Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 13 de maio de 2020

Top Gun – Ases Indomáveis (1986): a necessidade da velocidade

Longa que lançou Tom Cruise de vez ao estrelato é inconsistente com sua previsibilidade do roteiro e sequências aéreas de tirar o fôlego.

Em 1986, um filme sobre pilotos da marinha americana se tornou a maior bilheteria do ano, resultando num dos primeiros grandes sucessos de venda para home vídeo e responsável por um aumento de impressionantes 500% de alistamentos de jovens para as forças armadas nos Estados Unidos. “Top Gun – Ases Indomáveis” catapultou Tom Cruise de vez ao estrelato mundial e conquistou a plateia com eletrizantes sequências aéreas.

Inspirado num artigo publicado na revista California, o filme gira em torno de Maverick (Cruise), que entra na escola para pilotos de elite com seu parceiro Goose (Anthony Edwards). O objetivo é treinar os alunos na arte de dogfight – onde um caça persegue o inimigo para derrubá-lo com tiros de metralhadora – já que o desempenho em geral vem deixando a desejar devido a uma dependência grande de mísseis. O melhor aluno será considerado o “top gun” da classe. Não demora para que o temperamento quente do protagonista entre em conflito com o aparente às da turma: Iceman (Val Kilmer).

Este filme é a prova de que um longa com uma boa dose de entretenimento consegue ter uma vida longeva nos corações dos fãs, mesmo que sua qualidade não seja, bem, top.

Maverick carrega o fantasma de seu pai, também piloto, que desapareceu durante um voo. A forma com que isso é trazido à tona funciona em alguns momentos-chave, mas carece do desenvolvimento necessário para criar uma conexão entre espectador e personagem. O trauma apenas aparece na trama quando conveniente para fazer a história andar e pouco faz pelo arco do protagonista. A rivalidade contra Iceman é gratuita e remete a adolescentes querendo se mostrar (talvez por isso tenha feito tanto sucesso entre jovens, que reconheceram o cenário), as cenas só rendem porque Cruise e Kilmer conseguem transmitir uma crível soberba babaca. O par romântico de Maverick e Charlie (Kelly McGillis) é previsível e óbvio demais e os atores fazem suas cenas de amor no automático.

Entretanto, é inegável que a rivalidade entre Maverick e Iceman é memorável e comentada até hoje. Mesmo com todas as suas falhas, chama a atenção quando os dois se bicam, é entretenimento besta, mas é impossível deixar de ver, seja por torcer por um deles ou só porque é inacreditável ver dois marmanjos passando vergonha no que só falta tirarem suas toalhas para um concurso de medidas.

Onde o filme realmente cativa e empolga é nas sequências aéreas de ação. Com câmeras montadas por dentro e por fora dos caças, a imersão nas cenas é imediata e a adrenalina é certa. Com o auxílio de pilotos reais e com os atores nos banco traseiros do cockpit, tudo é palpável e a sensação de perigo é real – ao mesmo tempo que engrandece a figura dos pilotos, em comando de manobras e situações audaciosas que desafiam a morte.

Com indicações aos Oscars de melhores efeitos visuais, som e edição, o longa se prova tecnicamente superior e justifica a conexão com o público, que saiu do cinema se sentindo pronto para pular dentro de um caça. Porém, é na categoria em que venceu a estatueta dourada em que o filme se destaca: Melhor canção original, com Take My Breath Away, da banda Berlin. Clássico da época, a música é apenas uma da ótima seleção usada ao longo da obra, contando com músicas novas como a ótima Danger Zone, de Kenny Loggins; clássicos como You’ve Lost that Lovin’ Feelin” e Great Balls of Fire; e Top Gun Anthem, um instrumental com uma guitarra memorável composta para o filme por Harold Faltermeyer. Tudo temperado por (vários) belos pores do sol alaranjados.

O longa se destaca pela disparidade da qualidade entre as cenas aéreas e terrestres. Alternando entre momentos bregas aqui embaixo e alta adrenalina lá em cima, o roteiro bastante previsível e cheio de clichês encontra em suas lindas coreografias de caças o seu valor, enaltecendo o duelo aéreo e dando ao público uma amostra do que estar em um. Um marco da geração oitentista de filmes, “Top Gun – Ases Indomáveis” transmite, de fato, a necessidade da velocidade.

Bruno Passos
@passosnerds

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