Com grandioso material, Peter Jackson utiliza a restauração de imagens e áudios da Primeira Guerra Mundial para conservar este doloroso período da existência humana.
Ao olhar para o passado, conseguimos aprender com os erros e criar um futuro mais digno. Seguindo este pensamento para criar “Eles Não Envelhecerão“, Peter Jackson restaurou diversos materiais sobre a Primeira Guerra Mundial (1914-18), incluindo gravações de áudio do Museu Imperial da Guerra, na Inglaterra, e mais de cem horas de vídeo que receberam cores quadro a quadro e foram sonorizadas e remontadas com uma perspectiva cronológica. Ao lado da violência, da política e da morte, o diretor neozelandês ressalta a humanidade entre as trincheiras.
A obra é narrada por veteranos de guerra que foram entrevistados para um material divulgado no final dos anos 60. Em meio a um exército de pessoas, o diretor decide contar pequenos trechos de histórias específicas de alguns combatentes, sempre unindo os relatos a um contexto. Com o recorte dos depoimentos, a imagem fica ainda mais rica, trazendo explicações de quem esteve no local sobre o odor de morte, os ratos, os gritos e as doenças que marcaram para sempre as memórias de cada um.
A propaganda para atrair soldados criava uma narrativa de entusiasmo para ir para a guerra. Jackson ressalta que a batalha contara com muitos jovens – diversos dos alistados eram adolescentes pálidos e magros entre 14 e 17 anos. Utilizando ilustrações da época, publicidade para alistamento e os áudios originais, a montagem imprime um ritmo rápido, destacando desde o início em que os civis passaram por um treinamento de seis semanas para se transformarem em soldados. Eram apenas jovens capturados pelo sentimento patriota da campanha militar e muitos deles pensavam que era somente mais um trabalho, que tudo terminaria em no máximo uns seis meses.
A restauração ajuda a entender algo óbvio e necessário: a violência da guerra causa traumas físicos e psicológicos. Ver o que os soldados presenciaram naquela época é de fato impactante – os detalhes dos kits pesados que cada homem precisava carregar, a desolação das trincheiras, o impacto ao ver a explosão de uma bomba, a primeira morte de um amigo, etc. A maior parte da programação destes homens era fora da batalha, enfrentando treinamento pesados, tempo de descanso, marcha por quilômetros até retornar para o front.
Saindo um pouco da violência, o diretor reserva um trecho do documentário para a explicação do lado cômico da guerra em tempos de calmaria, reforçando o áudio com risadas e vozerio em períodos de longas caminhadas e em acampamentos. Muito desse humor era consequência dos perrengues, gambiarras e improvisos que eram vistos como necessidade para sobreviver em um ambiente de caos.
Quase um milhão de soldados britânicos e do império entre 14 e 18 anos foram mortos na Primeira Guerra Mundial. Mais do que um documentário, Jackson ajuda a preservar a história. Todos sabemos o início, meio e o fim deste período da humanidade, mas a crueldade não pode ser esquecida.