Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 14 de junho de 2006

E Se Fosse Verdade

Uma comédia romântica com atores cativantes, um humor refinado e que, apesar de seguir todo o estereótipo dos filmes do gênero, se diferencia pela forma como é conduzido e não transforma o roteiro em um besteirol como outros que encontramos por aí e, mesmo usando em excesso a imaginação, não se torna superficial e dispensável.

A história gira em torno de Elizabeth (Reese Whiterspoon), uma médica talentosa que só tem tempo para se dedicar ao trabalho e deixa sua vida pessoal para segundo plano. Passando horas de plantão no hospital onde trabalha, em São Francisco, seu sonho é ser efetivada e, por isso, tem se esforçado cada vez mais para atingir seu objetivo. Durante uma noite chuvosa, a caminho da casa da sua irmã Abby (Dina Waters), onde ela seria apresentada a um partidão, Elizabeth perde o controle do carro e bate de frente a um caminhão. David (Mark Ruffalo) é um desempregado deprimido e sozinho que aluga o ex-apartamento de Elizabeth, mas se vê perturbado pelo “fantasma” da moça, que aparece para ele reclamando dos seus hábitos no apartamento que é dela. A partir daí, uma engraçada convivência entre personagens do mundo dos vivos e dos “mortos” vai se desenrolando até surgir a necessidade de descobrir por quê eles estão interligados. E um amor bastante diferente vai surgindo entre os dois.

E Se Fosse Verdade é diferente das últimas mil comédias românticas que já vimos. Mesmo seguindo todo um estilo que já conhecemos, apresentando os personagens e depois fazendo com que eles convivam com suas diferenças e batalhem por um amor, não existe dúvida que o filme foge do convencional. Baseado na obra If Only It Was True, de Marc Levy, o sucesso se dá primeiro pelo tema escolhido e, conseqüentemente, pela forma como ele foi tratado. É um diferencial que ganha pontos desde o começo. Uma história até fácil de ser pensada, sem muita complicação ou futilidade. Talvez a sensibilidade tenha sido o maior acerto na trama e tal sensibilidade não foi usada com exagero, do mesmo jeito que não percebemos um enredo forçado ou cheio de coisas sobrando. Tudo ficou nos seus conformes, os personagens criaram personalidades próprias que, além da habitual conquista do público, conseguem passar segurança no que falam e agem, desvirtuando o fantástico (de uma moça praticamente morta aparecer na vida de um homem solitário, e eles não poderem se tocar por pertencerem a mundos diferentes) do grotesco e do impossível. Claro, todos sabemos que situações assim não acontecem fora das telas hollywoodianas, mas, por vários momentos, o público se entrega tanto aquele drama, àquelas risadas, aqueles desesperos que tudo parece tão possível, despertando uma torcida fervorosa para que o happy ending aconteça.

Reese Whiterspoon é multifuncional. Nesse filme tive a certeza disso. Ela consegue fazer seu personagem ter sucesso em todos os momentos da trama, seja no âmbito da comédia ou do drama. Suas expressões, juntamente com sua agilidade em finalizar um diálogo, mostram o quanto ela é boa ao usar o humor refinado da trama ou a sensibilidade ou o desespero que seu personagem passa. Whiterspoon realmente é uma das maiores revelações cinematográficas dos últimos anos e tem toda uma carreira para se consolidar ao nível de estrelas como Julia Roberts. Mark Ruffalo é outro que surpreendeu no gênero. Atuar é a última coisa que ele faz. Tudo é tão espontâneo que parece até que ele está reagindo a algo natural. E os dois juntos vão além do casalzinho apaixonado, eles contam uma história de amor que não cai na superficialidade das comédias românticas, e o êxito se dá por causa deles, do elenco coadjuvante e do diretor Mark Waters, que havia dirigido o excelente Meninas Malvadas e mostrado sua competência em filmes do gênero. Waters explora ao máximo a vida daqueles personagens e dá para perceber que ele fornece uma grande abertura para que os atores joguem o sentimentalismo que acharem necessário em cada cena, não se prendendo ao que está escrito no roteiro, e, sim, ao que cada momento pode render. E está aí o resultado: um filme com belíssima montagem e especial do primeiro ao último segundo. E a trilha sonora? Ah, a trilha sonora!!! Tão simples e marcante quanto o filme. Cada canção se encaixa no momento certo da trama e dá uma melhorada naquilo que estava sendo maravilhoso, passando para um nível que conquista o público de vez.

Mais que uma comédia romântica, E Se Fosse Verdade é uma história de amor especial que não se torna mais uma opção pastelão nas prateleiras das locadoras. Mesmo caindo em alguns clichês, tudo contribui para o sucesso imediato da trama, que mexe com todos os nossos feelings e, ao contrário de muitos filmes por aí, passa a esperança de que amor verdadeiro existe acima de qualquer circunstância e não cai naquela mesmice de relações superficiais que lotam o histórico cinematográfico atual. É um filme maduro, especial e, acima de tudo, diferente.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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