Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 03 de junho de 2006

Todo Mundo em Pânico 4

A quarta comédia pastelão da franquia Todo Mundo em Pânico chega aos cinemas brasileiros com o compromisso apenas de fazer gracinhas como sempre e se encaixar na lista dos filmes pipocões repletos de lixo cultural hollywoodiano, servindo apenas para fazer com que o público solte alguns ‘há hás’ e vá embora feliz e “satisfeito”.

Centrando as atenções nos filmes de terror e suspense que já foram lançados, Todo Mundo em Pânico 4 continua seguindo a mesma linha: satirizar os atores, as situações e o enredo de filmes como Jogos Mortais, Guerra dos Mundos, O Grito, fazendo citações dispensáveis de A Vila, O Segredo de Brokeback Mountain e Menina de Ouro. Todas essas histórias se interligam, juntamente com seus personagens e situações. Alguns personagens dos filmes anteriores estão de volta como Carmen Electra, Leslie Nielsen, Simon Rex, Regina Hall e Ana Farris.

Para quem conhece a franquia fica fácil de ir ao cinema saber o que iremos encontrar. Socos, pancadas, objetos batendo nos personagens, pessoas sendo arremessadas, apelações ao corpo e às necessidades fisiológicas (¬¬) sempre reinaram e assim continuam. Nada contra, visto que o objetivo do filme é ser engraçado, não necessariamente divertindo, mas até o mais sério com certeza não irá se conter com uma ou duas cenas do longa. Falo isso porque quem não assistiu aos filmes satirizados pelo roteiro de Craig Mazin, Pat Proft e Jim Abrahams, podem rir só por rir, já que não terá como identificar os momentos sarcásticos que estão sendo trabalhados. Do mesmo jeito que algumas citações são feitas em determinada parte da trama, onde nem todos os brasileiros conhecem, não causando as gargalhadas previstas pelo roteiro. De qualquer forma, não tem como não rir. Por mais que a besteira reine no filme, ri-se da tal besteira, não porque exatamente o filme é divertido.

Talvez esse seja o problema dos Todo Mundo em Pânico. A linha exagerada e apelativa chega à idiotice, fazendo do roteiro uma grande bomba, tornando o filme uma máquina caça-níquel, porque nós sabemos que produções do gênero é quase certeza de lucrar. E é baseado nisso que podemos esperar o quinto, o sexto e vários outros filmes dessa franquia, pois eles sempre estarão satirizando filmes realmente bons que fogem do lixo cultural hollywoodiano. Enquanto houver atores disponíveis, produtoras interessadas e diretores ousados para entregar seus nomes em produções inferiores e inúteis como esta, elas continuarão ocupando várias salas de projeção; espaço que poderia ser muito bem usado para filmes de arte, que, apesar de interessar a um público restrito, não idiotiza nem imbeciliza a quem o assiste.

A direção é apenas normal, mesmo porque todas as cenas procuram seguir as mesmas angulações e acontecimentos dos filmes originais. O mesmo acontece com o roteiro. Foram acrescentadas idiotices que, em sua maioria, fará o público rir descompromissadamente, e quando a sessão acabar, todos vão embora felizes e contentes com a cabeça descontraída e cheia de inutilidades. Os atores são responsáveis nos papéis. Ana Farris mostra talento ao interpretar um personagem que guarda as características de um personagem de filme de terror (O Grito), conseguindo mesclar com a comédia, entrando em situações inacreditáveis e irritando com seu excesso de ‘doçura’. Outro destaque é para seu par romântico, Craig Bierko, que cria o personagem em cima da atuação de Tom Cruise em Guerra dos Mundos, adquirindo trejeitos e expressões idênticas. A cena final, dispensável ao resto da trama e certamente encaixada de última hora, mostra uma divertida entrevista do personagem de Bierko no programa da apresentadora Oprah Winfrey, mais uma vítima da sátira do filme. O nonsênsico prevalece e este momento vira um dos melhores de todo o longa.

Com o único compromisso de fazer rir e, quem sabe, divertir, Todo Mundo em Pânico 4 vem para lucrar na bilheteria e alienar o gosto cinematográfico do espectador. Por mais que atinja seu objetivo, deixa um pouco a desejar e torna-se redundante se comparado com os filmes anteriores. De qualquer forma, é uma boa pedida para um final de semana onde queremos relaxar vendo uma ‘boa’ comédia e gastar algumas horas do seu dia com inutilidades.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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