Interessante premissa desperdiça chances de se tornar um filme realmente marcante e memorável, mas consegue entregar um longa de horror competente e divertido.
No interior do Kansas, um casal de fazendeiros que há muito tenta ter filhos se depara com uma pequena espaçonave recém caída na Terra, trazendo consigo apenas um bebê de aparência idêntica a dos humanos. Vendo a situação como uma benção, eles adotam o infante que logo demonstra ter poderes como invulnerabilidade, superforça, voo, visão de calor e de raio X. Até aqui, você pode estar pensando “ah, é a história do Superman”; mas você estará enganado, pois onde o kriptoniano desenvolve sentimentos de carinho e preocupação pela raça humana e assume o manto de protetor, o protagonista de “Brightburn – Filho das Trevas”, Brandon Breyers, é um sociopata mimado.
Sim, a premissa da história é imaginar o que aconteceria se o ser mais poderoso do planeta fosse mal. Tamanho poder nas mãos de um pré-adolescente facilmente o leva a acreditar que é superior aos outros. Como vilão, Brandon é puramente maligno desde o começo. Desprovido de emoções positivas, não se pode nem dizer que o poder o corrompeu, pois ele nunca foi bom.
O personagem principal é interpretado por Jackson A. Dunn (que fez a versão adolescente do Homem-Formiga numa rápida cena de “Vingadores: Ultimato”), e o ator é apenas funcional. Serve para a trama, mas há diversos momentos em que ele apenas está com a cara imóvel quando poderia estar representado algum nível de fúria e/ou desprezo.
Onde o filme diverte é no terror slasher e na ilustração gráfica da violência, que torna a experiência não só melhor para o gênero a que se propõe, como também ajuda na imersão do que seria um corpo humano sofrer efeitos de poderes desse nível. Não se trata de algo muito surpreendente ou revolucionário – a própria direção de David Yarovesky (“A Colmeia”) é bastante convencional e vários clichês do horror se fazem presente, como os famigerados jump scares, que felizmente não parecem gratuitos.
Com produção de James Gunn (“Guardiões da Galáxia vol. 2”) e roteiro de seu primo Mark Gunn e irmão Brian Gunn (ambos de “Viagem 2: A Ilha Misteriosa”), o filme brinca muito bem com a iconografia do Superman, seja em tomadas de locais facilmente relacionáveis ao Homem de Aço, ou em ângulos onde se vê um ser megapoderoso de capa vermelha esvoaçante em pose de “altivo”. Mas a brincadeira de subverter a imagem do herói diverte sem fazer chacota.
O filme peca mesmo ao perder oportunidades que poderiam transformá-lo em algo realmente memorável. Os pais do menino, por exemplo, apesar de bem interpretados por Elizabeth Banks (“Uma Aventura Lego 2”) e David Denman (“O Quebra-Cabeça”), mal passam por questionamentos morais ao se depararem com a realidade do filho. Ainda na comparação com Superman, o roteiro não se aprofunda em questões importantes e mais marcantes. O Homem de Aço chegou num Kansas do final da década de 1930, sofrendo com as consequências da Grande Depressão e um período de secas extensas, e acaba surgindo como um farol de esperança para a população. Brandon chega num Kansas economicamente frágil, com lugares tentando se reerguerem e a própria fazenda deixada de lado, ilustrando que o casal não conseguia extrair dela atividades mais financeiramente viáveis. O garoto aqui é o oposto, não há esperança , apenas morte, horror e destruição. É um paralelo intrigante, mas cuja superfície é apenas arranhada pelo texto.
Com uma premissa que provavelmente já passou pela cabeça de milhões de fãs do Superman, “Brightburn – Filho das Trevas” consegue entreter dentro de sua proposta com um filme de horror apenas convencional, mas que faz bom uso do gore e de boas atuações do casal principal para entregar um longa esquecível, porém divertido.