Quando a proposta é falar sobre guerra, não tem como suavizar. Seja para fazer o público rir ou se sentir incomodado, é preciso saber como abordar o tema sem ser muito superficial. “War Machine” chega muito perto, mas peca pela falta de identidade.
O filme nos apresenta o general Glen McMahon (Brad Pitt), responsável pelas forças dos Estados Unidos no Afeganistão durante a guerra no pós 11 de setembro. Seu objetivo ali é livrar o país do Talibã e convencer a população de que o que ele mesmo acredita é o melhor para todos.
A guerra é um acontecimento extremamente irônico. Ao mesmo tempo que ela acompanha a história da humanidade, poucas coisas são tão terríveis e deixam marcas tão profundas quanto um conflito armado entre duas ou mais nações. Por mais que nos esforcemos, parece que estamos fadados e nunca vencê-las. Talvez por isso retratar uma guerra no cinema nunca foi tarefa fácil. Existem alguns bons exemplos que se mantém atuais ainda hoje, mas existem inúmeros casos de filmes que escorregam em tentativas de criar novos conceitos. “War Machine” está bem no meio dos dois.
O longa é uma adaptação do livro “The Operators: The Wild and Terrifying Inside Story of America’s War in Afghanistan” com diversas liberdade narrativas. Durante todo o filme, o que o diretor David Michôd (“The Rover – A Caçada”) tenta construir é uma sátira da forma como os Estados Unidos se apresentam como os salvadores de todas as nações, mesmo que, na maioria dos casos, eles não saibam exatamente de quem (o de que) salvar.
Brad Pitt (“Aliados”) entrega um general estereotipado e com trejeitos muito peculiares (como na forma como ele corre em cenas que são repetidas diversas vezes para reforçar essa ideia) e consegue convencer muito bem. A exemplo de papéis semelhantes em filmes como “Bastardos Inglórios” ou “Queime Depois de Ler”, Pitt consegue criar um personagem caricato, divertido e bem desenvolvido. A cada cena, as motivações de McMahon são compreensíveis, às vezes ingênuo, principalmente com relação ao presidente dos Estados Unidos, em outros momentos com excesso de confiança. É a motivação dele que carrega o filme.
A necessidade de se apoiar em Brad Pitt o tempo todo torna aos demais personagens rasos, pouco desenvolvidos. É possível entender o que cada um está fazendo ali, mas suas motivações nem sempre são justificadas ou exploradas. Quem se destaca nesse ponto é Lakeith Stanfield (“Corra!”) que entrega um fuzileiro naval que não consegue entender os objetivos de McMahon. Para ele, só há um objetivo, ir para a guerra, usar armas e acabar com o mal.
Outra personagem que tem um bom aproveitamento é Meg Tilly (“O Monstro Dentro de Você”), a esposa do general McMahon. Seu papel coadjuvante é reforçado a cada cena que ela se mostra infeliz por saber que a realidade não permite que ela tenha uma vida de casal como gostaria. Há uma necessidade e desenvolvê-la rápido demais para reforçar essa ideia, mas Tilly sabe como usar cada segundo do tempo para demonstrar que, apesar de aceitar o papel do marido, a vida que ela gostaria de ter era outra.
O principal problema de “Máquina de Guerra”, entretanto, está na falta de identidade do filme ao não se reconhecer de forma sólida. O diretor David Michôd tenta criar um drama, mas o filme se destaca mais pelas cenas cômicas. Ao tentar criar uma sátira da guerra o diretor tenta unir os elementos dramáticos e divertidos, mas falta uma identidade. Em determinados momentos é difícil dizer se você está vendo uma comédia ou um drama. Não seria um problema, caso o filme soubesse seguir uma linha, mas a oscilação constante pode mais confundir o público do que motivar.
No final, o que vemos é um bom filme, com um Brad Pitt dedicado e divertido, mas que teria potencial para ser algo muito maior. De certa forma, parece que Michôd estava tão empenhado em entregar um ótimo filme de guerra, quanto McMahon estava interessado em acabar com a guerra. Ambos pecam por não compreenderem o quão grande são suas respectivas missões.