Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 05 de junho de 2006

Todo Mundo em Pânico 4

Para quem curte aquele típico humor pastelão, descompromissado e recheado de gags grosseiras, “Todo Mundo em Pânico 4” é um prato cheio, cumprindo bem a que veio. Para os que exigem sempre algo a mais, é melhor ir procurar uma outra opção.

A série “Todo Mundo em Pânico” pode ser criticada pelos exigentes de plantão do jeito que for, mas, há de se considerar que ela tem um mérito enorme, afinal, ela foi responsável por trazer de volta aos cinemas um gênero que se mostrava já praticamente extinto: o humor pastelão baseado em sátiras de grandes sucessos do cinema. O ano era 2000, e aquela comédia cheia de piadas grosseiras e beirando a idiotice dominou os cinemas, sendo considerado por muitos adolescentes o filme mais engraçado daquele ano. Desde então, o filme ganhou continuações bem abaixo do nível do original e inspirou uma série de outras produções que seguem a mesma linha – vide o recente “Uma Comédia Nada Romântica” – porém, a série continua onipresente no gênero. Já chegando ao quarto episódio, chega-se a um ponto que imaginamos que não há mais o que inventar, afinal, as piadas vistas parecem ser sempre as mesmas, mas, por incrível que pareça, ainda rimos até lacrimejar. No final das contas, novas produções grandiosas sempre aparecem para serem satirizadas, e assim, a falsa sensação de novidade sobrepõe a falta de inteligência do roteiro. Isso acontece, e, “Todo Mundo em Pânico 4” tem tudo para fazer os fãs do cinema descerebrado delirarem.

Na trama (se é que isso interessa), Cindy Campbell (Anna Faris) descobre que a casa onde vive é assombrada pelo fantasma de um garoto e parte em busca da pessoa que o matou e o motivo. Ao mesmo tempo, `Tr-iPods` alienígenas invadem a Terra e cabe a Cindy descobrir o segredo para detê-los.

Enquanto o primeiro filme – e disparadamente o melhor da série –, dirigido por Keenen Ivory Wayans se apoiava no humor grosseiro e de baixo nível – algo que deu identidade à série -, o segundo foi um desastre total, tanto por exagerar mais ainda nas piadas sujas, como por nada mais fazer do que copiar muito mal o que fora visto no filme antecessor. Para o terceiro episodio, a série ganhou um diretor que é quase um símbolo da comédia pastelona: David Zucker, responsável por “obras-primas” do gênero como “Corra Que a Polícia Vem Aí!”, “Apertem os Cintos, O Piloto Sumiu” (hilário ao extremo, por sinal), “Top Secret”, entre muitos outros. O resultado foi até agradável, apresentando um filme divertido e repleto de piadas que nos fazem rir pela total falta de bom senso. Zucker deu uma nova identidade, abolindo em boa parte o tradicional humor grosseiro da série e assumindo o projeto como uma comédia pastelão bem ao seu estilo. Muitos gostaram, mas, muitos fãs das “raízes” da série ficaram um tanto decepcionados. Agora, eis uma ótima notícia: em “Todo Mundo Pânico 4”, Zucker consegue conciliar muito bem os tipos de piadas, apresentando aquelas velhas piadas pitorescas e clichês – como os seres serem extremamente desastrados e viverem batendo acidentalmente em alguém -, além daquelas piadas que de tão grosseiras, chegam a ser ofensivas aos mais prudentes. Ah, e com direito a tudo que é de nojento, orgânico e desprezível (vide flatulências, urina e certas coisas mais…).

Nesse quarto episódio, estão lá aqueles seres pra lá de estereotipados, quem eles acertadamente tiram onda com o fato de serem estereótipos assumidos, e muitas das piadas funcionam por mais que pareçamos já ter visto tudo aquilo antes. Ver uma criança apanhando o tempo todo acidentalmente, ver piadas envolvendo Michael Jackson, e aquele velho bate-lá-bate-cá pode parecer repetitivo demais para alguns, mas estão lá presentes, e àqueles que se preocupam apenas em (des)ocupar o cérebro por cerca de 1 hora e meia a fim de algo que tire toda essa formalidade da vida, certamente já riram de tudo isso e continuarão rindo (isso é bom).

Mais sátiras a grandes produções estão presentes, e desta vez, são bem melhor encaixadas, de modo que a “história” tenta possuir alguma lógica. E podem ter certeza que se você gostou de filmes como “Guerra do Mundos”, “”Menina de Ouro”, O Grito”, “A Vila”, “Jogos Mortais”, “Fahrenheit 11/9”, irá achar muita graça em ver elas serem ridicularizadas ao extremo aqui. É até difícil citar cenas específicas, afinal, todos os momentos parodiando tais filmes são tem seu valor. Seja o ataque dos Tri-Pods; o início com o jogador de basquete Shaquille O’Neal preso em um banheiro idêntico ao de “Jogos Mortais”; o agenciador oriental tentando convencer Cindy Campbell a aceitar o emprego enquanto “desvia a atenção” da ameaça da casa; a luta de boxe de Cindy parodiando uma decisiva cena de “Menina de Ouro”; sem falar nas aparições do veteraníssimo do ramo Leslie Nielsen, como o estúpido presidente dos EUA (isso lembra alguém?)… todos esses momentos são de fazer descontrair ou até gargalhar.

Pena que mesmo com boas paródias, às vezes eles insistem em encaixar mais uma ou outra sátira a um filme conhecido, mesmo que em nenhum momento ela caia bem para o filme. Exemplo é o caso da forçadíssima sátira a “O Segredo de Brokeback Mountain”. Muito lamentável.

Pode parecer ousadia, mas digo que “Todo Mundo em Pânico 4” bate os dois filmes anteriores com sobra, ficando abaixo apenas do primeiro. Nele conseguiu-se encontrar a soada intersecção entre os estilos de narrativa dos dois diretores que a franquia teve, e deve agradar a todos que curtem rir de coisas que de tão bestas, se tornam engraçadas. Absurdo do começo ao fim, perfeito para tirar do sério uma pessoa que quer apenas rir forçadamente. Se você exige uma boa trama, ou até mesmo piadas inteligentes que vão muito além da marca do ridículo, é melhor procurar a outro filme ou poupar o dinheiro do ingresso. Pelo menos eu lhes garanto: quem viu Tom Cruise pagando um mico maior que o King Kong ao pular do sofá no programa da Oprah Winfrey, irá se deslumbrar com performance satírica de Craig Bierko (por sinal, com imitações das expressões de Cruise quase perfeitas).

Thiago Sampaio
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