Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 30 de abril de 2006

Ultravioleta

Com um roteiro fraco e pessimamente trabalhado, Ultravioleta agrada mais como filme de ação do que como os outros gêneros em que se encaixa. Digamos que maior parte do longa enchemos os olhos apenas com belas lutas coreografadas e uma história rala e vaga.

A história já começa meio imposta. Somos apresentados ao personagem principal logo de cara e nos deparamos com uma bela moça em uma missão esquisita. Mas antes disso, entendemos ainda no começo da narrativa que a história se passa em um futuro distante onde, tentando encontrar um vírus para fazer dos humanos soldados mais fortes, criaram uma nova raça, chamada de “vampiros”, que passou a dividir o espaço com os humanos, travando uma verdadeira batalha. Poucos vampiros sobreviveram e agora tentam lutar contra os inimigos e evitar a extinção total. Bem, voltando à missão de Violet (a belíssima Milla Jovovich), ela a recebe no início do filme e é para recuperar uma maleta com uma suposta arma poderosa dentro. Nada emocionante por enquanto, a não ser as cenas de briga que a moça enfrenta. Sem conseguir controlar a curiosidade, Violet descobre que a arma na verdade é uma criança e, a partir daí, busca a verdade sobre o menino e os porquês de ele ser um “objeto” tão cobiçado por ambas as partes da sociedade.

Os menos de noventa minutos de duração do longa servem apenas como um bom passatempo para aqueles que querem ir ao cinema e ver uma produção que busca apenas arrecadar um bom vil metal. Por mais que o cenário cinematográfico já esteja cheio de super heróis, mais um só vem despertar o interesse do público em conhecer e quem sabe virar fã. Ultravioleta seria uma boa heroína para se juntar aos heróis já consolidados como Batman, Superman e Homem Aranha, mas o problema que evita isso acontecer é a dispensabilidade do roteiro. Vamos por partes. Pouco da história de Violet é contada e quase nenhuma justificativa é dada acerca do grande poder da protagonista. Mesmo assim, a atriz consegue atrair a atenção do público com seus belos olhos azuis e sua ótima atuação, mas não é ajudada pela fraqueza do roteiro. A trama não se sustenta e oscila entre momentos de drama, ação, ficção científica e seja lá o quê e nenhuma dessas áreas é fortemente trabalhada, passando ao público a segurança de uma história pouco criativa ou ao menos interessante. O diretor e roteirista Kurt Wimmer pegou várias idéias já utilizadas em outros filmes do gênero e criou um enredo fraco com um personagem forte, atrapalhando no desenvolvimento da trama que tenta seguir uma linha política mas que não passa da superficialidade.

Os efeitos visuais têm seus momentos bons e ruins. Digo isso porque o surrealismo foi tão grande ao desenvolver um mundo futurista com armas misteriosas e povos mais desenvolvidos que beira ao exagero, se é que não chega a ele. Alguns efeitos são totalmente dispensáveis e só estão ali para poluir a produção, que se sustentaria bem sem tais cenas. Talvez o exagero tenha sido até de propósito, buscando um novo estilo de filme futurista, mas calma, não vamos apenas dar um banho de computação gráfica no espectador, mesmo porque está cada vez mais difícil de enganar os olhos da platéia. Ficam claros os momentos de uso do fundo verde para a montagem do cenário e a impossibilidade de certos desfechos das cenas, mas existem os momentos onde os efeitos visuais ficaram dignos e interessantes.

As lutas (maior parte do filme, por sinal) foram bem coreografadas e receberam uma boa condução do diretor. Apesar de lembrar várias cenas de filmes como Kill Bill e Matrix, Ultravioleta tem seu toque especial e o charme e competência de Milla Jovovich resultam em ótimas seqüências munidas de muitas balas e golpes de artes marciais. Parece que o duro treino que Jovovich enfrentou antes de filmar o longa realmente recompensou nas competentes cenas desenvolvidas. Ainda mais quando os belos golpes que destroem quem passa na frente de Violet são acompanhados por uma trilha sonora não muito irritante e tão futurista quanto o cenário no qual o filme foi construído.

De qualquer forma, Ultravioleta peca, mas consegue dar bons momentos de ação a quem assiste. Quem procura por uma trama bem trabalhada e inteligente pode se desapontar, mas é melhor abstrairmos tais falhas e nos concentrar no que de bom o filme tem a oferecer, para que não fiquemos revoltados saindo por aí falando mal do filme.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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