Com um roteiro sem novidades, esta homenagem bombada e radical aos filmes de espião estilo James Bond, consegue ser uma boa diversão aos fãs de tiros, acrobacias e explosões.
Vin Diesel chamou a atenção da indústria pelo seu papel do anti-herói na aventura espacial “Eclipse Mortal” e ao roubar a cena como Dominic Toretto em “Velozes e Furiosos”, em que mesmo com um papel secundário, acabou se tornando a alma do filme. Não iria demorar muito para que os figurões da indústria cinematográfica vissem que aquele careca, grandalhão e de voz grave, tinha todos os quesitos para se tornar o maior astro de filmes de ação desta nova geração, seguindo os mesmos passos de Schwarzenegger, Stallone, Van Damme e cia.
Para fazer essa transformação no astro, nada melhor do que produzir um filme que tenha seu nome reinando sozinho no topo do cartaz, e recheado de cenas de ação de tirar o fôlego que agradem em cheio aos adolescentes pertencentes à “geração vídeo-game”. De quebra, Rob Cohen, diretor que havia trabalhado com Diesel em “Velozes e Furiosos”, sucesso geral entre os adolescentes fãs de máquinas, é convidado para voltar a dirigir o astro nesse novo longa, criando mais um chamariz para os fãs do cinema-pipoca de plantão. Pronto, a receita já estava pronta para fazer um filme arrasa-quarteirão sucesso de bilheteria, e lançar um ator ao status de “astro do gênero”. Assim nasceu “Triplo X”. Ah, o roteiro, isso é apenas um detalhe.
Vin Diesel interpreta Xander Cage, um atleta de esportes radicais famoso por suas performances em público que desafiavam a própria morte. Gibbons (Samuel L. Jackson), um agente da NSA, decide recrutar Cage para sua organização, apostando em sua imensa capacidade de lidar com situações inusitadas e perigosas. Após passar por uma pesada bateria de testes, Cage acaba aceitando o convite, meio que sem opção de escolha, já que ele estava sendo procurado pela polícia. Ele recebe então o codinome de “Triplo X”, e é escalado para uma missão em que ele terá de se infiltrar em uma impetuosa facção do crime organizado russo, onde enfrentará um inteligente, organizado e implacável inimigo que planeja secretamente alguma missão destrutiva.
O filme consegue ser uma boa “homenagem-paródia” aos filmes de espionagem ao estilo de James Bond. Algo semelhante ao que Quentin Tarantino fez aos filmes de artes marciais orientais em “Kill Bill”. Sua estória é claramente uma cópia das aventuras do espião inglês, pegando os principais fatores e misturando-os em uma receita bem elaborada: o herói que nunca perde seu ar de superioridade, o vilão charmoso com algum plano de destruição de algum lugar, a mocinha (interpretada pela bela Asia Argento) que de início está do lado do bandido, até que se envolva com o herói (ohh que novidade!), além é claro, não deixando de fora as bugigangas hi-tech, marca registrada de 007, que incluem carros, armas e tudo mais, e o seu patriotismo. A diferença, é que Xander Cage não está a serviço secreto de Sua Majestade. Ele é americano, e deixa bem claro a isso na cena em que ele abre seu pára-quedas com a pintura da bandeira dos Estados Unidos. Por outro lado, Xander Cage é um agente secreto que passa longe de ter aquele charme que sempre foi marca de James Bond. Ele não usa smoking, tem o corpo todo tatuado, não é um galanteador nato, e inclusive, chega a roubar um carro e atira-o de uma ponte na primeira cena, em protesto a um senador que era contra os jogos de vídeo-game violentos. Xander Cage é um típico anti-herói. Ele é um cara que pode até estar trabalhando para o governo, mas que no fundo, não passa de um rebelde que age por si e desobedece ordens. O próprio clima do filme é propositalmente feito sem aquele glamour, e sim, com um clima muito mais radical e cheio de adrenalina, em que as cenas de ação absurdas e cheias de efeitos especiais predominam durante a projeção.
As cenas de ação realmente são de tirar o fôlego, em que com o apoio de bons efeitos especiais, foi possível dar vida às situações totalmente inimagináveis para nosso mundo real, bem ao estilo de “Missão Impossível 2” Lógico, para os mais exigentes sempre chega uma hora de dizer: “Perái, já estão exagerando demais. Poupem-me”. Mas o povo às vezes esquece que isso tudo é cinema, e cinema é magia, e acima de tudo, diversão. Tudo pode acontecer nesse “mundo paralelo” que é o cinema. Os mais descontraídos que assistem “Triplo X” unicamente com o intuito de se divertirem, sem dúvidas irão delirar ao verem Vin Diesel fazendo acrobacias e detonando todo mundo ao comando de uma moto ou provocando uma avalanche na neve, lógico, também derrubando todos os vilões (por sinal, motorizados enquanto Diesel apenas usufruía de um esqui) em meio a avalanche.
O roteiro, como é de se esperar normalmente em filmes do estilo, é cheio de buracos e não recebeu uma atenção maior. Certas horas do filme, parece que esquecemos o que estamos assistindo e nos perguntamos: “O que ele está fazendo aí mesmo?”. É normal nesse filme às vezes nos desligarmos totalmente da estória, que quando parece que finalmente vai engrenar, ela se volta para uma cena de ação, fazendo-nos perdermos a linha do trem novamente. Até mesmo o romance de Xander Cage com a personagem de Asia Argento não convence a ninguém, deixando o filme cansativo nessas horas. Como o filme foi feito com o objetivo de promover Vin Diesel, seu personagem recebe tanto destaque, que os outros personagens parecem sequer existirem. É incompreensível a participação do talentoso Samuel L. Jackson nesse filme. O astro que deu vida ao marcante Jules, de “Pulp Fiction”, aparece pouco aqui, e seu personagem não tem muita importância, podendo ter sido interpretado por qualquer outro ator desconhecido que ninguém se sentiria mal por isso.
Vin Diesel dá conta do recado como o herói durão e de poucas palavras, e pelo visto, “Triplo X” cumpriu o seu dever e realmente conseguiu transformá-lo em um astro de salário milionário e disputado por grandes estúdios. Pode-se dizer que “Triplo X” representou para ele o que o primeiro “Exterminador do Futuro” representou para Schwarzenegger, ou “Rambo” representou para Stallone. Por sinal, a interpretação de Diesel consegue ser infinitamente melhor do que as desses dois brutamontes (isso não significa que seja um elogio).
“Triplo X” é um filme sem maiores novidades, que pode parecer simples demais para os mais exigentes. Mas no final das contas, ele consegue nos entreter durante duas horas com cenas de ação criativas, e um novo modelo de agente secreto, garantindo uma boa diversão sem compromisso. Quanto a Vin Diesel, pode ainda parecer cedo dizer que ele é o novo Arnold Schwarzenegger, mas ele está indo pelo caminho certo.