uso de closes é maior, sabe-se lá o porquê, talvez para dar mais impacto às coreografias, o que, para mim, acaba gerando exatamente o contrário. Em suma, a maneira como o filme é administrado pode ser encarada de uma forma confusa, mudando de perspectivas e ambientes rapidamente. Ao término de uma cena, sinceramente dá para você perguntar “e o que mais…?”. Sem contar os cortes sem sentido feitos de uma seqüência para a outra.

Antonio Banderas, ao interpretar Pierre Dulaine, ainda mantém a imagem de latino sensual. O ator, durante a maioria das cenas, passou a impressão de querer agradar a qualquer custo, sempre com um olhar pedinte. O elenco coadjuvante é muito extenso, não possibilitando, assim, uma análise maior de todos os personagens, porém, em geral, os jovens mais pobres dos EUA foram vistos de uma forma caricata, com aquele ritmo corporal e oral bem típico do rap/hiphop. A maioria dos adolescentes pode até ser assim, todavia isso poderia ter sido mais maneirado. Até o Rob Brown, de Encontrando Forrester, – que, no íntimo, você sabe que é um ator que dança durante o filme, e não um dançarino que atua – consegue decepcionar, já que praticamente sempre permanece com a mesma expressão de jovem sofrido e decepcionado.

Entretanto, após diversos defeitos perceptíveis, o longa possui alguns pontos altos. A trilha sonora, embora seja notavelmente feita para vender, consegue animar inclusive o espectador mais exigente. Mesmo não tendo sido trabalhadas de uma maneira muito eficaz, as coreografias não decepcionam. Aliás, elas, juntamente com as músicas, são as responsáveis pelo ápice do filme. As cenas de tango, por exemplo, são pura aspiração de sexualidade, com o uso da câmera mais lenta sendo capaz de demonstrar todo esse instinto sexual presente no ser humano. Já as poucas seqüências de valsa são embaladas por um ritmo mais romântico, que, mesmo caindo no lugar comum, consegue agradar.

Com um roteiro superficial e uma direção mal trabalhada, Vem Dançar é o tipo de filme que não acrescenta muito ao espectador, sendo facilmente esquecido. Se você procura simplesmente uma diversão sem compromisso, badalada por uma mistura de canções agitadas e lentas, com certeza o filme o agradará, porém se busca algo mais requintado, do qual possa retirar lições de vida que não caiam naquela velha fórmula clichê, não se arrisque assistindo a esse longa.

Andreisa Caminha
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