Em entrevista concedida ao The Daily Beast, o diretor Steven Soderbergh (“Logan Lucky – Roubo em Família”) expressou seu temor de que movimentos como o “Time’s Up“ e o “#MeToo“, que denunciam práticas de abuso sexual e reivindicam iguais condições de trabalho e remuneração para mulheres, levem os executivos de Hollywood à simplesmente deixar de escalar mulheres para suas produções:

“Meu medo é que, homens sendo homens, no futuro, em vez de alterarem seu comportamento, eles simplesmente parem de contratar mulheres. Em tudo. Em todo negócio, em toda parte da cultura. Como eu falei, conhecendo homens do jeito que eu conheço, eu acredito que, para muitos deles, essa será a reação inicial, ao invés de reavaliar como se comportaram. Será simplesmente: ‘não vamos contratar mulheres porque, você sabe, elas falam'”.

Entretanto, o cineasta ressaltou que, caso a situação realmente chegue a tal ponto, dificilmente será uma tendência que perdurará à longo prazo:

“Com o tempo, essa será uma jogada ruim. Isso porque a diversidade vence em todas essas situações. Se você se tornar uma empresa que, por exemplo, decide, tácita ou explicitamente, contratar menos mulheres porque você não quer ter nenhum problema, você será derrotado por outras empresas que continuam a contratar mulheres, porque elas acabarão tendo resultados melhores”.

Soderbergh ainda pontuou que será interessante acompanhar o desenvolvimento dessa questão, e manifestou sua esperança de que logo o debate deixe de ser apenas sobre o assédio sexual e passe a abordar todas as formas de comportamento abusivo:

“Será interessante ver onde ficará o novo equilíbrio e se isso vai ou não se expandir para além da discussão do assédio, para um debate mais geral sobre pessoas que são idiotas. Porque existem muitas delas por aí. Após isso começar a tomar uma forma que indique que as coisas estão se estabelecendo, eu adoraria ver uma discussão sobre comportamento abusivo em geral que não tenha nada a ver com assédio sexual, mas simplesmente sobre mau comportamento”.

A onda de acusações contra abusadores em Hollywood teve início em outubro de 2017. Entre os casos, destacam-se o do produtor Harvey Weinstein, que foi expulso do sindicato dos produtores após as denúncias; o diretor James Toback (“Nunca Fui Amada”), denunciado por mais de 300 mulheres; o diretor Brett Ratner (“Hércules”), que foi acusado por seis mulheres; o ator Kevin Spacey, que foi demitido do seriado “House of Cards“ após ser denunciado de abusar de membros da produção; e o diretor Bryan Singer (“X-Men: Apocalipse“), acusado de estuprar um jovem de 17 anos em 2003.

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