Baseada no livro de John Green, Lauren Myracle e Maureen Johnson, comédia romântica da Netflix é previsível e se sustenta no carisma do seu elenco.
O que esperar de um filme de Natal? Algo que deixe o coração quentinho, algo romântico, engraçado e que deixa uma sensação positiva no final? Antes de começar “Deixe a Neve Cair”, nova produção natalina da Netflix, é fácil saber o que vem pela frente e aquilo que já esperamos pela tradição. O longa-metragem é baseado no livro homônimo de John Green, Lauren Myracle e Maureen Johnson, contendo três contos natalinos, cada um escrito por um autor.
Dirigido por Luke Snellin, em sua estreia no cinema após trabalhos com curtas e séries de televisão, o filme conta a história de um grupo de jovens que mora na pequena cidade de Laurel, Illinois, nos Estados Unidos. Após uma nevasca na véspera de Natal, a região fica isolada, fazendo com que cada personagem tenha que resolver suas agonias até o final do dia. São várias tramas contadas de forma simultânea em apenas vinte e quatro horas.
No elenco, foram escolhidos diversos atores e atrizes que já fazem sucesso na própria plataforma de streaming: Kiernan Shipka (“O Mundo Sombrio de Sabrina”), Shameik Moore (“The Get Down”), Liv Hewson (“Santa Clarita Diet”), entre outros. É justamente o carisma deles que ajuda a manter a obra mais coesa.
Todas as histórias se juntam em um certo ponto: Addie (Odeya Rush) é uma jovem que tenta chamar a atenção do namorado enquanto coloca na balança sua amizade com Dorrie (Liv Hewson), que, por sua vez, busca encontrar uma solução para questões não resolvidas com Kerry (Ana Akana). Julie (Isabela Moner) conhece por acaso o famoso cantor Stuart (Shameik Moore), que a ajuda a tirar uma dúvida da cabeça: fazer uma faculdade em outro estado ou ficar na cidade cuidando da sua mãe doente?
Outro arco é o caso de Tobin (Mitchell Hope), que tenta se declarar para Angie (Kiernan Shipka) enquanto a garota é convidada por uma festa por JP (Matthew Noszka), criando um tipo de triângulo amoroso. Já Keon (Jacob Batalon) quer fazer uma festa para ser reconhecido como um promissor DJ.
O roteiro de Victoria Strouse (“Procurando Dory”) aborda com leveza alguns temas mais adultos, como a busca por uma carreira, a importância da autoconfiança e o risco da perda de um ente querido. A nevasca, que prende os personagens na cidade, é usada para obrigá-los a enfrentar os seus problemas de uma vez por todas. Na adolescência, é muito comum internalizar as aflições ao invés de resolver – nesse caso, a roteirista usa os questionamentos de cada personagem como uma forma de se relacionar com a vida de um jovem da mesma idade, não por acaso, o público-alvo do projeto. É comum o adolescente ampliar uma adversidade que, muitas vezes, pode ser solucionado com diálogo ou com simples mudanças. Mais uma prova de que a maturidade é construída com erros, acertos e novas experiências.
A narrativa, entretanto, possui momentos que parecem um pouco deslocados: um trecho musical bem brega, uma das perseguições mais lentas da história do cinema e uma cena em que Stuart e Julie descem a montanha nevada de trenó com um riso tão falso que é difícil de aceitar. Alguns dos clichês favoritos das comédias românticas também aparecem por aqui, como o clássico momento em que o casal é interrompido quando estão prestes a se beijar.
“Deixe a Neve Cair” utiliza a temática natalina como uma porta de entrada para o espectador ver o mundo pelo olhar juvenil. Na adolescência, os acertos e os erros ganham uma grandiosidade incomensurável. Com essa percepção, é fácil lembrar como já aumentamos dificuldades pequenas e diminuímos grandes vitórias quando jovens. Por mais óbvio e previsível que seja, a obra ainda assim consegue deixar uma sensação positiva no ar, parte da tradição da época do ano. O Natal tem uma magia que nenhum outro dia do ano tem: os problemas ficam menores que um grão de areia.