Protagonizado por Charlize Theron, novo filme de ação da Netflix tem boas cenas de ação, mas deixa de desenvolver melhor seus personagens e sua própria mitologia.
Charlize Theron já provou ser uma excelente protagonista de ação com “Atômica” e “Mad Max: Estrada da Fúria”. Claro, fingindo que “Aeon Flux” não existe. Além disso, ela mostrou todo o seu talento dramático com as diversas premiações de “Monster – Desejo Assassino”. Em “The Old Guard”, nova obra estrelada pela atriz sul-africana, a ação e o drama andam em conjunto. O resultado é menos interessante do que as obras citadas, mas não deixa de ter uma história curiosa.
A trama gira em torno de um grupo de pessoas que possuem o dom da imortalidade. Eles se juntaram, como um esquadrão de operações especiais, para proteger pessoas mais vulneráveis e que precisam de ajuda. Liderados por Andy (Theron), Booker (Matthias Schoenaerts), Joe (Marwan Kenzari) e Nicky (Luca Marinelli), eles sobrevivem se ocupando com estes resgates e missões. A calmaria se vai quando o time passa a ser perseguido por uma grande empresa farmacêutica em busca dos seus corpos para pesquisas científicas. Além disso, surge uma nova imortal, a fuzileira Nile (KiKi Layne).
O filme, lançado na Netflix, é dirigido por Gina Prince-Bythewood (“Nos Bastidores da Fama”) e é uma adaptação da HQ homônima escrita por Greg Rucka (que já trabalhou nos quadrinhos da Mulher-Maravilha), e ilustrada por Leandro Fernández. Rucka, inclusive, foi o responsável por adaptar sua obra para o longa.
A diretora mostra logo de início o corpo dos quatro integrantes da equipe mortos após um tiroteio. Não é spoiler, é uma explicação rápida e eficaz para demonstrar a imortalidade dessas pessoas, pois logo eles se levantam e contra-atacam.
A violência é explícita, com sangue jorrando no melhor estilo Tarantino e os efeitos especiais são bem feitos na recuperação dos ferimentos. As cenas de luta são bem coreografadas e contam com um ótimo trabalho com dublês. Por outro lado, Merrick (Harry Melling) é um vilão bem clichê, representando as já clássicas indústrias farmacêuticas em busca de um produto, sem se importar com quantas pessoas precisam morrer para atingir este objetivo.
Andy age como uma mentora para Nile. A fuzileira é utilizada como um meio para apresentar a história do grupo e mostrar do que eles são capazes. Algumas histórias são interessantes, mas ficam apenas no imaginário: Brooker morreu lutando nas guerras napoleônicas. Já Nicky e Joe se conheceram nas Cruzadas. Com tanta experiência pra contar, tantas mortes, amores e guerras, o texto evita grandes explicações, abordando apenas o suficiente para que o espectador pense: “Uau, como eles são velhos”.
A obra até chega a abordar o lado negativo da imortalidade, como a tristeza ao ver as pessoas morrerem enquanto eles continuam iguais. Entretanto, são apenas cinco minutos de cena para um assunto que poderia ter uma melhor abordagem. Com a atenção direcionada para Andy, os outros personagens deixam de ter sua história desenvolvida.
“The Old Guard” tem boas cenas de ação, mas passa a impressão que ficou corrido demais para aparar algumas arestas no roteiro, além da simples adaptação. Sem contar que, sabendo que todos são imortais, as próprias cenas de ação perdem a sensação de possível perda. Com uma boa ponta solta na última cena, a obra tem potencial para uma possível continuação. Definitivamente, o que é imortal, não morre no final.