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Notícias   quinta-feira, 18 de março de 2021

As surpresas do Oscar 2021: quem ficou de fora e quem surpreendeu em uma edição atípica

Em um ano marcado pelo impacto do coronavírus na indústria do cinema, o Oscar não teria como não ser afetado.

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2020 foi o ano mais atípico para a indústria do cinema em muito tempo. O início da era do streaming já vinha causando chacoalhões cada vez maiores ano após ano, mas, para temporada de premiações em Hollywood, nada se comparou ao efeito da pandemia do novo coronavírus (COVID-19). Logo de cara, a mudança mais drástica no Oscar 2021 foi o adiamento da data da cerimônia em quase dois meses, para dar tempo à indústria de acomodar o máximo possível de candidatos. Ajustes nas regras de elegibilidade também tiveram que ser feitos, o que torna essa edição do prêmio máximo de Hollywood uma edição especial.

Em 2021, nenhum dos oito indicados à categoria de Melhor Filme do Oscar foi um grande sucesso nas bilheterias. A maioria, aliás, veio do streaming, principal alternativa da indústria (e do público) para dar vazão às novas produções. Com isso, uma boa quantidade de filmes que fariam sucesso em premiações de cinema independente, por exemplo, figuram como fortes nomes no Oscar esse ano, como “Nomadland“, “O Som do Silêncio” e “Minari“, entre outros.

Essa edição atípica do Oscar, no entanto, trouxe boas surpresas e proporcionou uma série de indicações pioneiras à premiação. Se nos anos anteriores diversidade e inclusão foram pautas importantes a um prêmio sempre destinado majoritariamente a brancos, a cerimônia desse ano terá, por exemplo, a primeira mulher de origem asiática concorrendo na categoria de Melhor Direção com Chloé Zhao. Aliás, em 93 anos de existência, essa é a primeira vez que duas mulheres concorrem na categoria – Emerald Fennell é a outra. Nas categorias de atuação, Melhor Ator e Melhor Ator Coadjuvante têm maioria de candidatos não brancos, com Steve Yeun também fazendo história como primeiro ator de origem asiática a concorrer em Melhor Ator.

Mas, se há algo que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA gosta de fazer, é surpreender, e, naturalmente, muitos nomes queridos pelo público e contemplados pelas premiações especializadas acabaram deixados de fora. Para calibrar o bolão dessa edição histórica, vamos ver quais foram as principais surpresas e esnobadas do Oscar 2021.

Melhor Filme

Foram indicados: “Judas e o Messias Negro”, “Mank”, “Minari”, “Nomadland”, “Bela Vingança”, “O Som do Silêncio”, “Os 7 de Chicago”, “Meu Pai”.

Ficaram de fora: “Destacamento Blood“, “Uma Noite Em Miami“, “A Voz Suprema do Blues“, “Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre“.

Apesar dos pesares, 2020 foi um ano com produções excelentes no streaming, e proporcionou a filmes como “O Som do Silêncio” uma visibilidade que outrora seria mais difícil de obter. A safra foi tão boa que, inevitavelmente, muitos nomes acabaram de fora da principal categoria do Oscar. O caso mais gritante é “Destacamento Blood“, de Spike Lee, que conta com atuações excelentes e uma história emocionante de luto e luta. “Uma Noite Em Miami“, de Regina King, também ficou de lado, apesar de proporcionar um olhar elegante e profundo sobre alguns dos maiores ícones da luta pelos direitos civis. Um filme que dominou as premiações de cinema independente foi “Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre“, e, com isso, ganhou um pouco de tração para o Oscar, mas não o suficiente.

Melhor Direção

Foram indicados: Lee Isaac Chung (“Minari”), Emerald Fennell (“Bela Vingança”), David Fincher (“Mank”), Chloé Zhao (“Nomadland”), Thomas Vinterberg (“Druk – Mais Uma Rodada”).

Ficaram de fora: Regina King (“Uma Noite em Miami“), Spike Lee (“Destacamento Blood“), Aaron Sorkin (“Os 7 de Chicago“).

Em 2020, a categoria de Melhor Direção foi o principal alvo de críticas por indicar apenas homens em um ano em que diretoras mulheres tiveram grande destaque no circuito. Já em 2021, o cenário está muito mais inclusivo, com duas mulheres concorrendo, algo que nunca aconteceu em 93 anos de Oscar. Emerald Fennell, por “Bela Vingança“, e Chloé Zhao, por “Nomadland“, fizeram história por isso, com Zhao ainda sendo a primeira mulher de origem asiática a ser contemplada. Poderia ter sido ainda melhor, se a Academia não tivesse deixado de fora Regina King, que dirigiu de forma competente e elegante “Uma Noite Em Miami“. Aaron Sorkin, que ganhou o Globo de Ouro da categoria por “Os 7 de Chicago“, sequer foi indicado, bem como Spike Lee por “Destacamento Blood“. A surpresa fica por conta de Thomas Vinterberg pelo dinamarquês “Druk – Mais Uma Rodada“, ocupando uma vaga que poderia muito bem ser de Regina King.

Melhor Ator

Foram indicados: Riz Ahmed (“O Som do Silêncio”), Chadwick Boseman (“A Voz Suprema do Blues”), Anthony Hopkins (“Meu Pai”), Gary Oldman (“Mank”), Steven Yeun (“Minari”).

Ficou de fora: Delroy Lindo (“Destacamento Blood“).

De imediato, a ausência de uma indicação a Delroy Lindo por “Destacamento Blood” é uma das mais gritantes do Oscar 2021. Seu trabalho no filme de Spike Lee é brilhante, com direito a um monólogo hipnótico e assombroso no meio do filme, vindo de um personagem marcado por suas contradições. Sua ausência, contudo, já havia sido notada entre os indicados ao SAG Awards. Entre os contemplados, os destaques são o saudoso Chadwick Boseman, provável vencedor por “A Voz Suprema do Blues”, Riz Ahmed, que dá vida a um músico desesperado para manter sua audição em “O Som do Silêncio“, e Steve Yeun, um pai de família coreano tentando realizar o sonho americano em “Minari“. Três atores não brancos, com Yeun fazendo história como o primeiro ator de origem asiática indicado ao prêmio.

Melhor Atriz

Foram indicadas: Viola Davis (“A Voz Suprema do Blues”), Vanessa Kirby (“Pieces of a Woman”), Frances McDormand (“Nomadland”), Carey Mulligan (“Bela Vingança”), Andra Day (“The United States vs. Billie Holiday”).

Ficou de fora: Amy Adams (“Era Uma Vez Um Sonho“).

Melhor Atriz é uma das categorias em que praticamente não há surpresas no Oscar 2021. As figurinhas carimbadas Viola Davis e Frances McDormand retornam, com a segunda despontando um pouco à frente das demais em uma corrida que promete ser definida voto a voto. Vanessa Kirby protagonizou o drama “Pieces of a Woman“, filme perfeito para lhe render sua indicação com uma performance poderosa. Carey Mulligan também impressiona em “Bela Vingança“, e Andra Day correndo por fora pelo pouco falado “The United States vs. Billie Holiday“. Para não passar em branco, Amy Adams foi indicada ao SAG Awards pelo fraco “Era Uma Vez Um Sonho“, mas aqui fica de fora.

Melhor Ator Coadjuvante

Foram indicados: Sacha Baron Cohen (“Os 7 de Chicago”), Daniel Kaluuya (“Judas e o Messias Negro”), Leslie Odom Jr. (“Uma Noite em Miami”), Paul Raci (“O Som do Silêncio”), Lakeith Stanfield (“Judas e o Messias Negro”).

Ficou de fora: Jared Leto (“Os Pequenos Vestígios“).

A principal surpresa é a indicação de Lakeith Stanfield por “Judas e o Messias Negro“, sendo que a produção do filme fez campanha para sua indicação como Melhor Ator – mas a Academia vota no que a Academia vota. Seu colega de filme, Daniel Kaluuya, conquistou o Globo de Ouro da categoria, e pode surpreender. Outra indicação digna de nota é a de Paul Raci por “O Som do Silêncio“, um ator que teve apenas papéis pequenos na televisão anteriormente. De fora, apenas Jared Leto poderia ter sido indicado pelo fraco e pretensioso “Os Pequenos Vestígios“, dado que ele foi contemplado pelo SAG Awards e pelo Globo de Ouro.

Melhor Atriz Coadjuvante

Foram indicados: Maria Bakalova (“Borat: Fita de Cinema Seguinte”), Glenn Close (“Era uma Vez um Sonho”), Olivia Colman (“Meu Pai”), Yuh-Jung Youn (“Minari”), Amanda Seyfried (“Mank”).

Ficaram de fora: Ellen Burstyn (“Pieces of a Woman“), Helena Zengel (“Relatos do Mundo“), Jodie Foster (“The Mauritanian“).

Melhor Atriz Coadjuvante talvez seja uma das únicas corridas sem favoritas entre as categorias principais. O mais destaque aqui talvez seja Maria Bakalova, que sustentou sua personagem em “Borat 2” mesmo em face de situações bizarras, como a infame cena com o político americano Rudy Giuliani. Mesmo assim, não há como afirmar uma favorita entre as demais atrizes. Glenn Close é talvez a única coisa boa de “Era Uma Vez Um Sonho“, e Amanda Seyfried rivaliza perfeitamente com Gary Oldman em “Mank“. Apesar de não ter sido indicada ao SAG Awards ou ao Globo de Ouro, havia quem apostasse em Ellen Burstyn por “Pieces of a Woman“. Indicada a ambos, Helena Zengel não foi contemplada pelo Oscar por “Relatos do Mundo“, assim como Jodie Foster, que conquistou o Globo de Ouro da categoria por “The Mauritanian“.

Melhor Roteiro Original

Foram indicados: Will Berson, Shaka King, Keith Lucas & Kenny Lucas (“Judas e o Messias Negro”), Lee Isaac Chung (“Minari”), Emerald Fennell (“Bela Vingança”), Derek Cianfrance, Abraham Marder & Darius Marder (“O Som do Silêncio”), Aaron Sorkin (“Os 7 de Chicago”).

Ficaram de fora: “Mank“, “Soul“, “Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre“.

Uma categoria com muitos candidatos para poucas vagas. Histórias autênticas como “Judas e o Messias Negro“, “Minari“, “Bela Vingança” e “O Som do Silêncio” nomeadas, enquanto “Soul“, animação da Pixar que fez muita gente chorar, e o tocante “Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre” deixados de fora. A maior surpresa, no entanto, fica por conta de “Mank“, que não teve indicação. O filme de David Fincher tem roteiro de seu pai, Jack, que tinha o projeto como menina dos olhos. Mas, apesar da história de pai e filho fora das páginas, a trama centrada na produção de “Cidadão Kane” não foi contemplada, e David não conseguiu a sonhada homenagem a seu pai com um possível Oscar póstumo.

Melhor Roteiro Adaptado

Foram indicados: Peter Baynham, Sacha Baron Cohen, Jena Friedman, Anthony Hines, Lee Kern, Dan Mazer, Erica Rivinoja & Dan Swimer (“Borat: Fita de Cinema Seguinte”), Christopher Hampton & Florian Zeller (“Meu Pai”), Chloé Zhao (“Nomadland”), Kemp Powers (“Uma Noite em Miami”), Ramin Bahrani (“O Tigre Branco”).

Ficaram de fora: “A Voz Suprema do Blues“, “Relatos do Mundo“.

Com indicações surpreendentes, Roteiro Adaptado é uma categoria com diversos gêneros. Não havia como deixar de fora os excelentes “Nomadland” e “Uma Noite Em Miami“. O indiano “O Tigre Branco” vem indicado pelo WGA Awards, e “Meu Pai” parece ser o queridinho da Academia que tomou de assalto as categorias em 2021. Quem surpreende é “Borat 2“, que se torna a segunda franquia do cinema a ter seus primeiros e segundos filmes indicados. A primeira? “O Poderoso Chefão“. Outros dois filmes indicados ao WGA, mas que ficaram de fora, são “Relatos do Mundo” e “A Voz Suprema do Blues“. O segundo conta uma história encantadora, um embate entre músicos talentosos, mas em momentos opostos de suas carreiras. Pena que nem a química eletrizante de Viola Davis e Chadwick Boseman foi capaz de embelezar ainda mais essa história para a Academia.

Melhor Canção Original

Foram indicadas: Husavik (“Festival Eurovision da Canção: a Saga de Sigrit e Lars”), Fight For You (“Judas e o Messias Negro”), lo Sì (Seen) (“Rosa e Momo”), Speak Now (“Uma Noite em Miami”), Hear My Voice (“Os 7 de Chicago”).

Ficaram de fora: Turntables (“All In: The Fight For Democracy“), Tigress & Tweed (“The United States vs. Billie Holiday“).

Na categoria de Melhor Canção Original, a principal (e mais grata) surpresa foi Husavik, do filme “Festival Eurovision da Canção: a Saga de Sigrit e Lars“, que não foi indicada ao Globo de Ouro e na qual poucos apostavam. Entre as demais canções, todas figuraram entre as indicadas às demais premiações da temporada na categoria, sem muitas surpresas. Turntables e Tigress & Tweed eram duas que poderiam roubar a cena; a primeira foi trilha do documentário da ativista Stacey Abrams “All In: The Fight For Democracy“, enquanto a segunda chegou até a ser nomeada ao Globo de Ouro por “The USA vs. Billie Holiday“, sendo inspirada na icônica canção “Strange Fruit“.

Melhor Documentário

Foram indicados: “Collective”, “Crip Camp”, “The Mole Agent”, “My Octopus Teacher”, “Time”.

Ficaram de fora: “All In: The Fight For Democracy“, “Boys State“, “Dick Johnson Is Dead“.

A pandemia do coronavírus não impactou apenas o cinema, como bem se sabe. Uma das áreas mais afetadas foi a política, acirrando desde corridas eleitorais até conflitos políticos internos em certos países. Nos EUA, as eleições de 2020 foram um marco, tendo que ocorrer em meio à escalada autoritária de um governo que simplesmente não queria que as pessoas fossem às urnas. A ativista e política Stacey Abrams, do estado da Georgia, produziu “All In: The Fight For Democracy” evidenciando o caos político e mirando o Oscar. Apesar da roupagem politizada nas categorias principais, a Academia não estava pronta para algo tão incisivo. Quem também ficou de fora foi o aclamado “Boys State“, que mostra um grupo de garotos no Texas tentando fazer política sem tantos empecilhos, além do emocionante “Dick Johnson Is Dead“, sobre  mortalidade e uma família que tenta se preparar para a perda de seu patriarca.

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A cerimônia de entrega do Oscar acontecerá no dia 25 de abril, em Los Angeles, Califórnia. Conheça os indicados.

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Julio Bardini
@juliob09

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